UFMG desenvolve ferramenta para monitoramento e prevenção de incêndios no Cerrado

Com a chegada de agosto, também se aproxima a época de mais baixa umidade do ar e de maiores possibilidades de incêndios florestais nos biomas do País, que requerem ações efetivas para a preservação da fauna e flora. Uma dessas ações acaba de ser lançada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG): o “Projeto Monitoramento Cerrado“, ferramenta cujo objetivo é monitorar, em tempo real, o comportamento do fogo no bioma, além de calcular dados importantes sobre os pontos de calor e as queimadas florestais.
O projeto foi criado no Centro de Sensoriamento Remoto do Instituto de Geociências (IGC) da UFMG e realizado por meio do Forest Investment Program (Fip), em parceria com a Universidade Federal de Goiás (UFG) e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
O novo sistema está disponível para uso público das brigadas de incêndio, das entidades de conservação ambiental e da sociedade. Para órgãos que atuam na preservação ambiental, o sistema ainda opera com resolução maior, para garantir a melhor visualização das informações apresentadas.
Os dados relacionados a fatores como a umidade da vegetação, a intensidade e direção do vento, e a inclinação do solo são enviados para satélites e administrados pelo Centro de Sensoriamento Remoto.
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A partir deste processo, a previsão de espalhamento do fogo é apresentada no sistema, bem como o possível raio de alcance dos incêndios na área do Cerrado.

Segundo o professor e pesquisador do projeto Ubirajara de Oliveira, a iniciativa teve início em 2018, como um projeto anunciado pelo Banco Mundial para estabelecer uma linha de ações efetivas, com a finalidade de preservar o Cerrado brasileiro, inclusive contra incêndios.
“O desafio foi criar um modelo que fosse capaz de realizar predições de espalhamento do fogo, mas em tempo quase real. Porque o que o Centro de Sensoriamento Remoto já havia desenvolvido, eram modelos similares a esse para a Amazônia, mas com finalidade muito mais acadêmica, porque ele não era em tempo real”.
Para elaborar a ferramenta, Oliveira relembra que diversos trabalhos científicos sobre o comportamento do fogo foram selecionados para serem integrados ao modelo.
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“Criamos uma plataforma on-line para que pudesse ser acessível a todos de forma gratuita e pública e demos treinamentos para unidades de conservação poderem utilizar essa ferramenta, e brigadas de incêndio também, tanto na prevenção quanto no combate de incêndio”, afirmou.
Apesar das vantagens do sistema, o pesquisador reitera que o modelo pode receber melhorias, uma vez que, para o Cerrado como um todo, a plataforma apresenta uma resolução espacial em um pixel equivalente de 500 metros, que, embora seja útil, não é o ideal, pois as entidades de conservação podem observar os dados na plataforma, em uma resolução de maior qualidade. A partir disto, um dos objetivos futuros é fazer com que todas as áreas do bioma possam ser observadas com a maior qualidade possível.
Outro ponto que já está sendo trabalhado, segundo o pesquisador, é a possibilidade de disponibilizar o modelo para ser usado em outros biomas do Brasil, principalmente nas regiões do Pantanal e Amazônia, que sofrem anualmente com incêndios florestais.
Mudanças climáticas preocupam e motivam
O cenário das mudanças climáticas foi um ponto preocupante durante a elaboração do Projeto Monitoramento Cerrado, mas também serviu de motivação para criar a ferramenta e continuar aprimorando suas funções.
“Estávamos vendo um contexto de que a cada ano a gente observa que a estação, que são esses arcos dos incêndios, não só se torna maior no sentido de tempo, ela começa geralmente mais cedo, se estende mais, a gente viu essa tendência ao longo do tempo e essa era uma preocupação nossa”, disse Oliveira.
“Constatamos, por meio de dados históricos, que de fato estava não só aumentando a frequência dos incêndios no Cerrado, como também estava aumentando a intensidade deles. Fizemos projeções disso em cenários de mudanças climáticas, e o que vimos, foi um cenário muito complicado para todos os biomas brasileiros”, complementou.
De acordo com o pesquisador, um novo artigo está sendo elaborado pela equipe do IGC, em que uma das vertentes está ligada aos riscos de incêndio, que pode se tornar mais frequente no futuro, além de prejudicar em larga escala a biodiversidade brasileira e impactar o meio ambiente em curto prazo.
“Como o clima mudou, o comportamento do fogo mudou. Então, aquilo que para a pessoa era muito seguro, ‘vou pôr fogo aqui no meu lote, daqui a pouco ele apaga e pronto’, com a mudança climática, o fogo perde o controle. E, perdendo o controle, pode ter o risco de um incêndio em grandes proporções”, conclui Oliveira.
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