Metas realistas e lucro como prioridade são essenciais para ESG voltar a seduzir investidor

São Paulo – Empresas devem deixar claro que o lucro é prioridade para recuperar investidores que se afastaram de iniciativas ESG (sigla em inglês para critérios ambientais, sociais e de governança) após desempenhos abaixo do esperado, dizem especialistas.
A sigla enfrenta momento de impopularidade no mercado financeiro. A BlackRock, maior gestora de ativos do mundo, reduziu de 47% para 4% seu apoio a iniciativas ligadas a ESG apresentadas por seus acionistas nos últimos quatro anos. Em junho de 2023, o CEO Larry Fink afirmou que havia parado de usar o termo devido à politização que teria sido construída ao redor do conceito.
Metas sustentáveis continuam na mesa de negociação, mas novos aportes demandam objetivos mais realistas e alinhados com o modelo de negócio de cada companhia, dizem economistas.
“Os investimentos que saíram do ESG foram para a diversificação”, afirma o economista Jason Vieira. Para ele, certificações ESG não são garantia de que as empresas têm postura sustentável – a qual se manifestaria por diversas práticas desconsideradas por premissas da sigla.
O conteúdo continua após o "Você pode gostar".
Incertezas no cenário macroeconômico dos últimos anos também reduziram as exigências investidores em troca de de rentabilidade, de acordo com Marcos de Vasconcellos, assessor de investimentos e colunista da Folha.
“A nova regra para investir é tudo que dá lucro”, diz.
Especialistas divergem sobre a existência de uma “moda da vez” que possa estar ajudando a drenar atenções e dinheiro de iniciativas ESG. Se, por um lado, a inteligência artificial (IA) é nova sigla no centro das atenções das companhias, a chegada da dessa tecnologia nas empresas tem objetivos e impactos distintos dos que tiveram as metas alinhadas à sustentabilidade.
“IA é focado em dar retorno. ESG não foi um negócio para gerar receita, foi um filtro a mais para investir, foi para posicionamento institucional”, diz Vasconcellos.
O professor de economia na USP Paulo Feldman, por sua vez, acredita que ESG e IA se beneficiaram, cada um em seu momento, de uma superexposição que ajuda a valorizar investimentos com poucos critérios objetivos.
“É só você verificar onde os consultores estão ganhando dinheiro. Há 10 anos, era preparar as empresas para ESG. Agora, a nova moda é preparar as empresas para IA”, afirma Feldman.
A insipiência do mercado ESG no Brasil faz com que o impacto da situação para investidor brasileiro médio seja restrito.
Dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) mostram que fundos de Investimento Sustentável (IS) – com sustentabilidade como foco principal – e fundos que integram questões ESG – que apenas consideram esses aspectos em sua gestão, sem que sejam o objetivo central -, somados, não chegam a 1% da indústria de fundos no Brasil.
O valor era 0,2% em 2022 e chegou a 0,6% em 2024.
“Antes de ter perda de apetite pelo ESG, tem que começar a ter o apetite. Somos uma pequena fatia, mas o movimento é crescente”, diz Victor Natal, diretor de ESG Research do Itaú BBA.
A performance acumulada da Carteira ESG do Itaú desde a sua criação, em janeiro de 2024, é de -13%,
ante um desempenho do ISE (indicador das cotações de empresas ligadas à sustentabilidade feito pela B3) de -6%, segundo relatório do Itaú publicado em julho.
“Pesquisas mostram que ESG dá retorno, mas no longo prazo. No curto prazo é mais difícil de mostrar”, diz Vieira.
A diferenciação feita pela Anbima desde janeiro de 2022 entre os IS e fundos que integram questões ESG é vista como positiva por especialistas.
“Quando identificados os fundos de forma correta, começamos a ver um crescimento importante. Ainda é um investimento nichado, então estamos focando no letramento de investidores e dos próprios gestores para eles terem maior compreensão do que é o produto”, diz Cacá Takahashi, diretor da Anbima e coordenador da Rede Anbima de Sustentabilidade.
Reportagem distribuída pela Folhapress
Ouça a rádio de Minas