Digitalizando na capital dos bares: Como a IA tem ajudado comerciantes de BH?

O dia começa cedo para João Waldomiro Sobrinho, proprietário de um negócio do ramo de pizzaria no bairro Buritis, região Oeste de Belo Horizonte. Antes mesmo de o sol nascer, a voz da Alexa já adentra sua rotina. Com recursos de compartilhamento da agenda do Google, a assistente virtual dá o recado. “Bom dia, João! Hoje a previsão do tempo é de sol com algumas nuvens, e a temperatura máxima será de 28 graus. Você tem uma reunião com o fornecedor às 9h, e não se esqueça de revisar o estoque de queijos”.
O empreendedor agradece e vai preparar o café. Ainda com a ajuda da Inteligência Artificial (IA), ele organiza a planilha de custos da empresa. Enquanto se arruma para trabalhar, a Alexa fica encarregada de sua playlist favorita de músicas.
Ao chegar à pizzaria, a IA continua presente em cada canto. “Eu sempre trabalhei com tecnologia e, principalmente, com programação por quase 14 anos. Com essa experiência, criamos um sistema onde eu direcionava os pedidos para outra unidade que eu tinha. Porém, com um software de IA, instalamos um chatbot que já faz todo o atendimento e direciona para essa unidade. Com isso, ganhamos tempo pra fechar o pedido, receber e fazer a entrega”, explica.
Em números, João ainda não consegue mensurar o crescimento do negócio utilizando IA, mas afirma que a ferramenta contribuiu para reduzir despesas e tempo. “Eu tinha duas atendentes que ficavam só por conta de atender, receber chamadas, ver mensagens no WhatsApp e fechar os pedidos que costumavam levar vários minutos para serem finalizados. Agora eu direciono todo o meu operacional na cantina e na entrega, poupando tempo no atendimento”, diz o empreendedor.
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A empresa só recebe notificações quando há um pedido na fila com compra paga por Pix, cartão de crédito ou de débito. “Muito parecido com a maneira com que o iFood funciona”, explica João, que não trabalha com a gigante de entregas, o que também ajuda a reduzir os custos.

Pequenos negócios investem em inovação
De acordo com pesquisa do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) em Minas Gerais, que traça um raio-x sobre a inovação no Estado, foi identificado que 59% das empresas mineiras passaram por algum processo de inovação em 2022, o que inclui recursos digitais como a IA. Destas, 70% são pequenas empresas.
O estudo também mostra que as microempresas representam 64% do volume de negócios que investem em tecnologias, e que os microempreendedores individuais correspondem a 54% neste setor. No panorama geral, os setores de Indústria e de Serviços foram os que mais se destacaram em inovação, com taxas de 62% e 61%, respectivamente.
Quando se escuta falar em robôs, muitos ainda podem pensar em humanoides e super máquinas mas, na verdade, são sistemas. Ou seja, programas treinados para executar alguma tarefa, processo conhecido como aprendizado de máquina. E já tem até empreendedor mineiro aproveitando para oferecer consultorias de uso de IA para micro e pequenos empreendedores (PMEs).
A professora Maria Beatriz Gonçalves, de Juiz de Fora, na Zona da Mata, é uma delas. Ela deixou a sala de aula na pandemia para realizar cursos de especialização e compartilhar seu conhecimento após ter criado planos de consultoria personalizada com foco em tecnologia.
“Esse mercado está pedindo profissionais da tecnologia da informação e também pessoas que dominem a utilização de ferramentas de Inteligência Artificial, independentemente do segmento em que atuam, seja tecnologia, gestão, comércio, varejo ou até mesmo na área de saúde. Toda essa procura está bem intensificada, principalmente, na parte de desenvolvimento de software“, afirma a consultora.
