Variedades

“Bolo Republicano” faz alusão à ditadura militar

“Bolo Republicano” faz alusão à ditadura militar
Crédito: Felipe Temponi

Após as trajetórias de sucesso com o Grupo Teatro da Vertigem e com a premiada peça “Rua das Camélias” (2016), a artista Gabriela Luque apresenta amanhã, às 20h, no Grande Teatro Cemig Palácio das Artes, o espetáculo “Bolo Republicano. Escrita em 2018, a partir de uma residência artística realizada no Centro de Formação Artística e Tecnológica (Cefart) e como parte do projeto mestrado cursado na UNB, o trabalho teve como inspiração uma visita ao Departamento de Ordem Política e Social (Dops) e uma receita de bolo da avó da diretora, encontrada pela artista em arquivos da família.

Na peça, a personagem G, construída a partir das memórias e da trajetória de Gabriela, utiliza a receita como ponto de partida para refletir sobre os impactos das “Jornadas de Junho de 2013”. Já a personagem Z, narra a aflição em ser mãe de um perseguido e preso político pela ditadura militar, entre os anos de 1966 e 1971. A montagem propõe um paralelo entre o recorte da história da avó da artista com um recorte da vida da própria atriz.

“Quando visitei o Dops foi muito duro e real. A resistência à ditadura sempre foi muito presente na minha família. Minha primeira ideia era criar um texto apenas pela perspectiva da minha avó, que foi mãe de um perseguido e preso político do regime militar. Queria contar a perspectiva de uma mãe que teve o filho levado pela ditadura. Quando comecei a escrever o espetáculo, percebi que precisava me inserir também na dramaturgia, narrar um pouco da minha experiência na vida política contemporânea”, explica Gabriela Luque.

“Bolo Republicano” coloca em pauta discussões atuais do cenário político e social brasileiro e traz para a encenação outros temas que permeiam o imaginário da população, como memória, família, democracia e o papel da república na construção de uma sociedade mais igualitária. “O que vimos nos últimos anos foi uma escalada autoritária muito grande no país. O trabalho vem dar conta desse lugar e outros que foram se tornando invisíveis na construção de políticas públicas, como as questões de gênero e o modo como as mulheres são tratadas pelo tecido social. Procuro fazer essas reflexões através dos recortes entre as reminiscências da minha avó e a minha própria experiência, buscando entender os pontos de interseção que permanecemos vivenciando, mesmo separados por um período de mais de meio século”, pontua Gabriela, que define a obra como autoficção performativa.

Atriz, diretora e dramaturga, bacharel em teatro e técnica em arte dramática pela UFMG, Gabriela Luque atualmente está na fase final de seu mestrado em Artes Cênicas, na UnB, onde estuda autoficção e performatividade.

Foi assistente de direção de Eliana Monteiro, no Grupo Teatro da Vertigem (SP), na peça “O Filho – Karta ao Pai” (2015). Concebeu e dirigiu o espetáculo “Rua das Camélias” (2016), que buscava jogar uma luz sobre a vida das mulheres que se prostituem na rua dos Guaicurus, em Belo Horizonte. Trabalho bem recebido pelo público e crítica, tendo realizado quatro temporadas, entre elas a participação no Festival Internacional de Teatro de Belo Horizonte – FIT-BH, em 2018.

Em seu trabalho mais recente, “Bolo Republicano”, Luque procura as intercessões entre política, gênero e autoficção, apoiando-se nos conceitos de memória pessoal, coletiva e pós-memória.

Rádio Itatiaia

Ouça a rádio de Minas