Animação mineira feita com IA conta história de Macacos em uma mistura de tradição e tecnologia
O avanço da inteligência artificial (IA) chegou também ao audiovisual mineiro. Unindo tecnologia, pesquisa histórica e uma narrativa poética rimada, o escritor e diretor Víktor Waewell lançou o curta-metragem “Vilarejo Macacos: uma jornada histórica no interior de Minas”, que recria em animação o passado do distrito de São Sebastião das Águas Claras (conhecido como Macacos), em Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH).
Lançado em 30 de outubro no YouTube, o filme ultrapassou quase 20 mil visualizações na primeira semana, o que é um grande marco para uma produção independente. O projeto foi financiado pela Lei Paulo Gustavo, com apoio da Prefeitura de Nova Lima e do Ministério da Cultura, e incluiu oficinas em escolas públicas da região.
“Em nossas pesquisas, fomos remontando fragmentos da história. Macacos foi um local cobiçado pelos invasores do País, que se estabeleceram na região por causa da grande quantidade de ouro. Os exploradores trouxeram negros escravizados para atuar na mineração e entraram em embate com os indígenas que viviam no local. E estes três grupos, ao mesmo tempo, foram construindo a história e a identidade deste distrito, assim como aconteceu no Brasil como um todo”, conta Waewell, sobre o enredo do filme.
Com 11 minutos de duração, o curta-metragem utiliza ferramentas de inteligência artificial para gerar imagens e animações que remetem a Van Gogh, Portinari e ao barroco mineiro, com alto nível de detalhe histórico. A tecnologia foi aplicada a partir de fotos, mapas, desenhos e registros de campo coletados elo diretor durante meses de pesquisa.
“A gente precisava de consistência e de precisão histórica: a roupa, um animal, ou mesmo a vila de Macacos tinham que ter isso. Assim, misturamos fotos, desenhos, imagens do Google Earth e, em cada etapa do processo, fomos conseguindo os resultados que desejávamos”, explica.

Para Waewell, que também é autor de romances históricos e criador do podcast Tormentas e Redemoinhos, o uso da IA marca uma nova fase do cinema brasileiro. “Estamos à beira de uma revolução cultural. Hoje é possível produzir obras de alto valor estético e histórico com custos muito menores”, afirma.
A narração ficou a cargo da atriz e dubladora mineira Mariana Nolaço, e a direção executiva é de Fabiana Lopes, que coordena as oficinas artísticas ligadas ao projeto, para discutir a arte, a ficção e a história com adolescentes da região.
“Um dos pontos mais bonitos do projeto foi a troca com as escolas públicas de Nova Lima. O autor, Víktor Waewell, ministrou oficinas que encantaram alunos e professores. Ver o interesse e o envolvimento deles foi muito gratificante. Essa contrapartida é algo que valorizamos muito e que gostaríamos de repetir em outras escolas”, destaca Fabiana.
Clique aqui para assistir ao filme.
Além da repercussão digital, o filme reacendeu o debate sobre a valorização do patrimônio histórico e natural de Nova Lima, município que combina a maior renda per capita do País com desigualdades sociais significativas.
Waewell planeja agora uma exibição gratuita ao ar livre na praça da Igrejinha de Macacos, para celebrar com os moradores o sucesso da animação. Um exemplo de como a tecnologia pode impulsionar a arte, a memória e a economia criativa mineira.
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