A biografia de Jorge Amado, por Josélia Aguiar
Lançada pela Editora Todavia, há pouco mais de três anos, “Jorge Amado – uma biografia” foi escrita por Josélia Aguiar, jornalista e historiadora, ex-correspondente da “Folha de S.Paulo” em Londres e ex-curadora da Festa Literária Internacional de Paraty, a prestigiada Flip. Em 637 páginas, a autora registra a rica trajetória de um dos mais importantes nomes da literatura em língua portuguesa, falecido há duas décadas. Fruto de sete anos de pesquisa, o livro conta com mais de quinhentas notas explicativas (alocadas ao final do volume) e um robusto elenco de fontes bibliográficas, entre as quais estão os romances de Jorge e da esposa Zélia Gattai, teses, dissertações e artigos sobre o escritor baiano. Para atingir seu objetivo, Josélia também realizou numerosas entrevistas com gente que conheceu o seu biografado, como Nélida Pinon, Lídia Jorge, Pepetela e Pilar del Rio, entre outros. O caprichado projeto editorial inclui um caderno de imagens de Jorge, de seus familiares e dos principais intelectuais com quem ele conviveu, no Brasil e no exterior, onde também circulava com desenvoltura. O encarte traz fotos das capas dos livros do autor traduzidos para outros idiomas, além de caricaturas e retratos dele feitos por artistas como Portinari, Flávio de Carvalho, Carlos Scliar e Divo Martino.
Dividida em quarenta capítulos, a obra acompanha o biografado desde o seu nascimento em Ilhéus, na Bahia, até o falecimento em Salvador, em 6 de agosto de 2001, passando pelos tempos em que atuou como militante do Partido Comunista Brasileiro (pelo qual se elegeu deputado federal constituinte em 1946) e pelos períodos em que precisou viver fora do país. Da atuação parlamentar do escritor, Josélia destaca a concepção da lei que garantiria a liberdade religiosa no Brasil: “Não se extinguiria o preconceito, no entanto não havia mais permissão para perseguir pais e mães de santo nos terreiros” (página 230). Para que seu projeto fosse aprovado, Jorge buscou apoio em todas as bancadas, indo conversar com Gilberto Freyre (sim, o famoso sociólogo também integrava o Congresso, nessa época), Otávio Mangabeira, Milton Campos, Hermes Lima, Café Filho e Vargas Neto. “Não foram apenas os adeptos do candomblé e da umbanda que assinaram, a emenda também se beneficiou do entusiasmo de espíritas e protestantes”, acrescenta a biógrafa, à página 231.
O processo de criação de “Gabriela, cravo e canela”, um de seus romances de maior repercussão, é descrito com detalhes. Zélia Gattai tinha visitado uma amiga cuja filha acabara de nascer. Disseram-lhe que se chamaria Gabriela. Ao escutar o nome, Jorge notou que ele rimava com uns versos que ouvira há tempos: ‘cheiro de cravo, cor de canela’. Os leitores da biografia ficam sabendo ainda que o autor, em suas próprias palavras, gastou vários meses imaginando ‘Gabriela’ e escreveu-o apenas em dois. Ao terminar, esgotado, disse estar ‘numa espécie de vácuo existencial’. Com uma tiragem inicial de cinquenta mil exemplares, a obra foi lançada em 1º de agosto de 1958, na Livraria São José, no Rio de Janeiro. Sucesso mundial e campeão de popularidade (já foi levado ao teatro, ao cinema, à televisão e até aos quadrinhos), o livro continua a ser publicado até hoje, passados mais de sessenta anos da primeira edição, sendo mais uma prova do incrível vigor da literatura de Jorge.
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