Turismo

Região quilombola de Paracatu recebe projeto do Sebrae para fomentar afroturismo

Projeto visa criar um roteiro turístico de experiências que valorizem a história, a cultura e os saberes do povoado
Região quilombola de Paracatu recebe projeto do Sebrae para fomentar afroturismo
A principal ideia do projeto é de organizar um itinerário que promova vivências aos visitantes de maneira integrada com os possíveis atrativos mapeados nos encontros | Foto: Marcelo Casal Jr./Agência Brasil

É em Paracatu, na região Noroeste de Minas Gerais, que está localizada uma das mais antigas comunidades quilombolas do Estado. Por lá, está em desenvolvimento um projeto que visa criar um roteiro turístico de experiências que valorizem a história, a cultura e os saberes do povoado, constituído há mais de 200 anos.

Liderada pelo Sebrae Minas, a iniciativa tem como objetivo capacitar a população local para o exercício do turismo de base comunitária, e é a primeira realizada pelo Sebrae no Estado destinada a um território quilombola.

Localizado a pouco mais de três quilômetros do Centro de Paracatu, o povoado São Domingos é símbolo de resistência e preservação da cultura negra no município. A comunidade abriga cerca de 400 pessoas, organizadas em pouco mais de 70 famílias.

Reconhecida como quilombola pela Fundação Cultural Palmares em 2004, a comunidade guarda tradições e a memória viva de seu povo desde o século XVIII. Manifestações culturais, como a Caretada ou Caretagem, uma dança em homenagem a São João Batista, enaltecem e preservam os costumes dos afrodescendentes da região.

Leia também: Comunidade quilombola em Minas é reconhecida pela Fundação Palmares

Iniciado no segundo semestre de 2023, o projeto já promoveu encontros para sensibilização da comunidade e mobilização dos parceiros. Durante esses encontros, foram identificadas experiências e formados coletivos responsáveis pela condução das ações. As capacitações abordaram temas como:

  • habilidades socioemocionais para empreender;
  • empreendedorismo e gestão;
  • governança turística + inspiração afroturismo;
  • storytelling e desafios da comunicação em iniciativas culturais.

“A principal ideia é organizar um itinerário que promova vivências aos visitantes de maneira integrada com os possíveis atrativos mapeados nos encontros. Assim, conseguimos mobilizar um grupo representativo de moradores e estamos trabalhando para estruturar uma governança que possa oferecer esse produto turístico, dentro da linha do afroturismo”, explica uma das consultoras do projeto, Mariana Madureira.

Casa Museu é espaço para celebração da cultura local

Atualmente, o povoado conta com alguns atrativos, como a Casa Museu, que já recebe pequenos grupos de visitantes, em sua maioria, oriundos de projetos pedagógicos desenvolvidos no município.

Iniciado no segundo semestre de 2023, o projeto já promoveu encontros para sensibilização da comunidade e mobilização dos parceiros | Foto: Divulgação Sebrae Minas

Há também a Fábrica de Biscoito, gerida pela Associação dos Moradores da Comunidade, que produz uma variedade artesanal de pães, bolos, biscoitos, bolachas e roscas. Além disso, o povoado oferece atividades como a produção de açafrão, rapadura, artesanato com coco indaiá, confecção de máscaras para a carretagem, e trancista, que devem compor o roteiro de experiências.

“Além de propiciar novas alternativas de renda, especialmente para que os jovens possam permanecer no território, a ideia é que o turista possa vivenciar o dia a dia da comunidade, conhecendo suas histórias, sua cultura alimentar e suas manifestações culturais”, destaca o gerente do Sebrae Minas, Marcos Alves.

A contadora de histórias da Casa Museu do Quilombo São Domingos, Valdete de Fátima Lopes dos Reis Brandão, ressalta a importância das capacitações. “Queremos estar preparados para receber bem os turistas, passando a nossa história e a nossa essência, para que o mundo todo possa vir nos visitar e conhecer o nosso modo de ser”, conta.

O projeto seguirá sendo desenvolvido até o próximo ano. Em setembro, o grupo realizará uma visita técnica à comunidade Kalunga, em Cavalcante (GO), na Chapada dos Veadeiros. Considerado o maior quilombo do Brasil, com 262 mil hectares, 39 comunidades e aproximadamente 9 mil pessoas, o Quilombo Kalunga atua com o turismo de base comunitária há mais de 20 anos.

Afroturismo

O afroturismo, uma vertente do turismo cultural, trata do turismo com base em comunidades negras, envolvendo experiências de turismo afrocentradas e busca evidenciar a participação negra na formação da sociedade. Seja no meio rural ou urbano, essa forma de turismo se apresenta como uma maneira de conhecer, reviver, experienciar e valorizar a cultura, a religião e a história da população negra no Brasil.

Desde 2023, o Ministério do Turismo, em parceria com o Ministério da Igualdade Racial, tem investido em iniciativas que impulsionam o afroturismo no País, reconhecendo seu potencial para promover a inclusão social e econômica das comunidades.

Rádio Itatiaia

Ouça a rádio de Minas