Exposição Playmode tem estreia nacional em BH
Unir diversão a reflexão. Essa é a sedutora proposta da exposição coletiva Playmode, que faz a estreia nacional hoje no Centro Cultural Banco do Brasil Belo Horizonte (CCBB BH), indo posteriormente para o Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília.
A mostra exibirá 44 peças, muitas interativas, de artistas de todo o mundo. Sete deles são brasileiros. Quando se fala em jogos, especialmente os digitais, é natural pensar em diversão. No entanto, a mostra produzida pela N+1, com curadoria dos portugueses Filipe Pais e Patrícia Gouveia, utiliza o caráter lúdico dos jogos para propor uma reflexão social e política sobre a atualidade.
“Buscamos obras que representem a revolução digital que nós vivemos e que apresentem as necessidades básicas humanas de interagir, de se espelhar no outro e de resistir à imobilidade”, descreve Patrícia Gouveia. “O Brasil é muito grande, tem uma população diversa e esperamos que as pessoas se envolvam ainda mais com a proposta”, avalia Filipe Pais. “Assim como os portugueses, os brasileiros são curiosos, querem conhecer e participar”, completa o curador.
Filipe Pais enfatiza que a interatividade de algumas das peças apresentadas convida o visitante a uma participação ativa, que coloca o público diante de experiências lúdicas, sensoriais e conceituais. “Os jogos criam um mundo à parte, alterando as nossas perspectivas e formas de ver as realidades que nos envolvem”, explica. “Para o CCBB BH receber a mostra coletiva Playmode representa a oportunidade de levar ao público a inusitada ligação entre arte contemporânea e jogo. É brincadeira e observação ao mesmo tempo, tendo as novas tecnologias como suporte nessa jornada”, observa Gislane Tanaka, gerente-geral do CCBB BH.
Ao propor uma reflexão sobre a faceta lúdica da sociedade contemporânea, a Playmode divide os trabalhos dos artistas em três grandes eixos: “Modos de desconstruir, de modificar e de especular”; Modos de participar e de mudar” e “Modos de transformar, de sonhar e de trabalhar”. No primeiro eixo encontram-se obras que exploram os modos de jogar. Valendo-se de jogos bem conhecidos, propõe a transformação de regras e mecanismos já automatizados pelos usuários desses jogos. Sugere-se, nessa dinâmica, a revisão de conceitos como resistência e o estímulo para promover novas visões do mundo contemporâneo.
Xadrez
É o eixo com maior quantidade de obras na mostra. Lá se encontra o protótipo do “Xadrez Auto Criativo” (2019), de Ricardo Barreto e Raquel Fukuda. A instalação propõe uma reformulação do xadrez clássico. Os seis tabuleiros distribuídos na mesa, previamente determinados pelos artistas, demonstram jogos possíveis com os quais os visitantes de Playmode poderão interagir a partir de regras tradicionais do xadrez.
Destacam-se neste eixo também o “Cubo de Dados” (1970), de Nelson Leirner – obra que se vale de dados clássicos para brincar com a geometria espacial e transformar a forma cúbica simples em uma escultura fractal – e a “Mesa de Jogos” (2020), de Laura Lima e Marcius Galan. Essa obra consiste numa apresentação unificada de diferentes jogos de tabuleiro e de cartas em cima de uma mesa, possibilitando que todos eles possam ser usados ao mesmo tempo – embaralhando as regras e exigindo dos participantes um acordo sobre elas.
O eixo 2 compreende obras cujo objetivo é convocar a atenção mais profunda dos visitantes: além da participação ativa nos jogos, mobiliza-se a consciência das decisões tomadas ao longo da partida. Consequentemente, as peças digitais desse eixo acabam por estimular a mudança de perspectivas em relação à realidade e às maneiras de lidar com ela.
No bloco expositivo se encontra a obra “Everything” (2017), de David OReilly. Trata-se de um game de simulação em que um jogador pode explorar diferentes criaturas e objetos, adquirindo paisagens e planetas, enquanto tem acesso a citações narradas pelo filósofo Alan Watts, conhecido por popularizar reflexões filosóficas de pensadores clássicos e modernos.
O terceiro e último eixo da mostra evidencia o poder dos jogos em construir sonhos e a capacidade de promover o deslocamento do jogador para espaços imaginários. Além desse aspecto lúdico, inerente a qualquer jogo, o terceiro grupo enfatiza a capacidade de transformação das estruturas cognitivas, físicas e sociais latentes no jogo e no ato de jogar.
Estão presentes na mostra artistas e estúdios, produtores e coletivos da Alemanha, Brasil, Croácia, Estados Unidos, França, Grécia, Nova Zelândia, Portugal e Japão. São eles: Aram Bartholl, Bill Viola + Game Innovation Lab, Bobware, Brad Downey, Brent Watanabe, Coletivo Beya Xinã Bena + Guilherme Meneses, David OReilly, Filipe VilasBoas, Harum Farocki, Isamu Noguchi, Jaime Lauriano, Joseph DeLappe, Laura Lima + Marcius Galan, Lucas Pope, Mary Flanagan, Mediengruppe Bitnik, Milton Manetas, Molleindustria, Nelson Leirner, Pippin Barr, Priscila Fernandes, Raquel Fukuda + Ricardo Barreto, Samuel Bianchini, Shimabuku, Tale of Tales (Auriea Harvey e Michaël Samyn) e The Pixel Hunt.
Ouça a rádio de Minas