Idosos aquecem setor de turismo no Brasil com 27 milhões de viagens ao ano; veja as rotas preferidas

A idade não é um limite para se divertir. Tampouco a aposentadoria está necessariamente ligada ao repouso. Para muitos da população 60+, essa é justamente a oportunidade de aproveitar a vida com mais tempo.
Prova disso é que 27 milhões de viagens são realizadas por idosos a cada ano no Brasil, conforme levantamento recente realizado pelo escritório de consultoria especializado em Turismo IbraTur. Atento à essa demanda, o mercado de turismo sênior está redesenhando, cada vez mais, o setor de viagens no Brasil.
Afinal, este também é um mercado que tem colaborado para o fortalecimento de laços sociais, o combate à solidão e a prevenção de doenças crônicas, além de promover a integração intergeracional. Tamanhos benefícios apontam para a expansão de negócios do ramo turístico diante da tendência de envelhecimento da população brasileira.
É que de acordo com a projeção da Organização Mundial da Saúde (OMS), até 2030, cerca de 1,4 bilhão de pessoas em todo o mundo terão 60 anos ou mais. No Brasil, esse número deve ser de 66,5 milhões.
Conforme os números apurados pelo Ministério do Turismo, os brasileiros 60+ preenchem 15% do turismo doméstico no País. Hoje eles respondem por 10% das viagens de rotas internacionais, percentual que chama a atenção das operações de viagens do Sesc Viagens.
Idosos se sentem mais seguros para viajar no pós-pandemia e são mais seletivos
Com várias unidades do Sesc em Minas Gerais e uma agência localizada no Centro de Belo Horizonte, a instituição oferta, anualmente, viagens para cerca de 100 destinos no Brasil, e também algumas rotas para o exterior.
A gerente de Turismo do Sesc Minas, Nicole Santos, conta que de todo o volume de 10,7 mil cadastros, 46,21% das pessoas que viajam com o Sesc são idosos.
“A gente percebeu que depois da pandemia e após a vacinação, ou seja, desde 2022, temos uma crescente. Os idosos se sentiram mais seguros para viajar. Isso fez com que eles buscassem por opções com maior segurança, confiabilidade e assistência personalizada”, avalia.

