Variedades

Algumas reflexões sobre o fenômeno literário

Algumas reflexões sobre o fenômeno literário
Crédito: Pixabay

Nada mais oportuno para a primeira coluna do ano que uma reflexão sobre nosso tema predileto, quase obsessivo: a literatura. Começar 2023 envolvido pelos seus mistérios é ótimo. Anima e alegra. Dá alento e esperança. Seguir pelos meses que virão rodeado de livros e amparado por boas leituras é inspirador. Afinal…

Portal para outras realidades, a literatura é um dos fenômenos mais potentes da cultura humana e acompanha a espécie desde os seus primórdios, quando já se manifestava nos cantos e nas histórias contadas em torno da fogueira. Afinal, a expressão literária também inclui o registro oral, fonte e base de tudo o que veio depois.

O advento das narrativas escritas, ainda nas civilizações antigas, tornou a expressão literária ainda mais poderosa, capaz de circular pelo espaço e de perpetuar-se no tempo, beneficiada pela fixação nas superfícies próprias para a leitura. Num dia, as tabuinhas. No outro, o papel. A tecnologia da imprensa revolucionou o campo, permitindo a reprodução, em inédita escala, de textos que antes só se multiplicavam muito lentamente, pelo trabalho artesanal dos copistas.

Ao longo dos séculos, com o aperfeiçoamento das tecnologias, tornou-se possível consumir Literatura em outras plataformas, como o computador e, agora, o celular. A internet e as redes sociais ampliaram enormemente a velocidade com que a poesia e a prosa passaram a correr o mundo, sem barreiras físicas, sem alfândega, sem tributos de quaisquer naturezas, sem demora.

O conteúdo continua após o "Você pode gostar".


Os estudiosos do campo literário já se dedicam a conhecer os autores que publicam no facebook, no Instagram ou até no twitter, adequando a sua produção ao formato dos referidos canais. Um conto no twitter, por exemplo, não será nem o que chamamos de ‘micro conto’. Será ainda mais sucinto. Será uma história contada em duzentos e oitenta caracteres. Um texto postado no Instagram muito provavelmente vai interagir com imagens ou será até elucidado ou explicado por elas. Em resumo: as avenidas que se abrem à Literatura na contemporaneidade são muitas. E todas muito interessantes.

O essencial da literatura, no entanto, permanece o mesmo, intocado, como nos seus começos. A literatura é a voz. Por meio dela, os humanos falam. Por meio dela, se constituem. Se inventam e se reinventam. Forjam sentidos e razões para a aventura da existência. Flertam com universos possíveis, e, sobretudo, com os impossíveis. Não seria exagero dizer que narrar ajuda a manter a gente de pé, afirmando a nossa condição vital, desafiando o medo, o caos, a morte, o esquecimento.

Narramos para entrar em contato com o mundo, para permanecer em contato com ele, para tentar decifrá-lo, para compreendê-lo. Narramos para sobreviver, assim como Sherazade. Nem que seja apenas por mais uma noite.

Narramos, ainda, por descontentamento. Por inconformismo. Para projetar sonhos e utopias. Para mudar. Para revolucionar. Para instalar novas histórias no nosso horizonte. Para fazer com que elas saiam do plano do não-dito, do invisível e do silêncio e ganhem forma, corpo, conteúdo. E leitores.

Rádio Itatiaia

Ouça a rádio de Minas