Mais da metade das cidades de MG têm grau alto ou extremo de vulnerabilidade climática

Mais da metade das cidades de Minas Gerais (62%) possuem um grau alto, muito alto ou extremo de vulnerabilidade climática. É o que revelam os dados do Índice Mineiro de Vulnerabilidade Climática (IMVC). Há dez anos, o percentual de municípios era 52% – 444 com grau alto, muito alto ou extremo de vulnerabilidade ou extremo de vulnerabilidade.
As informações são da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), que explica que o IMVC considera eventos climáticos em sua probabilidade e magnitude e a capacidade dos municípios de gerir essas situações. A Semad esclarece que o índice foi criado justamente para monitorar a situação e, em si, já é um avanço.
A pasta informou ainda que entre problemas mais graves estão os altos grau de exposição geral e de sensibilidade às mudanças climáticas, associados à baixa capacidade adaptativa geral às mudanças climáticas.
Antoniel Fernandes, geógrafo e professor dos Departamentos de Geografia e Ciências Biológicas da PUC Minas, analisa que ter mais da metade do Estado com IMVC em grau alto a extremo significa que a situação ambiental é grave com baixa capacidade de resposta. Fernandes contextualiza que Minas Gerais é muito grande e as vulnerabilidades ambientais devem ser vistas de forma regional, sendo possível identificar três principais: seca no Norte, Vale do Jequitinhonha e parte do Vale do Mucuri; chuva extrema no centro-sul do Estado, capital e RMBH, ondas de calor em todas as regiões.
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“Todas essas vulnerabilidades ambientais se tornaram gravíssimas pela intervenção desordenada do homem no meio ambiente e, até hoje, a ação do Estado foi insuficiente para resolver o problema. O resultado é que a maioria dos municípios mineiros expostos aos riscos tem pouca estrutura, recursos financeiros e estruturais para atuar em caso de forte temporal ou em secas drásticas. O IMVC mostra o que já está previsto que pode acontecer. A pergunta é quando ocorrerá e como atuaremos?”, aponta o geógrafo.
A Semad explica que, além do monitoramento permanente, são feitas ações para a gestão climática em todo o território para a redução das vulnerabilidades climáticas. E destaca como principais, a Plataforma Selo Verde para rastrear a produção e monitorar as práticas de plantio sustentável no campo; o programa Minas contra o Desmatamento que, em 2023, aumentou em quase 20% a quantidade de fiscalizações em comparação ao ano anterior, e as iniciativas de prevenção voltados para os setores produtivos como indústria e agricultura.
O especialista Antoniel Fernandes lembra que, mesmo com todas as medidas tomadas, ainda são recorrentes danos causados por chuvas fortes em Belo Horizonte e Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) como em Juatuba, Esmeraldas e Ibirité, por exemplo. A seca e crise hídrica se agravam no Norte e Vale do Jequitinhonha. E em todo Estado, as sensações de ondas de calor seguem mais fortes e frequentes.
“É visto que o Estado toma medidas, mas a situação de vulnerabilidade climática ainda é preocupante. Entendo que falta intersetorialidade das políticas públicas do Estado e nas cidades. E os segmentos envolvidos como agropecuário e industrial deixam de cumprir a própria lei sendo que poderiam fazer até mais”, alerta.
Parceria com a França
A Semad explica também que o Estado retomou uma parceria exitosa com a França no intuito de desenvolver ações para a redução das vulnerabilidades climáticas. É o Projeto Clima na Prática, que tem como foco alavancar a conformidade climática dos municípios.
Renata Araújo, superintendente de Qualidade Ambiental e Mudanças Climáticas da Semad/MG, explica que todos os esforços têm sido feitos para a mitigação dos danos: “Em 2024, retomamos o Projeto Clima na Prática e atuamos juntos aos municípios da região do Norte de Minas, Zona da Mata e Leste mineiro, de modo a prestar apoio técnico às localidades com maiores índices de vulnerabilidade climática, seja em razão da baixa capacidade adaptativa, da alta exposição e alta sensibilidade aos efeitos climáticos. Além do suporte técnico, o projeto prevê a realização de oficinas nas demais regiões do Estado até o final do segundo semestre.”
A superintendente informou também que em consonância com o aprimoramento permanente que as mudanças climáticas demandam, a Semad fez atualizações no IMVC que foram lançadas na terça-feira (4) no sistema e vão ajudar no direcionamento das políticas públicas de competência estadual.
Investimentos não são mensurados
Já em relação aos investimentos específicos para resolver o problema, a superintendente de Qualidade Ambiental e Mudanças Climáticas da Semad/MG, Renata Araújo, informou que esse controle não é feito: “É difícil mensurar isso, pois muitos programas estão embutidos em diversos orçamentos, que não são separados como orçamento para mudanças climáticas, mas seria preciso separar os investimentos por secretaria e por município. Esse trabalho de compilação ainda não foi feito”.
Já o geógrafo e professor dos Departamentos de Geografia e Ciências Biológicas da PUC Minas, Antoniel Fernandes, destaca que o investimento, assim como o controle de recursos e suporte do Estado como em projetos como o Clima na Prática, são fundamentais. No entanto, os municípios precisam planejar políticas próprias frente a sua realidade e compete à gestão municipal executá-las e buscar recursos, contando com o apoio do Estado e da União.
O professor lembra, ainda, que a sociedade também precisa se informar e se engajar. “A situação mineira é grave e exige que todos entendam, debatam e construam soluções eficientes urgentemente para que a democracia climática se estabeleça. Todos somos responsáveis pelas alterações no ambiente e devemos estar juntos pela sua recuperação. Isso começa com o despertar de uma consciência que a adaptação de modos de viver e de produzir se faz necessário”.
DOA MG – ENGAJAMUNDO
O Engajamundo é uma organização de liderança jovens para enfrentar os problemas ambientais e sociais do Brasil e do mundo. Desde 2012, os Núcleos Locais reúnem-se para discutir e planejar ações, projetos e campanhas sobre pautas socioambientais. Presente em 20 cidades brasileiras, incluindo Belo Horizonte e outros municípios mineiros, o Engajamundo tem projetos e ações executadas de forma articulada e em rede, normalmente, com a participação de mais de um Núcleo Local.
Saiba mais: https://engajamundo.org
Colabore: https://www.catarse.me/engajamundo
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