Conheça o documentário que explora o legado de Affonso Ávila

A jornalista, escritora, gestora e produtora cultural Eleonora Santa Rosa celebra o legado poético de um dos ensaístas e poetas mais brilhantes da segunda metade do século XX do Brasil, o mineiro Affonso Ávila, no documentário “Cristina 1300 – Affonso Ávila – Homem ao termo”, seu primeiro longa-metragem, cuja pré-estreia será realizada nesta terça-feira (26), às 20h30, no Cine Belas Artes (rua Gonçalves Dias, 1.581, Lourdes). Serão duas sessões que acontecerão simultaneamente em salas separadas exclusivas para convidados e uma cota reservada para espectadores, que deverão chegar com 60 minutos de antecedência para a retirada gratuita dos ingressos (sujeito à lotação).
O documentário faz um mergulho profundo na poesia construtivista, experimental, crítica e singular de Affonso Ávila, que participou do início do projeto de concepção do filme em 2010, com gravações feitas em sua casa, à rua Cristina, 1.300, no bairro Santo Antônio, em Belo Horizonte , como também em Ouro Preto, cidade de sua predileção. A obra traz também leituras do poeta em estúdio, que dois anos antes da sua passagem, em 2012, manifestou seu desejo de tornar o projeto realidade.
“O próprio autor apresenta sua visão poética e suas diversas fases de criação artística, em articulação com animações, recortes fotobiográficos e contrapontos sonoros”, descreve Eleonora Santa Rosa, ressaltando que a ideia principal do documentário é apresentar o poeta por ele mesmo, como um cidadão comum, e ampliar o interesse das pessoas pela poesia e pela instigação que ela provoca.
Eleonora Santa Rosa, responsável também pelo argumento, roteiro e produção executiva, que contou com a codireção de Marcelo Braga de Freitas, conviveu com o poeta por mais de três décadas, profissional e familiarmente, e desejava reverberar entre o grande público a trajetória poética refinada e crítica de quem tinha um domínio pleno da língua e da linguagem, com jogos, aliterações, torções, apropriações, montagens, subversões de sentidos e novos significados.
“Affonso Ávila teve uma carreira reconhecida e muito respeitada como ensaísta e pesquisador do barroco, especialmente o mineiro, e apesar de ser um dos maiores poetas contemporâneos do país, sua produção poética ficava mais restrita ao consumo dos seus pares. Senti uma urgência em produzir esse material rico e inédito desse autor profundamente original, que não se encaixa em nenhuma escola literária específica, sobretudo contemporâneo, para o conhecimento de todos que apreciam poesia e literatura”, enfatiza.
Desafio
Eleonora Santa Rosa define o projeto, que começou a ser concebido em 2010 e passou por uma extensa trajetória de idas e vindas para ser concretizado somente agora, como um exercício de crença absoluta na importância do poeta para a cultura brasileira.
“O documentário é uma lição de resistência, resiliência, persistência e insistência, porque foi desafiador em vários sentidos – desde a sua estruturação diferenciada do padrão usual dos filmes, da questão financeira, do falecimento do Affonso, das incompatibilidades técnicas de uma película que começou a ser gravada lá atrás, da pandemia e até mesmo da escolha de uma equipe que entendesse o âmago do filme”, avalia.
A trilha sonora, por exemplo, é um elemento central, um fator estruturador da obra, não ilustrativo, que dialoga com a poesia. Lucas Miranda, jovem compositor de Belo Horizonte, “fez um trabalho extraordinário, laborioso e artesanal”, nas palavras da diretora. Igualmente crucial, a identidade visual, desenvolvida pela Voltz Design (Alessandra Soares e Cláudio Santos Rodrigues), e a montagem de Breno Fortes, trabalho de parceria estreita e conjunta.
O aspecto visual sempre foi importante para Affonso. Para ilustrar, Eleonora conta que o “&”, ícone desenvolvido pelo também poeta e artista gráfico Sebastião Nunes para o livro “Cantaria Barroca” (1973-1975), de Affonso Ávila, era um elemento-chave da publicação. No documentário, esse mesmo ícone, agora reestilizado, foi utilizado para “unir e atravessar as partes do filme compondo um contínuo heterogêneo”, conforme aponta o professor do Departamento de Comunicação Social da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFMG, Eduardo de Jesus, que assina a apresentação do filme na plaquete editorial especialmente produzida e que será presenteada ao público presente.
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