16ª CineBH retoma o formato presencial

De volta ao formato presencial depois de dois anos de realização on-line, a CineBH – Mostra Internacional de Cinema de Belo Horizonte chega a sua 16ª edição de hoje ao próximo domingo, em 11 espaços da capital mineira. A programação é oferecida gratuitamente ao público e reúne atividades para todas as idades – sessões de cinema com filmes nacionais e internacionais, em pré-estreias e mostras temáticas, Mostrinha, sessões cine-escola, debates, rodas de conversa, performance, atrações artísticas e a realização do Brasil CineMundi – 13th Internacional Coproduction Meeting, o evento de mercado do cinema brasileiro que reúne dezenas de profissionais da indústria audiovisual com a participação de mais de dez países.
A retomada física da CineBH foi planejada para apresentar um novo viés conceitual da mostra: o de celebrar e refletir a produção latino-americana, trazendo para o Brasil seus irmãos de continente e colocando-os em contato direto com olhares vários que poderão constatar a efervescência da produção que marca o território. A curadoria deste ano tem coordenação geral de Cleber Eduardo, que atuou na equipe formada por Camila Vieira, Marcelo Miranda, Ester Fér, Maria Trika e Pedro Butcher.
Para esta edição da CineBH de sangue latino, a temática proposta é “Cinema latino-americano: quais são as imagens da internacionalização?” A questão foi levantada para trazer ao debate a complicada relação entre o que se faz nos filmes de continente e aquilo que efetivamente chama atenção nas telas do mundo – e o quanto de “legitimação” por várias instâncias (festivais, circuitos de exibição, canais de TV e streaming) é necessário para determinados títulos furarem a bolha.
“A pergunta que está contida na temática nos parece reverberar um contexto no qual parte significativa dos filmes que circulam internacionalmente tem coprodução com países de fora da América Latina, em busca da abertura de novos mercados. Devemos pensar os benefícios concretos e custos simbólicos dessa internacionalização, feita às vezes a partir de códigos de criação em nome da aceitação mais digerível para uma elite da cultura”, aponta Cleber Eduardo. “Essas questões são ainda mais urgentes quando há imagens negativas do continente consumidas frequentemente mundo afora por meio dos noticiários que ressaltam a instabilidade dos americanos abaixo dos EUA, com suas turbulências políticas, violências sociais, policiais e cotidianas, crises econômicas e maus tratos à democracia”, ressalta.
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Diante desse cenário, diversas perguntas foram surgindo das conversas curatoriais e que serão levadas para sessões, debates e rodas de conversa da mostra: há condições do cinema feito de Norte ao Sul do continente, entre o México e o Uruguai, não depender tanto de bênçãos exteriores? Há desejo e viabilidade de a internacionalização dos filmes latino-americanos ampliarem os diálogos, os negócios, os pensamentos e o reconhecimento de afinidades por dentro do conjunto de países, assumindo suas diferenças de formação histórica e de circunstâncias contemporâneas, mas sem perder de vista as potências de ser um bloco continental? E qual o papel do Brasil nessa geopolítica continental na qual ele está invariavelmente inserido (por motivos geográficos e históricos), mas às vezes parece tão distante?
Para a curadora Camila Vieira, essa relação entre o que se faz e o que se vê, ou como se vê, é fundamental num momento em que tanto se discute o excesso de imagens e as representações. “Em que momento podem algumas temáticas se esgotar e serem substituídas por outras? Há tão poucos filmes brasileiros distribuídos nos cinemas do mundo que mesmo curadoras profissionais não fazem ideia do que seria uma imagem do país”, destaca ela.
Uma das principais referências da curadoria nas proposições foi o clássico “As Veias Abertas da América Latina”, livro do uruguaio Eduardo Galeano, lançado nos anos 1970 e ainda relevante no debate geopolítico e social da região. Foi dali que Cleber Eduardo e equipe retiraram alguns encaminhamentos importantes para se compreender que o continente vive numa eterna fissura e que o cinema pode ser um caminho tanto de reconexão quanto de percepção das singularidades de cada país e cada imaginário.
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