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A trajetória de Ronaldo Boschi, na revista da AML

A trajetória de Ronaldo Boschi, na revista da AML
Crédito: Sérgio Coelho/Divulgação

Rogério Faria Tavares*

Lançado em sua versão impressa na última terça-feira, dia 4, na sede da instituição, o volume 82 da Revista da Academia Mineira de Letras (AML) está integralmente disponível no site da AML na internet, bem como todos os outros dessa mais que centenária publicação, fundada em 1922 quando o presidente da Casa de Alphonsus de Guimaraens era o poeta Mário de Lima.

A essa preciosa coleção vem se juntar, agora, o número que oferece aos leitores um extenso ‘dossiê’ sobre os trezentos anos do teatro em Minas, organizado pelo professor Marcos Alexandre e por mim. Com 568 páginas, ele traz capa de Conrado Almada e texto da ‘orelha’ de Fernando Mencarelli, Pró-Reitor de Cultura da UFMG, além do poema de abertura de Flávia de Queiroz.

Na seção dedicada aos diretores, onde há artigos valiosos sobre Jota Dangelo, Pedro Paulo Cava, João das Neves, Cida Falabella, Wilson Oliveira, Eid Ribeiro e Ione de Medeiros, entre outros, leio, com saudade, o texto sobre Ronaldo Boschi, com quem tive o privilégio de encontrar, algumas vezes, graças à minha mulher Sabrina, que com ele trabalhou, por muitos anos, como atriz, e, posteriormente, como diretora-assistente do grupo de Teatro do seu Centro de Pesquisas Teatrais (CPT).

Minha interlocução com o  artista não foi longa, mas revelou-se suficiente para que eu percebesse o seu talento, o seu carisma e a generosidade com que tratava os mais jovens. No ensaio sobre o pai para a Revista, Jordana Luchini divide com os leitores um pouco da bela trajetória desse entusiasmado defensor das artes cênicas, nascido em 1947, em Belo Horizonte, e falecido, também na capital, em 2013.

Múltiplo, Ronaldo foi professor, músico, cenógrafo, figurinista, ator, bailarino, tradutor, intérprete e fundador da primeira escola livre de teatro em BH, o CPT, em 1974. Doutor em literaturas de língua portuguesa pela PUC Minas, estreou na direção teatral em 1970, com o espetáculo “O gigante egoísta”, de Wandeir Malagutti. A ele seguiram-se dezenas de outros, em lista que inclui clássicos como “A megera domada”, de Shakespeare; “O jarro” e “Seis personagens à procura de um autor”, de Luigi Pirandello; “Yerma”, de García Lorca, além dos brasileiros “O noviço”, de Martins Pena; “Toda nudez será castigada”, de Nelson Rodrigues, e “O santo inquérito”, de Dias Gomes. O teatro para crianças não foi esquecido. Ronaldo dirigiu muitas peças infantis, conquistando público numeroso na cidade e reverenciando a obra de autores como Maria Clara Machado e Chico Buarque de Holanda.

Ao relato de Jordana se une a comovente voz de Ronaldo, preservada nas páginas dos cadernos em que escreveu o seu valioso diário, por ele mantido entre 1965 até o ano de sua morte. É tocante o modo como o diretor ‘conversa’ com o seu diário: “Prometo-te, de minha parte, ser-te fiel e contar-te todas as alegrias e desventuras desses dias que venho vivendo. Far-te-ei meu amigo confidente, já que até hoje não arranjei nenhum amigo verdadeiro. Chamo-me Ronaldo Boschi, tenho 17 anos e 273 dias. Meus olhos são verdes e os cabelos pretos. Tenho 1,72 de altura. Sou feio e tenho espinhas no rosto. Até amanhã”.

* Jornalista. Doutor em literatura. Presidente da Academia Mineira de Letras

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