Diamantina revive memórias e patrimônio com a exibição de ‘Passos de uma Casa’; veja o trailer

Nesta sexta-feira (4), o centenário Teatro Santa Izabel, em Diamantina, na região Central de Minas Gerais, será palco de um evento que transcende a mera exibição de um documentário. “Passos de uma Casa”, produzido pela TV UFMG, não é apenas um filme sobre a Casa da Glória, um dos ícones arquitetônicos da cidade histórica erguido no século XVIII. É uma imersão nas memórias afetivas que permeiam suas paredes e corredores, um resgate das histórias de “pessoas comuns” que, à margem dos relatos oficiais, teceram laços profundos com este patrimônio.
Assista ao trailer:
Sob a direção da jornalista e produtora audiovisual Olívia Érika Alves Resende, o documentário foge do lugar-comum das narrativas históricas tradicionais. Em vez de focar em grandes feitos e personagens célebres, a produção lança luz sobre as vivências daqueles que, por diferentes motivos, sempre mantiveram um olhar atento à Casa da Glória.
São histórias de curiosidade, de admiração silenciosa, de encontros fortuitos e de memórias que se entrelaçam com a própria história da cidade. Em outro aspecto, a exibição em Diamantina ganha contornos ainda mais significativos por se inserir em um contexto de revitalização da Casa da Glória.
Desafios e desdobramentos com a produção
O imóvel, construído majoritariamente em madeira, sofreu com a ação de cupins e necessitava de uma intervenção urgente. Graças a um edital de preservação cultural da Embaixada dos Estados Unidos, recursos foram destinados para reforma e dedetização.
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A produção do documentário, por sua vez, surgiu como um desdobramento desse projeto de revitalização, com o objetivo de divulgar o patrimônio para um público internacional.
O processo de produção, no entanto, não foi isento de desafios. A equipe da TV UFMG chegou a Diamantina em um momento em que a Casa da Glória passava por reformas, com suas paredes vazias e objetos guardados.

A solução encontrada foi usar a criatividade para recriar a atmosfera do local, com a permissão de colocar fotos e outros elementos nos espaços escolhidos. O resultado é um documentário que, mesmo diante das adversidades, consegue captar a essência da Casa da Glória e a importância que ela possui para a comunidade local.
Comandando a produção da obra, a jornalista Olívia Resende explica: “Nós pedimos autorização para mexer nesses objetos que fazem parte da casa, como um piano antigo, máquina de escrever e vidros. Também exploramos o som de areia usada em laboratórios de laminação”, diz.

Auxiliando na produção, o professor da Escola de Belas Artes da UFMG Jalver Machado Bethônico ficou responsável pela captação dos sons. “É como se a voz da casa estivesse permeando todas as vozes que formam o documentário. Íamos para a casa de madrugada para capturar sons. Capturamos o som do passadiço de dentro e fora dele”, lembra Olívia Rezende. “Qual seria a voz da casa? E qual a perspectiva dela? Ela conta muitas histórias, tem materialidades e acústicas diferentes”, acrescenta.
A diretora reforça que a Casa da Glória é um patrimônio da comunidade regional de Diamantina. “É por isso que as pessoas precisam frequentar o espaço”, aconselha. Ela enfatiza a importância de promover um olhar sobre a Casa integrada ao cotidiano comum, seja de uma pessoa que trabalhou lá, ou de alguém que apenas teve a oportunidade de visitá-la. É o caso de Marcelo Brant, artista visual entrevistado, que tem a Casa como inspiração para a sua arte.
Será um momento de celebração, de reconhecimento da importância do patrimônio cultural e de valorização das histórias que o habitam. “Passos de uma Casa” é mais do que um documentário. É um convite a revisitar o passado, a reconhecer a importância da memória e a celebrar a beleza da história que se constrói no dia a dia, pelas mãos de pessoas comuns.
Resgate, vivências e restauração em Diamantina
A reitora da UFMG, Sandra Goulart, destaca que existe uma convergência entre os projetos, enfatizando que a UFMG e a cidade de Diamantina atuam como instrumentos de resgate da memória coletiva.
“De certa forma, eles restauram a memória e as vivências das pessoas”, afirma a dirigente, evocando a célebre frase da escritora Adélia Prado: “O que a memória ama fica eterno”.
A delicadeza do processo de restauração foi sublinhada pela reitora, que garantiu o empenho da universidade em preservar a estrutura, reconhecendo seu valor histórico e simbólico.
O passadiço da Casa da Glória, imagem-símbolo da cidade, possui reconhecimento internacional e evoca um passado rico em acontecimentos. O local também abrigou diversas edições do Seminário de Economia Mineira, evento tradicional da Faculdade de Ciências Econômicas da UFMG, solidificando seu papel como palco de debates e ideias.
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