Após quase 5 anos, celebrado espetáculo ‘Aqueles Dois’ volta a BH

O celebrado espetáculo “Aqueles Dois”, da Cia. Luna Lunera, volta à cena teatral de Belo Horizonte. Inspirada no conto homônimo de Caio Fernando Abreu (1948-1996), a peça narra a relação entre Raul e Saul, dois funcionários de uma repartição que compartilham o ambiente de trabalho burocrático e monótono e ali desenvolvem laços afetivos. A versão para o teatro da Luna Lunera estreou em novembro de 2007 e construiu uma ampla trajetória nacional e internacional. O espetáculo circulou por 25 estados e se apresentou por países como México, Argentina, Colômbia, Costa Rica, Panamá, Venezuela, Uruguai e Portugal.
Agora, após um hiato de cinco anos, a peça retorna à capital mineira, onde cumpre temporada a partir da próxima sexta-feira (15) a 31 de março, na Sala João Ceschiatti – Palácio das Artes (sextas e sábados, às 20h, e domingo, às 19h). Os ingressos custam R$ 40,00 (inteira) e R$ 20,00 (meia-entrada) e podem ser adquiridos na bilheteria do Palácio das Artes ou no site Eventim.
“Aqueles Dois” é uma metáfora para qualquer ambiente inóspito e burocrático de trabalho, onde é revelado se o desenvolvimento de laços de cumplicidade entre dois de seus novos funcionários, Raul e Saul. “Num deserto de almas também desertas, uma alma especial reconhece de imediato a outra”. No entanto, essa relação acaba gerando incômodo nos demais colegas de profissão.
No espetáculo, Cláudio Dias, Guilherme Théo, Marcelo Soul e Odilon Esteves (elenco desde 2010), dialogam com questões atuais como solidão, desilusões, preconceito e intolerância. Em cena, os atores revezam-se nos papéis de Raul e Saul, narram trechos, sugerem os outros personagens da “repartição” e inserem suas próprias referências e leituras para o texto de Caio Fernando Abreu.
“Aqueles Dois”, que completa 17 anos em cartaz, é a história de dois amigos que se conhecem em ambiente árido de trabalho e, por causa desse laço de amizade, sofrem homofobia. “Um texto sempre atual, que já percorreu por mais de 20 capitais brasileiras, diversas cidades do interior do País e que já foi apresentado em países da América Latina, em espanhol. É um trabalho que conquista o público por onde passa. Uma história tão linda e delicada e ao mesmo tempo tão necessária”, sublinha Cláudio Dias.
Retrocesso
“O espetáculo, além de tratar do preconceito, fala também de solidão e de afeto. O texto toca muito na possibilidade de conhecermos alguém, seja um amigo, um amor, mas alguém que faça a vida da gente vibrar em uma relação recíproca. Desde que o espetáculo estreou, muita coisa em relação ao preconceito por orientação sexual no Brasil mudou e me arrisco a dizer que mudou muito quase que no mundo inteiro. Mas, ao mesmo tempo, a gente ainda se depara com o conservadorismo, com a sociedade tentando voltar as coisas para como eram antes.
Em outubro do ano passado, por exemplo, teve projeto de lei que proíbe o casamento de pessoas com o mesmo sexo. O texto ainda será analisado, mas é um retrocesso imenso se isso for implementado. Então, é preciso ser vigilante e combativo. E acredito que o espetáculo Aqueles Dois vem cumprindo esse papel”, diz Odilon Esteves.
O conto “Aqueles Dois” foi publicado em sua primeira versão em “Morangos Mofados” (Brasiliense, 1982), como parte de “Os Cem Melhores Contos Brasileiros do Século” (curadoria de Italo Moriconi, Objetiva, 2000). Nele, como praticamente em toda produção literária de Caio Fernando Abreu, são múltiplas as citações ou simples menções a artistas e obras de áreas diversas, locações urbanas, letras de músicas, filmes, épocas, onde o autor mistura, despudoradamente, seus mundos biográfico e ficcional.
Ouça a rádio de Minas