Sustentabilidade

Pesquisadores da UFMG e da Unimontes descobrem múltiplas florestas no percurso do Rio Doce

Estudo revela que matas ao longo das cidades atingidas pelo rompimento da barragem de Mariana são diversas e exigem estratégias 'personalizadas' de preservação
Pesquisadores da UFMG e da Unimontes descobrem múltiplas florestas no percurso do Rio Doce
Diversidade caracteriza a vegetação que margeia a bacia do Rio Doce | Crédito: Arquivo LEEB

Desde o rompimento da barragem de Fundão, em 2015, em Mariana, na Região Central de Minas, diversas iniciativas de restauração da bacia do Rio Doce foram empreendidas. A mais recente delas é o resultado de um levantamento para fornecer subsídios para a restauração da vegetação e promoção da sociobiodiversidade na região, realizado por pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes).

O mapeamento das florestas e espécies de plantas ao longo do trecho de Mariana até a foz do Rio Doce é essencial para a restauração da vegetação. O estudo, iniciado em 2017, revelou a existência de múltiplas florestas ao longo do Rio Doce, cada uma com suas características únicas.

A pesquisa avaliou a qualidade do solo, a composição da vegetação e da paisagem ao longo do rio, destacando a diversidade e a importância das matas que o margeiam. Os resultados indicam que as matas se diferenciam em até 99% de um ponto a outro, ressaltando a necessidade de estratégias de restauração adaptadas a cada local.

Além disso, o estudo revelou a complexidade dos projetos de restauração em toda a bacia do Rio Doce, considerando a diversidade de solos e suas influências na vegetação. Essas descobertas são cruciais para promover uma restauração eficaz e sustentável na região.

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“Desde que partimos de Mariana, seguindo o rio, encontramos muitos tipos de florestas, cada uma com suas singularidades e com suas espécies únicas. Esse resultado tem amplo significado aplicado, pois indica que os projetos de restauração precisam reproduzir esses múltiplos ambientes, com um grupo robusto de espécies”, afirma a pesquisadora do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG, Letícia Ramos, primeira autora do artigo.

Financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) e a Fundação Renova, com apoio do Centro de Conhecimento em Biodiversidade (INCT/CNPq), a pesquisa representa um avanço significativo no entendimento e na preservação da bacia do Rio Doce.

Diferenças na vegetação 

O rio possui uma grande extensão atingida, que compreende 663 km desde o epicentro do rompimento da barragem até o mar. Além disso, fatores como a diversidade significativa de espécies, desafios impostos pela pandemia e restrições de recursos, conferiram ao processo de mapeamento um tempo considerável para ser concluído.

Os resultados revelaram o que os pesquisadores já desconfiavam: existem múltiplas florestas ao longo do Rio Doce. As matas que margeiam o Rio Doce, de Minas Gerais até o mar do Espírito Santo, regulam os fluxos de água e garantem segurança hídrica para milhões de pessoas. 

Em cada setor do rio, que percorre 11 municípios, foram identificadas matas completamente diferentes umas das outras, com apenas 1% das espécies compartilhadas. Uma elevada diversidade de espécies adultas ou ainda em mudas foi encontrada em apenas um local.

“Finalmente temos ecossistemas de referência definidos que servem de base para projetos de restauração. Os resultados dessa pesquisa podem reduzir significativamente o risco de plantarmos um tipo único de floresta do início ao fim do rio, mitigando assim os impactos causados pelo rompimento da barragem de mineração”, comenta o professor Geraldo Wilson Fernandes, coordenador da pesquisa. 

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