BH recebe “Advinhe Quem Vem Para Rezar”

Dois homens de poucas palavras se arriscam em uma conversa que adiaram por anos. Um diálogo familiar difícil, um acerto de contas entre pai e filho, duas pessoas que preferem guardar os rancores acumulados ao longo da vida, sem perceber o quão desastroso pode ser não dizer a verdade. O texto do jornalista e dramaturgo Dib Carneiro Neto, “Adivinhe Quem Vem para Rezar” ganha nova versão para o teatro pela Companhia da Farsa, em comemoração aos 22 anos do grupo.
Montado em parceria com a Companhia Marginal, o espetáculo fará temporada no Teatro de Bolso Júlio Mackenzie do Sesc Palladium, a partir de hoje e até o próximo dia 18 (sextas e sábados, às 20h, e domingos, às 19h). Os ingressos custam R$ 30,00 (inteira) e R$ 15,00 (meia) estão disponíveis no site www.sympla.com.br e na bilheteria do teatro.
O texto de Dib Carneiro Neto é dirigido por Yuri Simon e traz os atores Alexandre Toledo (Companhia da Farsa) e Luiz Drumond (Companhia Marginal) no elenco. A obra descreve um drama psicológico em torno do universo masculino, narrado por trocas de acusações, além de segredos que vem à tona, lágrimas, cobranças e traições. Na trama, presente e passado se entrecruzam e antigas feridas são reabertas num conflito familiar de gerações entre dois homens, e onde o amor é o elemento fundamental para o entendimento.
“Assisti ao espetáculo pela primeira vez, em Belo Horizonte, com Paulo Autran e Cláudio Fontana, nos anos 2000, e o texto chamou muito a minha atenção pela sua força: mais do que um acerto de contas entre pai e filho, um conflito de sentimentos entre dois homens”, diz Alexandre Toledo, da Companhia da Farsa.
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Em cena, quatro personagens são interpretados por dois atores: o filho (Luiz Drumond), o sócio, o pai e o padre (Alexandre Toledo). Para Alexandre, um excelente exercício para os atores. “Esse é um texto para dois atores, a dramaturgia pede que seja assim. A história é construída em torno do filho e os demais personagens surgem para suscitar o debate. E são personagens bem distintos, o que exige uma preparação ainda maior.”
A trama se passa em uma igreja. Do lado de fora, uma tempestade se arma com raios e trovões. Um homem, na casa dos 40 anos, chega à igreja, ainda vazia e pouco iluminada, para a missa de sétimo dia da morte de seu pai, onde encontra-se com um antigo amigo da família, um suposto amante de sua mãe. O filho se sente culpado por acreditar por décadas ter presenciado, em sua adolescência, o adultério da mãe sem ter dito uma palavra a ninguém, e encontra no que imagina ser a missa de sétimo dia da morte do seu pai, a sua personagem antagonista. Mas o texto tenta romper com as convenções do realismo e se torna mais complexo, pois não é apenas com o “amante” da mãe que o protagonista se encontra. Outras duas figuras importantes surgem na conversa: um padre e o seu próprio pai. Mas, então, de quem seria a missa? E será que isso realmente importa? Surgem, então, conflitos internos e um acerto de contas que irá expor sentimentos guardados por anos.
Uma história envolvente em que antigas feridas são reabertas num conflito de gerações, onde o amor é o elemento fundamental para o entendimento. O desafio, segundo Dib Carneiro Neto, era escrever um texto sobre a resistência dos homens em querer discutir as relações, e a dificuldade em se abrir uns com os outros.
“A reflexão principal que a peça propõe é por que guardamos questões dentro da gente por tanto tempo sem falar com ninguém? O quanto falar liberta e alivia. Principalmente, entre homens, que não costumam se abrir entre eles, falam menos de si, são mais reservados – e isso faz com que muitas coisas fiquem enraizadas e doloridas durante anos. A peça faz personagens masculinos falarem de seus fantasmas, seus medos, seus traumas de infância. Fica no ar o tempo todo a frase: não deixe para amanhã uma conversa que você pode ter hoje. É um acerto de contas entre homens com pouca prática de conversar. A vida é curta: liberte-se das amarras e sinta mais frio na barriga”, afirma o autor.
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