Comida di Buteco chega aos 25 anos celebrando a culinária raiz do Brasil; veja a lista de botecos

O Comida di Buteco, um dos principais concursos gastronômicos do Brasil, completa 25 anos e prepara-se para uma edição especial. Nascido em Belo Horizonte, o evento se espalhou por mais de 40 cidades do País, com 27 circuitos. Somente em Minas Gerais, 249 estabelecimentos vão entrar na disputa pelo título de melhor boteco na edição deste ano, que acontece de 11 de abril a 11 de maio, com pratos a R$ 35.
Diferente de outros concursos, o Comida di Buteco adota a seleção de vencedores com base na combinação do paladar popular e nas avaliações de um júri especializado. Segundo a diretora de Operações da CDB Produções Gastronômicas e responsável pelo evento, Maria Eulália Araújo, neste ano o concurso baterá um recorde com a participação de 1.200 botecos.
“Quando criamos o concurso, tínhamos como um desafio que o boteco era um nome muito pejorativo. Afinal, as pessoas viam esse espaço com uma percepção de preconceito; era um ambiente de copo sujo”, lembra.

Com o passar dos anos, Maria Eulália destaca que o evento teve uma atuação importante para transformar essa percepção negativa, ajudando a ressignificar o nome.
“Os botecos sempre foram espaços de culinária raiz, que naquele momento (nos anos 2000) não tinham muito valor. Vemos que os botecos sempre fizeram pratos com muita legitimidade, propriedade e originalidade. Sem modéstia alguma, o Comida di Buteco contribuiu para essa mudança. Hoje, temos marcas que fazem questão de levar a palavra ‘boteco’ no nome”, diz.
De prato ‘rejeitado’ a iguaria aclamada
O Bar do Careca, um tradicional boteco situado no bairro Cachoeirinha, na região Nordeste de Belo Horizonte, foi um dos estabelecimentos impactados positivamente pelo evento. O proprietário Orcilio Gonçalves Ferreira, conhecido como Careca, relata que o preconceito em relação ao boteco era considerável, especialmente em relação à língua com dobradinha, um prato típico da culinária mineira que ele sempre fez questão de preparar e servir aos clientes.

“Antigamente, língua de boi com a dobradinha era o maior preconceito, enquanto, hoje, vejo as crianças virem aqui no bar só para comer língua. E, veja bem, em outros países, a língua de boi é um prato nobre”, enfatiza. A iguaria, preparada pelo comerciante, aliás, foi a primeira receita premiada pelo Comida di Buteco.

Com um funcionamento que atrai público de diversas localidades, Careca também destaca que, após participações consecutivas até 2013, o estabelecimento passou a ser frequentado por pessoas de todas as classes sociais, algo incomum anteriormente.
“Graças ao Comida di Buteco, hoje tenho clientes de todas as classes. Recebo famílias, amigos, artistas e chefs renomados. Percebo que, de cem pessoas, uma ou duas são aqui do bairro, todas as outras são de outros bairros e cidades diferentes. Muitos turistas também fazem questão de vir”, afirma.
Comida di Buteco gera impacto relevante para o setor
A presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes em Minas Gerais (Abrasel-MG), Karla Rocha, pontua que o envolvimento entre estabelecimentos e público gera relevante impacto para o setor, impulsionando a movimentação nos bares, fortalecendo a cultura gastronômica e contribuindo para o aumento do faturamento e da visibilidade dos estabelecimentos.
“O concurso valoriza e ajuda a estimular a criação de pratos autênticos, destacando ingredientes regionais e tradições culinárias. Em Belo Horizonte, esse movimento ganha ainda mais relevância, pois a cidade tem o título de Cidade Criativa da Gastronomia e é reconhecida como a capital dos botecos. Essa valorização não apenas enaltece a identidade da comida de boteco como um patrimônio cultural, mas também impulsiona o setor, aumentando o fluxo de clientes nos bares, gerando empregos e fortalecendo a economia local”, reconhece.
Em todo o Estado, além de Belo Horizonte, que leva à disputa 125 botecos, participam também desta edição:
- 40 estabelecimentos em Juiz de Fora, na Zona da Mata;
- 25 em Poços de Caldas, no Sul de Minas;
- 21 pontos entre Uberlândia e Araguari, no Triângulo Mineiro;
- 21 botecos em Montes Claros, no Norte de Minas
- e 17 estabelecimentos entre Ipatinga, Coronel Fabriciano e Timóteo, no Vale do Aço.
O boteco como protagonista e vetor econômico
Ao longo de 25 anos, os botecos tornaram-se uma alavanca para o cenário econômico e também para a mudança de comportamento do público partindo culturalmente de Minas Gerais para as demais regiões do Brasil.
Em 2024, o Comida di Buteco movimentou cerca de R$ 350 milhões nacionalmente. A expectativa, segundo a organização, é de que este número seja superado neste ano com a previsão de 1,5 milhão de pessoas votando e frequentando os estabelecimentos, número 50% superior ao fluxo de público registrado na edição do ano passado.
“Esse valor gerado economicamente aconteceu durante o concurso, mas há um detalhe interessante, pois geralmente, os estabelecimentos costumam registrar um movimento ainda intenso por uns três a quatro meses após o concurso”, avalia Maria Eulália.
Para ela, os botecos passaram a ser um vetor econômico e o Comida di Buteco corrobora essa inclusão. “Nós somos uma plataforma de desenvolvimento socioeconômico. O protagonismo desses estabelecimentos, com o envolvimento junto ao concurso, ajudou até na própria percepção de ambientes que fomentam a cultura, o turismo e a gastronomia”.
Ela continua: “O concurso ajuda a estruturar a cozinha de raiz no cenário da gastronomia. Um turista internacional que vem ao Brasil, quando tem contato com os botecos tradicionais, tem contato com uma gastronomia raiz e com a sua cultura. Isso é um impacto extremamente positivo”, conclui Maria Eulália.
Confira alguns dos bares participantes da edição 2025
Alexandre’s Bar
- Prato: O fabuloso discão
- (Polpetone com recheio de muçarela acompanhada com caponata de berinjela e abobrinha).
- Rua David Alves do Vale, 68 | Santa Rosa, Belo Horizonte – MG

