Variedades

Espetáculo “Ave” aborda as novas lógicas sociais

Projeto híbrido entre a dança e o teatro, "Ave" terá três sessões, todas traduzidas em libras
Espetáculo “Ave” aborda as novas lógicas sociais
Crédito: Gilberto Goulart

Livremente inspirado em questões provocadas pela comédia grega “As Aves” – escrita por Aristófanes (414 a.C.) – o espetáculo “Ave” mergulha no universo de cores, sons e movimentos dos pássaros, explorando linguagens diversas como o cabaré, a dança contemporânea e a comédia popular. A montagem é um projeto híbrido entre a dança e o teatro desenvolvido a partir do encontro de dois coletivos de Belo Horizonte: a Ananda Cia de Dança e o Núcleo de Criação Sapos e Afogados. “Ave” poderá ser vista gratuitamente amanhã, às 19h, no Centro Cultural Venda Nova (rua José Ferreira Santos, 184 , bairro Jardim dos Comerciários). Encerrando a temporada, a Funarte MG (rua Januária, 68, Centro) será o palco da produção na sexta-feira (10) e sábado (11), às 19h com entrada gratuita. Todas as sessões contarão com tradução em libras.

O projeto é tecido por uma procura de uma arte teatral e coreográfica. Não se trata de um teatro dançado ou de uma dança encenada, mas de um entre lugar que surge desta coexistência e de uma qualidade específica de presença que abraça o gesto, o som, a voz, o texto. Sob direção de Anamaria Fernandes e Juliana Barreto, em cena estarão oito atores e nove dançarinos, entre eles uma criança. “Ave” tem dramaturgia original assinada por João Santos – desenvolvida em parceria com a equipe artística do espetáculo. Um ponto fundamental para a pesquisa gestual e musical do trabalho, foi o mergulho em espécies diversas de aves: seu voo singular ou coletivo, seu canto e seu caminhar.

A diversidade dos performers contribui consideravelmente para a teatralidade dançante do espetáculo, na medida em que os corpos expõem sua diferença, sua fragilidade e sua força. “Ave é um trabalho que preza pela diversidade e o respeito às diferenças individuais e é a partir deste pilar que a criação se funda. Nos interessa investigar tal ponto de conjunção nas pesquisas dos dois coletivos, revelando como a diversidade corporificada em nossos artistas pode tomar um caminho diverso daquele que Aristófanes desenhou para sua cidade de pássaros”, explica Anamaria Fernandes.

Sistema

“Ave” propõe investigar jornadas individuais e coletivas na fundação de novas lógicas sociais, novas relações e uma nova realidade. “De atualidade impressionante, o texto de Aristófanes provoca uma questão sobre a qual o projeto pretende, também, se basear: na comédia grega os protagonistas que pregavam contra um sistema autoritário e corrupto acabaram por se tornar, eles mesmos, autoritários. E como é possível, àqueles que criticam o sistema, protegerem-se contra as tentações do poder? Quando o sonho do oprimido é se tornar opressor? Queremos nos empoderar de quê? Que mais, diferente disso tudo, podemos sonhar?”, complementa Juliana Barreto.

O Sapos e Afogados foi formado em 2002 por meio do trabalho da atriz Juliana Barreto. Os atores desenvolvem pesquisa na área teatral e audiovisual. O trabalho busca, na prática teatral, aliada a pesquisas e estudos da verdade de cada ator, um novo campo de criação. A partir da perspectiva e da lógica delirante, que oferta a psicose, é permitido o fazer artístico por parte de cada um dos integrantes dentro de sua lógica.

A Cia Ananda foi fundada em 2017 pela dançarina e coreógrafa Anamaria Fernandes, juntamente com 20 outros artistas. Foi projeto de extensão da UFMG até o ano de 2020. Desde 2021, a companhia se configura como um coletivo de artistas que promove múltiplas atividades: espetáculos de dança contemporânea, oficinas temáticas, formações, palestras e criações de filmes. Todas essas ações compartilham uma abordagem artística comum: a estética da diferença, a estética da diversidade. Através de seu trabalho de criação e oficinas, a Ananda funda sua pesquisa e ações em torno da investigação gestual e vocal, da autoralidade, da noção do encontro, da diversidade, do compartilhamento e da acessibilidade. Ela confere uma atenção especial aos públicos que enfrentam dificuldades de acesso a direitos sociais e culturais fundamentais.

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