CCBB expõe a arte cinética de Palatnik
“Abraham Palatnik – A Reinvenção da Pintura”, a exposição que ocupará as dependências do Centro Cultural Banco do Brasil Belo Horizonte (CCBB BH) a partir de amanhã, será a primeira mostra/homenagem ao inquieto artista falecido em maio de 2020, aos 92 anos. Artista cinético, pintor e desenhista, Abraham Palatnik é considerado um dos pioneiros da chamada arte cinética no Brasil, que expande os caminhos das artes visuais ao relacionar arte, ciência e tecnologia. De modo criativo, e ao longo de seus mais de 60 anos de carreira, Palatnik desenvolveu experimentações artísticas e estéticas diversas.
A mostra, sob a curadoria de Pieter Tjabbes e Felipe Scovino, dialoga com as exposições individuais do artista, realizadas pelos mesmos curadores, respectivamente em 2013 e 2017, nos Centros Culturais do Banco do Brasil de Brasília e Rio de Janeiro. No total, serão apresentados ao público mineiro 75 trabalhos de épocas diversas, abrangendo os vários segmentos experimentados pelo artista: aparelhos cinecromáticos, objetos cinéticos, objetos lúdicos, mobiliário, pinturas e desenhos de projetos.
Entre as novidades da exposição que o CCBB BH irá abrigar, e que a diferencia das mostras anteriores, estão o inédito curta-metragem dirigido pelo filho Roni Palatnik, que registra o artista fazendo uma das obras da última fase, e um destaque à série W, a última de sua produção.
A obra de Palatnik cria uma forma no espaço pelo movimento, além de confundir e ampliar as fronteiras entre pintura e escultura. Os trabalhos que compõem a exposição vêm de coleções brasileiras, além de obras do atelier do próprio artista.
Os rumos que levaram Palatnik a trilhar um caminho alternativo e criar algo novo se misturam com sua história de vida. Nasceu em Natal (RN), no ano de 1928, filho de judeus russos. Em 1932, mudou-se para a cidade de Tel Aviv em Israel e, entre 1942 e 1945, frequentou a Escola Técnica de Montefiori, onde se especializou em motores de explosão.
Ateliê no manicômio – Em 1947 retorna ao Brasil e passa a residir no Rio de Janeiro aonde começa a circular no mundo artístico. Palatnik conheceu, em 1948, os artistas doentes mentais do Hospital Psiquiátrico Pedro II através do pintor carioca Almir Mavignier que, junto com a Dra. Nise da Silveira, implantou o ateliê no manicômio. A partir dessas visitas ao hospital, ele abandonou tintas e pincéis e não voltou mais aos temas figurativos que pintava até então. E justificou: “Eles não tinham aprendido nada na escola, não frequentavam ateliês, e de repente surgem imagens tão preciosas. De onde veio essa força interior? Não vou mais pintar porque minha pintura não valia nada, era uma porcaria”.
Em 1949, ele começou a pesquisar sobre luz e movimento até criar/fabricar os aparelhos cinecromáticos. Seu ateliê era um quartinho na casa do tio, onde morava. Em um dia de falta de eletricidade, a imagem da luz de velas se movendo nas paredes lhe deu inspiração para os cinecromáticos – caixa com lâmpadas cujo deslocamento era acionado por motor, criando imagens de luzes e cores em movimento.
Foi com o cinecromático “Azul e roxo em seu primeiro movimento” que Palatnik participou da I Bienal Internacional de São Paulo, em 1951. O trabalho considerado inovador ganhou uma Menção Honrosa pelo júri internacional da Bienal.
Em 1962, inicia a série Progressões, na qual compõe efeitos óticos ao utilizar faixas sobre uma superfície. No trabalho, usa materiais como madeira, cartões, cordas e poliéster. Nas obras feitas com jacarandá, surgiu da observação de sobras de toras da madeira que uma serraria jogava fora. São “pinturas” formadas por sequências de lâminas finíssimas de jacarandá montados ritmicamente, aproveitando a materialidade dos veios, nós e outras marcas naturais da madeira. Palatnik usou o mesmo sistema com cartão cortado, também presente na mostra.
Em 1964, cria os objetos cinéticos, um desdobramento dos aparelhos cinecromáticos. No mesmo ano participa da Bienal de Veneza de 1964, o que deslancha sua carreira no circuito internacional. Os objetos cinéticos embutem a relação arte-tecnologia, novas conquistas da ótica, virtualidade da imagem e a insatisfação com a técnica pictórica do pincel. São aparelhos construídos por hastes ou fios metálicos que têm nas extremidades discos de madeira de várias cores. Hastes e placas são movimentadas por um motor, com variação de velocidade e direção.
Em meados da década de 1980, Palatnik mostra o seu traço inventivo e experimental na série de pinturas com barbante e tinta acrílica. A pintura ganha um volume sutil que produz um efeito ótico e equilibra o recurso precário do barbante com uma pesquisa sensível sobre o cinetismo e a possibilidade de expansão da forma e da cor através do movimento das linhas e do espectador em torno da obra.Para oferecer segurança ao seu público e seus colaboradores, a entrada no CCBB BH acontecerá mediante agendamento on-line via Eventim (https://www.eventim.com.br) e com limite de acessos e de quantidade de pessoas nos espaços do prédio. O uso de máscara é obrigatório, assim como a disponibilização de álcool em gel.
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