Cine Humberto Mauro exibe ciclo de Bresson

Celebrando a cinematografia de um dos maiores realizadores da história do cinema, a Fundação Clóvis Salgado (FCS) apresenta o “Ciclo Robert Bresson”, com exibições em cópias restauradas de quatro das principais obras dirigidas pelo cineasta francês. As sessões acontecem hoje e amanhã, em horários variados, no Cine Humberto Mauro. A entrada é gratuita.
A programação inclui ainda uma edição da série “História Permanente do Cinema”, com o filme “O Batedor de Carteiras” (1959). A sessão comentada ocorre hoje, a partir das 17h, com a presença do pesquisador, professor e crítico de cinema Luiz Fernando Coutinho. Os ingressos para os filmes da mostra serão distribuídos na bilheteria do Cine Humberto Mauro a partir de uma hora antes de cada sessão.
Conhecido por sua abordagem austera, Robert Bresson (1901-1999) contribuiu notavelmente para a arte do cinema; seus atores não profissionais, as elipses e o uso narrativo escasso levaram seus trabalhos a serem considerados como exemplos proeminentes de filmes minimalistas. A mostra tem apoio da Embaixada da França no Brasil, Cinemateca da Embaixada da França, Institut Français e Aliança Francesa Belo Horizonte.
A mostra “Ciclo Robert Bresson” traz quatro filmes da carreira do influente realizador francês: “O Batedor de Carteiras”, “A Grande Testemunha” (foto), de 1966,” Lancelot do Lago” (1974) e “O Dinheiro” (1982), última obra do cineasta. Todos os filmes, que formam uma espécie de panorama da obra de Bresson, dos anos 1950 aos anos 80, serão exibidos em cópias restauradas, no formato DCP.
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Vitor Miranda, gerente do Cine Humberto Mauro e curador da mostra, destaca justamente este passeio pela obra do cineasta, e detalha também alguns dos aspectos mais reconhecíveis de seu estilo. “A seleção apresenta várias fases da carreira dele. Tem uma característica no cinema do Bresson que é quase espiritual, uma abordagem muito direta ao ponto. É um dos diretores mais particulares da história do cinema. Ele tinha uma forma muito única de fazer os filmes dele. Não tem aquelas grandes expressões vindas dos atores, toda a emoção vem dos gestos, dos ângulos. É um cinema quase mecânico”, define.
Tematizando desde um caso de amor na corte inglesa até a trajetória de um burro, passando ainda pelos problemas causados por uma nota falsa de dinheiro e pelos pequenos roubos de um batedor de carteiras inveterado, os filmes presentes na mostra exemplificam o estilo peculiar de Robert Bresson. O diretor não utilizava atores profissionais e seus “modelos”, como ele os classificava, falavam em tom monocórdico, sem inflexões, como se estivessem lendo o texto. Sempre retratando a alma humana, sob as mais variadas formas, Bresson iniciou sua produção nos anos 1930 – ele teve sua primeira experiência cinematográfica em 1933, três anos após abandonar a carreira de pintor – e durante toda sua vida realizou 13 longas-metragens, ganhando prêmios importantes nos três principais festivais de cinema do mundo (Cannes, Berlim e Veneza). Em junho de 1940, o cineasta passou pela experiência que iria marcar para sempre sua vida e sua obra: foi feito prisioneiro pelos nazistas, permanecendo nessa condição até abril de 1941.
Godard
Além dos filmes de Robert Bresson, no período coberto pela mostra o público poderá assistir também a outra obra fundamental do cinema francês: amanhã, logo após as sessões de “Lancelot do Lago” e “O Dinheiro”, será exibido o longa “O Demônio das Onze Horas” (1965), de Jean-Luc Godard, em sessão comentada da última edição de 2022 do programa Cinema e Psicanálise.
“Godard e Bresson são dois cineastas franceses que fizeram parte de vanguardas cinematográficas. Pode-se dizer que as obras deles têm aproximações. N’O Demônio das Onze Horas, do Godard, a forma que o texto é narrado tem muito a ver com o Bresson, porque tira muito da dramatização hollywoodiana. São companheiros de vanguarda. O Bresson com certeza influenciou o Godard”, explica Vitor Miranda.
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