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Eletromobilidade: desafios e soluções para instalação de pontos de recarga em condomínios

Com o aumento dos veículos elétricos, condomínios precisam se adaptar; saiba como lidar com os custos, evitar conflitos e garantir infraestrutura adequada para recarga
Eletromobilidade: desafios e soluções para instalação de pontos de recarga em condomínios
Foto: Divulgação Somattos Engenharia

A eletromobilidade vem ganhando espaço em Minas Gerais e no restante do Brasil, provocando mudanças estruturais em diversos segmentos. Entre eles está o mercado imobiliário, em razão da necessidade de instalação de pontos de recarga nas garagens dos condomínios. Essa questão ainda gera dúvidas e, se não for tratada da forma adequada, pode causar conflitos.

A professora de Engenharia Elétrica do Centro Universitário FEI, Michele Rodrigues, relata que, em diversos prédios do País, a instalação dos pontos de recarga ocorreu de forma desordenada. Nesses casos, cada morador contrata um eletricista e realiza a instalação sem padronização ou coordenação da capacidade total disponível.

“O problema é conhecido no mercado como lock-in elétrico ou gargalo de expansão. O edifício consegue atender alguns usuários iniciais, mas inviabiliza a inclusão dos demais”, explica a professora.

Esse tipo de situação pode levar ao esgotamento prematuro da capacidade elétrica do condomínio. A ausência de padronização técnica, segundo a especialista, representa riscos à segurança elétrica e dificulta manutenções e inspeções.

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Se alguns moradores garantirem seus pontos antes de outros, a situação pode gerar conflitos, ações judiciais e até a paralisação de novas autorizações pela administração do condomínio. Outra consequência da instalação incorreta de carregadores de veículos elétricos é a dificuldade de implantação posterior de gestão de carga.

“Em muitos casos, é preciso refazer parte da instalação elétrica, o que acarreta custos elevados para o condomínio”, acrescenta.

Questões envolvendo custos de tarifa de energia e investimentos

Carro elétrico
Foto: Reprodução Adobe Stock

Outro ponto de conflito nos condomínios é a cobrança da energia consumida pelos carregadores. Segundo a professora da FEI, o rateio na conta condominial é inviável no longo prazo. A recomendação é instalar submedidores distribuídos por vaga, integrados a sistemas de gestão por aplicativo, que registram o consumo individual de energia e permitem a cobrança automática.

“Essa solução é ainda mais crítica em prédios com vagas rotativas, exigindo regras claras de uso, controle do tempo de conexão e eventuais penalidades por ocupação indevida”, afirma a professora.

Para Michele Rodrigues, a individualização é essencial para assegurar maior justiça na cobrança. A instalação de submedidores por ponto de recarga evita o subsídio cruzado entre moradores e possibilita a geração de relatórios de uso, inclusive com integração a sistemas de pagamento automático.

Em muitos condomínios, a maior barreira para a instalação de pontos de recarga é o investimento inicial. Esse tipo de projeto deve ser aprovado em assembleia condominial, com atualização da convenção ou do regimento interno. Entre as opções disponíveis, predominam dois modelos: Capex do condomínio e o modelo as a service.

O primeiro modelo envolve investimento coletivo, diluído nas taxas condominiais, com pontos compartilhados ou individuais. Já o segundo consiste na contratação de empresas terceirizadas responsáveis pela instalação, operação e cobrança diretamente dos usuários, sem necessidade de aporte inicial do condomínio.

“A definição do modelo impacta diretamente a velocidade de adoção e o nível de adesão dos moradores”, ressalta.

Na avaliação da especialista, a contratação de uma empresa especializada acelera a adoção dos pontos de recarga, transfere a responsabilidade da manutenção ao prestador de serviço e permite que o condomínio evite grandes gastos de recursos.

Expandindo a capacidade elétrica do condomínio

Carro elétrico estacionado em uma vaga de garagem exclusiva.
Foto: Reprodução Freepik

Para garantir expansão escalável, Michele Rodrigues destaca que é necessário estabelecer padrões internos de potência e corrente por ponto de recarga. Outro ponto importante é a implementação de sistemas de gestão de demanda que redistribuem a potência disponível entre os carregadores, evitando ultrapassar a demanda contratada com a distribuidora.

Além disso, é necessário realizar alguns estudos técnicos para avaliar a capacidade disponível da entrada de energia. A partir desse diagnóstico, define-se a criação de um “Quadro Específico para Veículos Elétricos (QE-VE)”, com alimentadores dedicados, devidamente dimensionados conforme exigido nas normas técnicas.

“Este laudo fornece embasamento técnico para aprovação condominial e, quando necessário, para solicitação de aumento de carga junto à distribuidora”, esclarece.

Uma das formas de evitar sobrecarga da infraestrutura existente é a adoção de um gerenciamento dinâmico de potência. A professora relata que nesse modelo a corrente entregue a cada carregador é limitada de forma automática, de acordo com a demanda instantânea do edifício. Isso possibilita o ajuste fino da corrente e prioriza o uso da capacidade contratada sem a necessidade imediata de reforço.

Outra medida fundamental é a adesão à tarifa branca, que define valores distintos conforme o horário de consumo, ou a outras modalidades semelhantes oferecidas pela distribuidora de energia. Essa opção tarifária permite transferir a maior parte da recarga para períodos fora de ponta.

“Associada ao agendamento noturno via aplicativos ou wallboxes programáveis, essa estratégia reduz os custos de energia para os usuários e diminui a sobrecarga da infraestrutura predial nos horários de maior consumo coletivo”, completa.

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