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CineOP aborda história, educação e preservação

CineOP aborda história, educação e preservação
Crédito: Divulgação

Na sua vocação de olhar para o passado em busca de reflexões para o presente e de conjugar ineditamente três eixos de pensamentos no audiovisual (a história, a educação e a preservação), a CineOP – Mostra de Cinema de Ouro Preto chega à 16ª edição, a partir de amanhã e até a próxima segunda-feira, novamente em ambiente on-line devido à pandemia da Covid-19. Ao longo da semana de realização do evento, filmes, debates, masterclasses internacionais, rodas de conversas, atrações artísticas e várias outras atividades vão ter transmissão gratuita pelo site www.cineop.com.br.

A programação da CineOP é estruturada em três frentes temáticas – Preservação, História e Educação- que dialogam entre si, formando um painel de exibições, debates e apresentações que contam com a presença de convidados nacionais e internacionais que refletem as inquietações e proposições em voga na edição.

Para 2021, as equipes de curadoria da temática Histórica, temática Educação e temática Preservação conjugaram propostas a partir dos impasses dos últimos anos no cenário audiovisual brasileiro, agravados pela pandemia e pelas dificuldades e desafios que os setores audiovisual, da cultura e educação estão enfrentando. O tema central é “Memórias entre diferentes tempos”.

“A CineOP é pioneira e atua, desde sua criação (2006), para a salvaguarda do imenso patrimônio audiovisual brasileiro e, mais uma vez, renova seu compromisso com a memória e a história do nosso cinema em diálogo e com a participação da educação. Acreditamos que a preservação é ação estratégica para o desenvolvimento e identidade de um país. A CineOP é um convite para todos os cidadãos atuarem a favor do nosso patrimônio”, destaca Raquel Hallak, coordenadora geral da CineOP.

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Na temática Histórica, que busca refletir no ontem o que está acontecendo agora, a escolha dos curadores Francis Vogner dos Reis e Cléber Eduardo foi a de focar no cinema brasileiro da década de 1990, sob o título “Memórias entre diferentes tempos”. Em que sentido é importante para 2021 retornar, por meio de filmes e de reflexões, a um período marcado por alguns fins e outros recomeços no cinema e na sociedade? A ideia é justamente encontrar os paralelos e reconfigurar os sentidos de cada período, a partir da constatação de que, após mais de 30 anos do fim da Embrafilme e da eleição do primeiro presidente por voto direto depois do fim do regime militar, há muitas camadas do país e do cinema, hoje reposicionadas, que foram semeadas como espécie de gênese desde 1990.

“É uma década de transição cultural e política, mas também de reproposições. Em um mundo globalizado e de três governos brasileiros (Fernando Collor, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso) com uma agenda interna menos ou mais neoliberal, que na cultura procura transferir para as empresas – em troca de abatimentos fiscais, marketing e possibilidade de lucro financeiro direto – as decisões sobre investimentos em cultura, a questão da identidade nacional, mais associada aos anos 1950 e 60, é recolocada nas discussões em termos paradoxais”, defendem os curadores.

Foi um período de extensa batalha por legitimação da produção local e pelas negociações com a iniciativa privada, a quem foi dado poderes (via leis de incentivo fiscal) de definir quais filmes seriam ou não feitos e com que orçamento. Foi uma época, por exemplo, de grandes produções históricas que tentavam pensar o Brasil do passado e de filmes que abordavam assuntos do tecido social, olhando para as nossas mazelas com um tipo de lente espetaculoso, de forma a renovar a visão que se tinha do cinema brasileiro depois de seu sucateamento, potencializado na segunda metade dos anos 1980.

“Retomar o cinema era lidar com alguns fantasmas e senso comuns, como o hermetismo do Cinema Novo, a vulgaridade das pornochanchadas, a má qualidade técnica dos filmes da Boca do Lixo, os erotismos descabelados a partir de Nelson Rodrigues e a sensualidade tropical das adaptações de Jorge Amado”, afirma a curadoria.

Alguns dos filmes da temática Histórica vão ilustrar ao público esse recorte, casos de “Carlota Joaquina, Princesa do Brazil” (foto). Dirigido por Carla Camuratti, de 1995, “Lamarca” (Sérgio Rezende, 1994), “Carmen Miranda: Bananas Is My Business” (Helena Solberg, 1995) e “Baile Perfumado” (Paulo Caldas e Lírio Ferreira, 1997), entre outros.

Transição – Na temática Preservação, sob o título-pergunta “Preservação audiovisual: Que caminhos trilhar?”, os anos 1990 aparecem como uma rememoração de tempos de transição. Não foi uma década de crise nem de pujança, mas de maturação das condições que propiciaram a reconhecida consolidação do campo no Brasil, na década seguinte, em todas as suas contradições e complexidades.

O Encontro Nacional de Arquivos e Acervos Audiovisuais, principal fórum de discussões sobre preservação no Brasil, volta a acontecer na CineOP sob a égide do distanciamento e da crise no setor, o que fez a curadoria se voltar à reflexão sobre os desafios do momento: a crise pode ser ensejo para a mudança? Qual pode ser o papel do campo da preservação audiovisual?

Na temática Educação, o título definido pelas curadoras Adriana Fresquet e Clarisse Alvarenga é “Das ruínas às utopias: processos de criação audiovisual e metodologias de ensino”. A proposta é discutir, através das mesas e fóruns a reunir educadores de todo o Brasil e alguns convidados internacionais, formas possíveis de aprendizado audiovisual em tempos de pandemia e ensino a distância.

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