“Brasil torna-se mais pobre e triste com morte de Zé Celso”, diz fundador do Galpão

“A trajetória e atitude de Zé Celso sempre foram um exemplo de liberdade e coerência incoerente, resistindo com seu teatro pleno de loucura, catarse, amor e anarquismo a todo o tipo de cerceamento careta, preconceito e exploração capitalista. A criação do teatro Oficina, a vida dedicada a um teatro que luta por uma sociedade livre e justa, faz do Zé um farol para todos nós que lutamos por uma arte que seja um exercício pleno de liberdade e de imaginação”. Foi assim que o ator, diretor de teatro e um dos fundadores do Grupo Galpão, Eduardo Moreira, definiu o diretor e dramaturgo José Celso Martins Correia, que morreu nesta quinta-feira, em São Paulo.
Eduardo Moreira contou à reportagem do DIÁRIO DO COMÉRCIO um episódio que marcou a história do Galpão há quatro décadas. “Lembro que nós, do Galpão, presenciamos seu retorno ao Brasil no início da década de oitenta, com a apresentação de As criadas de Jean Genet, no Centro Cultural São Paulo. Ele tinha vivido anos no exílio, em Portugal, por conta da perseguição sofrida pelo regime militar. A emoção da plateia ao assistir o Zé em cena era um pouco a nossa esperança insistente e, muitas vezes vã, de ver o País trilhar caminhos melhores, depois de décadas de violência e obscurantismo”, diz. “A esperança de que poderíamos de novo e sempre contar com a folia, a orgia e o espírito dionisíaco do Zé para abrir novas trilhas e possibilidades”, acrescentou.
“Outra lembrança foi de um encontro nosso, muito terno e amoroso, quando estivemos juntos no Festival de teatro da cidade de São José do Rio Preto. Ele apresentava Vento forte para papagaio subir, uma peça em que fazia uma espécie de acerto de contas com seu passado e sua cidade natal, Araraquara. Nós tínhamos acabado de fazer a última apresentação do espetáculo Pequenos milagres e estávamos sentados numa mesa, tarde da noite, na comedoria do festival, quando o Zé bacanteanamente sentou-se na nossa mesa, oferecendo-nos uma garrafa de vinho. Daí passamos juntos algumas horas, falando da vida e do teatro, com ele enchendo nossos corações com sua inteligência e alegria de viver”, diz.
Velório de Zé Celso será no Teatro Oficina
O Teatro Oficina, localizado no Bixiga, região central de São Paulo, será o local do velório do dramaturgo Zé Celso, fundador do espaço. “Hoje, lamentamos informar que o ator faleceu nesta quinta-feira (6/7) em decorrência de um incêndio em seu apartamento na capital paulista”, dizia o comunicado no perfil do equipamento cultural no Instagram.
O velório será aberto ao público, porém, ainda não foram divulgadas informações sobre a data e o horário específicos, pois a liberação do corpo pode demandar algum tempo. Desde o anúncio do falecimento de Zé Celso, admiradores e amigos têm se reunido no local para prestar suas últimas homenagens.
Ele estava internado no Hospital das Clínicas após sofrer queimaduras de segundo grau no rosto, pernas e braços durante o incêndio que atingiu seu apartamento. As causas do incêndio ainda estão sendo investigadas, havendo suspeitas de que tenha sido originado pelo próprio dramaturgo ao ligar o aquecedor. Zé Celso é reconhecido como um dos principais nomes das artes cênicas no Brasil, sendo o fundador do renomado Teatro Oficina, uma das companhias teatrais mais antigas e respeitadas do País.
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