Segundo ela, trata-se de um público que tem sido expressivo devido a maior disponibilidade para viajar, ao contrário de quem ainda está trabalhando.
“Eles procuram viajar por conta da socialização e têm preferência por grupos organizados de convivência, facilidade de deslocamento, destinos com boas estruturas, atividades culturais e o relaxamento”, explica a gerente de Turismo do Sesc Minas.
Presente há sete anos no setor de viagens, a agência Vianna Tur, com unidade na avenida Amazonas, no Barro Preto, região Centro-Sul de BH, também acompanha a procura crescente desse público por passeios e pacotes.
- Confira também: Turismo em Minas Gerais cresce 506% a mais que a média do País
“Existem roteiros em que é comum ir gente mais nova, porém, há outros que têm uma programação que agrada muito ao público da terceira idade. Eles costumam gostar mais de uma praia vazia, um hotel melhor, um ônibus melhor, locais culturais e com lazer. É um público mais seletivo”, elenca a proprietária da agência, Ana Paula Viana.
Ana Paula relata que seu negócio opera restritamente as rotas terrestres nacionais, com 13 destinos. De todo o público atendido, quase 60% são de pessoas com mais de 60 anos, sendo 70% deles do público feminino.
“A pessoa da terceira idade costuma ter a vida financeira mais estabilizada que o jovem. Costumo dizer que quem não consegue as coisas até os 40 anos fica numa situação mais difícil e sobra pouco para a gastar. Então, os mais novos buscam por rotas alternativas mais econômicas”, observa Ana Paula.
Ela continua: “E quando a gente passa dos 35 anos, quando é mais o auge da vida, a gente, consequentemente, começa se vestir melhor a buscar melhores alternativas. Por isso, vejo que a terceira idade é ainda mais seletiva”, avalia.
No Sesc Minas, as viagens mais procuradas pelo público sênior são para fora do Estado. Os destinos mais populares do Sesc para este público são:
- Caldas Novas (GO),
- Grussaí (RJ),
- Praia Formosa (ES)
- e Guarapari (ES).
Dentro de Minas, Nicole Santos elenca como rotas preferidas:
- Ouro Preto e Diamantina, na região Central;
- São Lourenço e Poços de Caldas, no Sul de Minas;
- e Araxá, no Alto Paranaíba.
Já na Vianna Tur, a rota mais buscada é para Holambra combinado com Poços de Caldas. “É conhecida como a cidade das flores e conta com guia local. Porém, como à noite a cidade é mais pacata, vamos a Poços de Caldas para nos hospedarmos. É também uma cidade mais charmosa, com mais atrações”, comenta Ana Paula.
Veja outros destinos que também se destacam na agência Vianna Tur:
- São Lourenço e Caxambu, no Sul de Minas, que contam com passeios de balão e de Maria Fumaça com direito a seresta;
- Campos do Jordão (SP), que proporciona cenários mais românticos e instagramáveis, principalmente no Natal;
- Petrópolis (RJ), pelo contexto artístico, histórico e cultural do Brasil;
- e Curitiba (PR), por ser a cidade brasileira com o maior número de parques ecológicos e museus. A rota ainda ganha passeio de trem e depois ida à Ilha do Mel.
Turismo precisa se adaptar para oferecer cuidado e proteção à pessoa idosa
Para oferecer experiências memoráveis, Ana Paula enfatiza que o setor precisa se adaptar. Ela ressalta que a intenção é migrar gradativamente as viagens para grupos menores, permitindo atendimento mais personalizados, no lugar de ônibus maiores com mais pessoas a bordo.
“A tendencia, a cada dia, é melhorar mais. Porém, e é triste falar, mas os idosos são pessoas que não têm muita voz. Os hotéis precisam investir mais em acessibilidade e conforto. Isso inclui rampas de acesso para piscinas, elevadores ampliados e ônibus adaptados. Infelizmente, já perdemos clientes idosos com limitações físicas por falta de infraestrutura adequada em ônibus”, comenta.
Na Bahia, pousada investe em melhorias para receber turistas idosos
Destino bem procurado por turistas mineiros, Prado é uma pequena cidade no Sul da Bahia, uma das primeiras regiões exploradas pelos portugueses ao chegarem no Brasil. Por lá, há a Pousada Casa de Maria, com 24 apartamentos, situada a 280 metros da Praia do Novo Prado, um dos atrativos dos quase 80 quilômetros de litoral.
De acordo com a gerente comercial da Pousada Casa de Maria, Niquele Azevedo, somente em 2023, o estabelecimento recebeu cerca de 20% de idosos do volume total de reservas realizadas. Neste ano, esse percentual foi para 30%, mas há a possibilidade deste número subir mais, já que ainda faltam algumas semanas para o fim do ano, que contempla a alta temporada.
“Recebemos muita gente da terceira idade, principalmente, porque a nossa pousada é voltada para os adultos, ou seja, os casais que buscam por tranquilidade e locais para descansar. Inclusive, os mais novos que geralmente se hospedam aqui trazem os seus pais mais idosos para se hospedarem também”, comenta Niquele Azevedo.
Vindos principalmente de Minas Gerais, assim como de São Paulo, Espírito Santo e Goiás, os turistas com mais de 60 anos podem desfrutar de atrações que a Pousada Casa de Maria proporciona como restaurante, piscina, sauna e espaço fitness. Há, ainda, a indicação de rotas executivas de passeios para o Parque Nacional Marinho dos Abrolhos, o tour pelas praias locais e o centro histórico.

“Pensando em atender melhor as pessoas com mais idade, fizemos uma reforma, diminuímos a quantidade de apartamentos standard e transformamos em apartamentos luxo com maior conforto e acessibilidade. Já nos banheiros, foram instaladas ventosas para deixar esses espaços mais adaptáveis e seguros. Inclusive, temos um arquiteto que está providenciando um projeto de melhorias para dar acessibilidade aos que são cadeirantes”, adianta.
Para Ana Paula Viana, da agência Vianna Tur, todo o cuidado adotado pelo setor nacional de turismo é necessário. “Eles [os idosos] merecem viajar com qualidade e receber atenção. Muitas vezes, buscam uma companhia para conversar, atenção e cuidado, e não apenas o turismo em si. Isso faz a diferença”, conclui.
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