A literatura de Laura Cohen Rabelo

Mineira de Belo Horizonte, Laura Cohen Rabelo fez graduação em letras e mestrado em estudos literários pela UFMG, orientada pelo acadêmico Jacyntho Lins Brandão. Apaixonada pelo ofício da escrita, idealizou o projeto “Estratégias Narrativas”, que promove ateliês e oficinas de produção de textos, além de eventos e de entrevistas com escritores. Árvore de ótimos frutos, esse trabalho também resultou na publicação de vários livros de novos autores, entre prosa e poesia, contribuindo para dinamizar e enriquecer a cena literária brasileira. Quem gosta de escrever e não sabe como desenvolver tal afeição fará bem se procurar o grupo.
O primeiro romance de Laura, “A história da água”, lançado em 2012, se ergue sobre um jogo de vozes complexo e habilmente encenado. Aqui, o leitor conhecerá as histórias de Eira, Lucian e Anya, personagens envolventes e bem construídos. O segundo, “Ainda”, de 2014, apresenta enredo de que participam Marina, Felipe (o Pipo), Marta e Isidoro, entre outros. No terceiro, “Canção sem palavras”, de 2017, a protagonista é Maria Teresa, uma violonista que empreende viagem de estudos a Israel depois de graduar-se em Música e de terminar o namoro com Arie, com quem também compunha um duo de violões. Entre os temas sempre presentes na literatura de Laura, estão a música, as viagens, a vida universitária e a cultura judaica, que ela identificou como os ‘pontos de tensão’ da obra que ergue com tanto talento. Seu próximo livro, com lançamento previsto para o segundo semestre, confirma tais pontos: os personagens principais de “Caruncho” são um maestro e uma violoncelista. Na coletânea “20 contos sobre a pandemia de 2020’, lançada no final do ano passado pela Autêntica Editora em parceria com a Academia Mineira de Letras, Laura assina o excelente “O sono que eles dormem”, trama de suspense passada em plena quarentena. Um trecho do primeiro parágrafo dá bem a ideia do que se pode esperar: “Com as luzes da sala apagadas e a tevê acesa, vejo no noticiário que um grupo de dez ou doze homens tinha destruído um posto policial e explodido caixas eletrônicos em uma cidade do interior, próxima daqui. Ao estrondo da munição, seguia-se o barulho de vidro estilhaçado. Depois uma bomba. Outra bomba”.
“Ferro”, de 2016, foi a primeira incursão de Laura Cohen Rabelo na poesia. Entre as inquietações expressadas por seus versos, estão a passagem da vida, a sua precariedade, a opressão, a condição feminina e a memória. A plaquete “Escrever é uma maneira de se pensar para fora”, de 2018, traz um poema-ensaio, em que Laura expõe algumas de suas reflexões sobre a conjuntura brasileira do ano de sua edição e sobre o fazer literário, como a que segue: “Escrevo sobre quem acho que fui/Isso é outra forma de pensar com a mão/ Escrever é pensar e partilhar o pensamento/ Isso é útil e bom”. E como essa outra, já no final do texto: “Talvez escrevemos porque queremos que algo reste dessa vida/Um pensamento/uma amizade/Para comunicar com alguém que não está aqui/que não é meu coetâneo/ou simplesmente porque os gestos da escrita e da palavra são agradáveis/Fazem bem/Mas agora vivemos um tempo Instável/De lutos e rupturas/porque perdemos muitas coisas nesses últimos anos”.
O conteúdo continua após o "Você pode gostar".
Ouça a rádio de Minas