Amarelim do Prado
- Prato: Trem de roças
- (Bochecha de porco na cama de angu mole, pesto de horta, mandioca e agrião. Acompanha pão e patê de fígado de galinha).
- Avenida Francisco Sá, 658 | Prado, Belo Horizonte – MG
Arcos Bar
- Prato: Panela da Diversidade
- (Acém cozido com ervas finas, acompanhado com batata rústica).
- Rua da Bahia, 1144 | Centro, Belo Horizonte – MG
Armazém Santa Amélia
- Prato: Segredo do Armazém
- (Polenta cremosa com ragu de carnes cheio de sabor, agrião fresco, crispy de parmesão e um toque secreto para abrilhantar as Bodas de Prata do Comida di Buteco).
- Avenida da Sinfonia, 253 | Santa Amélia, Belo Horizonte – MG
Avalanche Espeteria
- Prato: Milão Maluco
- (Ossobuco cozido ao molho tradicional, acompanhado com purê de batata e farofinha da casa).
- Avenida Doutor Álvaro Camargos, 1113 | São João Batista, Belo Horizonte – MG
Azougue Fogo e Bar
- Prato: Língua da vovó Virinha
- (Língua de boi assada, sobre creme de batata e milho com vinagrete mineiro e redução do caldo da própria língua com cerveja).
- Rua do Ouro, 835 | Serra, Belo Horizonte – MG

Baiuca
- Prato: Canelada Suína
- (Panturrilha suína, mandioca cozida com queijo e manteiga, cebola assada e crispy de couve).
- Rua Piauí, 1884 | Funcionários, Belo Horizonte – MG
Bar Bambú
- Prato: Camarão que dorme?
- (Batata recheada com strogonoff de camarão).
- Rua Divisa Nova, 670 | Salgado Filho, Belo Horizonte – MG
Bar Bendita Baderna
- Prato: Parabéns CDB
- (Coxinhas recheadas para todos os gostos, massa de abóbora com recheio de frango com quiabo, massa de mandioca com recheio de carne de lata (suína) e massa de beterraba com recheio de alho-poró com queijo canastra).
- Rua Silva Fortes, 47 | União, Belo Horizonte – MG
Bar da Cíntia
- Prato: Língua bêbada
- Língua marinada na cerveja Caracu, cheiro-verde, mandioca cozida na manteiga de garrafa.
- Rua Pastor Rui Franco, 257 | São João Batista (Venda Nova), Belo Horizonte – MG

Para conferir a lista completa de estabelecimentos participantes, acesse o site oficial do evento
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