Tecnologia

Setor de jogos eletrônicos em Minas enfrenta estagnação e luta por mais investimentos

Apesar de casos de sucesso e ambiente colaborativo, indústria mineira perde espaço no cenário nacional por falta de incentivos e investimentos públicos e privados
Setor de jogos eletrônicos em Minas enfrenta estagnação e luta por mais investimentos
Foto: Divulgação Umbu Games

O mercado de desenvolvimento de jogos eletrônicos em Minas Gerais vem passando por um período de instabilidade nos últimos anos. A indústria mineira de games tem perdido espaço no mercado nacional, devido à falta de incentivos e de investimentos voltados para a promoção desse segmento no Estado.

O cenário é o oposto do que está sendo observado no restante do Brasil, com forte crescimento e perspectivas positivas para o futuro. O diretor da Associação dos Criadores de Jogos de Minas Gerais (AC Jogos-MG) e sócio da Patada! Studio, Marcelo Gomes, relata que o Estado tem ficado para trás em comparação com outras regiões do País.

Gomes lembra que Minas foi um dos primeiros estados a contar com uma associação bem articulada já no início desse movimento no Brasil. Porém, o cenário foi mudando com o passar do tempo. Ele pontua que a associação local foi perdendo conexões com algumas empresas que atuavam na região, principalmente no período da Covid-19. “A pandemia teve um grande impacto nisso, mas já era um movimento que estava acontecendo”, observa.

Atualmente, a AC Jogos-MG vem trabalhando para se reestruturar e atrair mais empresas para a entidade, com o objetivo de contribuir para o crescimento dessa indústria em Minas Gerais. Apesar das dificuldades, o mercado mineiro vem apresentando alguns casos de sucesso de grandes marcas ou de desenvolvedores independentes.

O presidente da Associação Brasileira de Desenvolvedoras de Jogos Digitais (Abragames), Rodrigo Terra, destaca a importância do Estado para o setor no País e relata que Minas vem se destacando no desenvolvimento do setor de games nos últimos 20 anos.

Esse crescimento, segundo ele, é resultado da presença de uma associação que reúne parte dos desenvolvedores da região e de demais entidades que contribuem para o fortalecimento do segmento.

O dirigente ainda menciona exemplos como o do estúdio mineiro Long Hat House, com o jogo Dandara, que foi premiado no Apple Awards, e reconhecido no evento New Head House, em Nova York. “Isso mostra que o Estado já possui cases internacionais de destaque no desenvolvimento de games mobile. Também observamos um aumento no número de estúdios e no interesse por esse mercado no Estado”, afirma.

Mesmo com casos de sucesso, Minas ainda não explora todo o seu potencial

Minas Gerais tem investido constantemente em tecnologia e inovação ao longo dos anos, especialmente por meio do incentivo às startups. Terra ressalta que Belo Horizonte, por exemplo, é o berço de muitas empresas importantes no setor de tecnologia. “Portanto, não é surpresa que o Estado também abrigue estúdios e cases internacionais relevantes no setor de games”, completa.

Algumas cidades mineiras, como a própria Capital, já vêm tendo a compreensão de que os jogos eletrônicos fazem parte do arcabouço do setor audiovisual. Porém, Gomes pontua que essa compreensão está restrita à área cultural, sem considerar as demais características defendidas no Marco Legal dos Jogos Eletrônicos. Ainda assim, esse reconhecimento possibilitou a obtenção de recursos via Lei Paulo Gustavo, por exemplo.

Já o CEO da Umbu Games, Fabricio Pietsch, avalia que existem poucas empresas atuando e crescendo no mercado mineiro. Para o empresário, ainda faltam mais profissionais, investimentos e incentivos para crescer nessa indústria. Ele também menciona os esforços da associação mineira para mudar essa realidade.

“O Estado é um dos maiores do País, mas a quantidade de empresas e de pessoas desenvolvendo jogos em Minas não é compatível com seu tamanho. Existem outros estados bem menores, mas com mais profissionais, grandes empresas e muito mais sucesso do que nós”, relata.

Jogos eletrônicos.
Foto: Divulgação Beowulfus Universum

Falta de apoio e de investimentos

Uma das maiores dificuldades enfrentadas pelas empresas mineiras, segundo Pietsch, é a falta de apoio do poder público. Ele explica que o setor conta com alguns editais de incentivos estadual e municipais, mas com valores muito baixos e voltados para projetos mais simples. A baixa participação de investidores privados também é um ponto a ser superado para que as desenvolvedoras possam crescer nesse mercado.

Essa dificuldade para obter os recursos necessários para manter o negócio sustentável por mais tempo, segundo Gomes, é mais forte entre os estúdios independentes. Ele também relata a dificuldade de seguir no mercado sem o apoio do poder público ou de investidores privados que compreendam que os jogos eletrônicos são bem mais que uma simples brincadeira, mas, sim, um produto lucrativo.

Já o desenvolvedor e design da Long Hat House, João Brant, pontua que, historicamente, as oportunidades de fomento deste setor em Minas Gerais sempre foram menores que em outros estados, como São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco e Rio Grande do Sul. Ele ainda relata uma diminuição constante de empresas mineiras, com muitas falindo e poucas sendo criadas nos últimos anos.

O especialista acredita que esse cenário tem se agravado devido aos cortes de gastos implementados tanto no âmbito federal quanto estadual após a pandemia. Ele ainda alega que os recursos disponíveis, como aqueles previstos na Lei Paulo Gustavo, são menores em Minas do que em outros estados brasileiros. Além disso, em muitos casos, eles acabam sendo disputados por outras áreas, como a da produção cinematográfica.

União pode potencializar crescimento do setor

No entanto, o CEO da Umbu ressalta que, apesar das dificuldades, o mercado mineiro de desenvolvimento de jogos é marcado por um ambiente de grande colaboração entre os envolvidos. Essa união visa melhorar a situação atual da indústria de jogos eletrônicos em Minas Gerais.

Brant destaca a grandeza do Estado e o fato de que o mercado mineiro reúne muitos profissionais de qualidade nessa área, apesar da pouca atenção do governo estadual. Além disso, ele pontua que uma empresa desenvolvedora de jogos não pode ser tratada da mesma forma que uma startup, mas sim como uma organização do segmento artístico.

“O jeito de fomentar o videogame é mais parecido com o jeito de fomentar a arte do que necessariamente com uma empresa”, explica.

Jogos eletrônicos.
Foto: Reprodução site da Long Hat House

Ele relata que quando uma desenvolvedora entra em uma rodada de negócios e de investimentos, algumas das principais perguntas a serem feitas são a respeito do nicho de mercado e concorrentes. Porém, quando os investidores descobrem que não há um novo nicho ou que os concorrentes são grandes multinacionais, eles tendem a desistir do negócio.

Possibilidades para o futuro

Quanto ao futuro, o desenvolvedor da Long Hat House acredita que o cenário será de mais incentivos vindos do governo federal para impulsionar esse mercado no País. Enquanto isso, segundo ele, a indústria mineira deverá ficar ainda mais para trás, com muitos profissionais saindo desse segmento devido ao baixo retorno.

Já o diretor da AC Jogos-MG avalia que, apesar de o Estado não estar tão bem desenvolvido quanto outras regiões do Brasil, Minas Gerais segue em uma posição intermediária, possibilitando uma futura reestruturação do mercado regional. Mas, ele ressalta que para acompanhar o avanço do País, será necessário fortalecer os vínculos entre a esfera pública e privada.

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