Sustentabilidade

Minas pode contribuir para a redução do efeito estufa com restauração da vegetação

De acordo com estudo divulgado pela UFMG, 6,14 milhões de hectares de vegetação secundária podem passar por uma restauração
Atualizado em 12 de novembro de 2024 • 14:46
Minas pode contribuir para a redução do efeito estufa com restauração da vegetação

Em uma pesquisa que começou neste ano, um grupo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) levantou dados e chegou à estimativa de que Minas Gerais tem mais de 6 milhões de hectares de pastagens degradadas disponíveis para restauração da vegetação, o que pode contribuir para a redução dos gases do efeito estufa.

O estudo vem alinhado com as diretrizes nacionais de redução da emissão de gases de efeito estufa (GEE), em grande parte vinculadas a acordos internacionais firmados pelo Brasil.

Minas Gerais aderiu voluntariamente, em 2021, à iniciativa global Race to Zero, com a intenção de neutralizar as emissões líquidas até 2050. No ano seguinte, a Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam) lançou um plano de ação que inclui metas de reflorestamento para mitigação do efeito estufa e destacou o setor de agricultura, florestas e outros usos do solo (Afolu) como o maior emissor de GEE, responsável por 51% do total do estado em 2019.

De acordo com a pesquisadora Sofia Corradi Oliveira, primeira autora do trabalho, a análise foi exposta num policy brief, que se trata de um estudo mais curto, com metodologia mais prática, cujos resultados têm potencial para chamar a atenção de tomadores de decisões e incentivar pesquisas mais aprofundadas sobre a restauração da vegetação influenciando na redução do efeito estufa.

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“Este tipo de pesquisa pode dar início a novas discussões, a novos estudos, novas formas para aprofundar as ferramentas, informações e planos já existentes. Para a apresentação, mapeamos, dentro do cenário de Minas Gerais, quais são esses compromissos e metas assumidas para reduzir o efeito estufa”, explica ela.

Sofia é doutoranda do Programa de Pós-graduação em Análise e Modelagem de Sistemas Ambientais da UFMG e trabalhou com o seguinte grupo no estudo:

  • a mestranda Ana Carolina Caetano Rocha da Oliveira,
  • o pesquisador de pós-doutorado Argemiro Teixeira Leite Filho,
  • o doutor em geoquímica, Libério Junio da Silva, vinculado ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe),
  • e com o professor do Instituto de Geociências (IGC), Britaldo Soares Filho.

Reconhecendo a importância e partindo do pressuposto da urgência de pôr em prática estratégias de mitigação e adaptação, o grupo de pesquisadores vinculados ao Centro de Sensoriamento Remoto (CSR) do IGC da UFMG desenvolveu o estudo estimando a disponibilidade, em Minas Gerais, e chegando ao montante de 6,14 milhões de hectares de pastagens degradadas que poderiam passar por uma restauração e reduzir os impactos do efeito estufa.

Essa área, com vegetação ainda degradada, contribuiria significativamente para a meta de 12 milhões de hectares, em todo o Brasil, estabelecida pelo Plano Nacional de Recuperação de Vegetação Nativa (Planaveg). A projeção é que será possível sequestrar, apenas no Estado de Minas Gerais, 170 megatoneladas (Mt) de CO2 em 2050.

Como os pesquisadores explicaram no policy brief recém-publicado pelo CSR, o cálculo da captura potencial de carbono para o subsetor Afolu de mudança do uso da terra e florestas, foi conduzido focando no incremento da vegetação secundária para revisitar a estimativa das áreas aptas para a restauração de vegetação nativa em Minas Gerais, incluindo todo o limite de áreas de pastagens degradadas.

A restauração de vegetação nativa foi então dividida em dois métodos de recuperação:

  • método passivo (regeneração natural espontânea ou assistida),
  • ou ativo (práticas intervencionistas), com base em mapeamento espacial da favorabilidade de regeneração natural

O estudo estima que podem ser restauradas as seguintes áreas dos biomas:

  • Cerrado (3,53 milhões de hectares),
  • Mata Atlântica (2,57 milhões de hectares)
  • e Caatinga (40 mil hectares).
Segundo o estudo da UFMG, o Cerrado está entre os biomas que podem ser restauradas Foto: Adobe Stock

O texto divulgado pelo Centro de Sensoriamento Remoto ressaltou que a projeção de sequestro de 170 Megatoneladas de CO2 em 2050 supera, em 16 vezes, o que se estima em medidas de mitigação projetadas.

Mas chegar lá exige vencer grandes desafios, como garantir a permanência da vegetação restaurada e mecanismos de pagamento por serviços ambientais, assim como a integração de métodos de restauração com sistemas agrícolas para agregar valor econômico.

“Embora seja crucial para a mitigação, a restauração deve fazer parte de uma estratégia mais ampla que inclua eficiência energética e avanços tecnológicos”, diz nota do CSR, que destaca também que “o sucesso da condução de Minas Gerais ao Net Zero [metas de emissões líquidas zero] depende de planejamento abrangente e coordenação intersetorial, apoiados por estimativas de emissões futuras e alinhados com os objetivos do Plano Clima nacional. Ações imediatas envolvendo formulação de políticas, engajamento comunitário e mecanismos financeiros são vitais para alcançar essas metas de restauração”.

Segundo Sofia, só de pastagens degradadas em Minas Gerais, são mais de 6 milhões de hectares distribuídos entre os três diferentes biomas. “É um compromisso ousado chegar nesse Net Zero. Sabemos que temos que envolver outros setores, não apenas nessa mudança de uso do solo”, afirmou.

As pastagens degradadas em Minas Gerais somam mais de 6 milhões de hectares distribuídos entre os três diferentes biomas Foto: Ricardo Moraes/Reuters

A pesquisadora considera que esse estudo também mostra que há uma complexidade, tanto no cálculo, quanto de ser colocado em prática, mas acredita que é possível que as políticas e as metas possam ser tão ousadas quanto esse compromisso de Net Zero.

Porque não adianta ter um compromisso se a gente realmente não está explorando essa capacidade de uma forma que seja possível viabilizar os estudos que são feitos”, pondera.

Mas, Sofia aponta que essa vegetação demora a atingir um estado de maior maturidade e que durante esse crescimento ela vai fazendo a captura do carbono. “Por isso temos que iniciar o quanto antes, justamente porque demora. É uma área grande e sabemos o planejamento que envolve, mas que deveria começar o quanto antes, inclusive o planejamento de como usar essas áreas para poder considerar nesse cálculo o balanço de carbono”, avalia.

Ainda de acordo com ela, em algumas áreas seria possível atuar com intervenções mínimas, seja um cercamento ou controle de queimadas da vegetação, o que já propiciaria a regeneração da vegetação. Porém, em outras áreas, talvez pelo estado de degradação ou por não ter proximidade com a vegetação remanescente, serão necessárias outras intervenções, sejam elas plantio de mudas, dispersão de sementes ou, até algum tratamento específico no solo.

“São técnicas que, às vezes, seriam utilizadas em um terreno com capacidade de regeneração natural muito baixa. Cerca de 4,5 milhões de hectares demandariam esse método ativo, com uma intervenção maior. E cerca de 1,6 milhão de hectares seria pelo método passivo, com mínimas intervenções e mais acompanhamento”, explica a pesquisadora.

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