Inteligência Artificial pode garantir maior competitividade
O especialista em tecnologia e fundador da empresa Mercado Único, Lucas Rolim, explica que uma das vantagens de implementar a Inteligência Artificial dentro de um negócio é que a tecnologia pode beneficiar a gestão financeira e os investimentos. Isso permite, por exemplo, a otimização do empreendimento e a redução de custos.
Segundo ele, tendo uma ferramenta de IA, o empreendedor pode lucrar mais e gastar menos tempo com processos e operacional. “O pequeno negócio ou pequeno produtor que souber aproveitar a oportunidade para utilizar a IA, com certeza, vai sair na frente”, analisa.
Para Lucas Rolim, o micro e pequeno empreendedor terá em mãos todos os insumos para a tomada de decisão. A análise de dados pode ser ainda mais interessante se for mediada por ferramentas que ajudam a desenhar cenários, tendências e situações onde o empreendedor visualiza melhor a situação e pode se antecipar ou mudar a rota. Deste modo, o uso da Inteligência Artificial garante um futuro mais competitivo.
“A inteligência artificial pode ser extremamente benéfica de diversas maneiras: ao otimizar tarefas rotineiras como o preenchimento de formulários, permitindo que os funcionários se concentrem em atividades mais estratégicas; ao melhorar a experiência de atendimento ao cliente, oferecendo respostas rápidas e precisas; ao aprimorar sistemas de delivery, garantindo entregas mais rápidas e eficientes; e na redução de custos operacionais, automatizando processos que antes demandavam muito tempo e recursos humanos. Tudo isso contribui para uma maior competitividade no mercado, permitindo que pequenos negócios operem de forma mais inteligente e eficiente”, explica o especialista.
Empresas podem estar usando IA sem se dar conta
Para o consultor e especialista em negócios do Sebrae Minas, Rafael Tunes, a Inteligência Artificial ainda é uma novidade para grande parte das empresas. Por isso, o tema é efervescente, dinâmico e velado. “Tem empresa que está usando IA sem nem saber, porque este recurso está dentro de produtos e serviços que ela já consome”, pontua.
Segundo ele, no agronegócio mineiro, por exemplo, pequenas empresas já estão investindo em movimentos que facilitem a vida no campo com uso de Inteligência Artificial. Ele menciona, inclusive, a difusão do AgroHub Brasil, uma plataforma virtual que está promovendo a cooperação entre os diversos centros de inovação agro pelo País.
“A IA é mais uma onda de inovação tecnológica que está dentro de projetos como essa plataforma que tem ganhado espaço no agronegócio nacional. É um sistema que vai de A a Z em camadas, de forma não perceptível em algumas soluções, mas que as empresas já usam bem”, pontua.
Medo do desconhecido
Com a popularidade da IA no mercado corporativo sendo cada vez mais ampliada, os mitos em torno dela que podem também aumentam. Mas o possível “medo do desconhecido” que isso pode causar, não deve ser impedimento para as oportunidades de expandir os negócios com o uso da tecnologia.
“Em tese, um Gemini ou um ChatGPT, que são as IAs mais populares, não vão compartilhar o seu aprendizado, nem a conversa gerada ou os dados pessoais e institucionais de outras pessoas. Tem um exercício muito interessante que qualquer pessoa pode fazer que é perguntar para o ChatGPT a seguinte dúvida: meus dados estão seguros com você? Se eu subir um arquivo ou um conteúdo, você vai compartilhar com outras pessoas?”, sugere o consultor.
Para ele, é grande o receio do uso da ferramenta pelos mineiros, seja por medo de cometer algum deslize ou por alguma falha de segurança, seja por receio de um vazamento de dados.
“Esses receios ficam no imaginário. Também já existem leis que regulam a segurança de dados no mercado. A pequena empresa que for utilizar uma Inteligência Artificial teria que tomar cuidado, dependendo do seu segmento, ao não compartilhar dados secretos, por exemplo. Contudo, ela pode usar a tecnologia para criação de conteúdo para redes sociais, planejamentos, criação de projetos, entre outros recursos”, explica Rafael Tunes.
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