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Exposição reúne mais de 100 obras inéditas em BH

"Nossa Modernidade", mostra com 59 artistas mineiros e nacionais, fica em cartaz até 20 de novembro e a entrada é gratuita
Exposição reúne mais de 100 obras inéditas em BH
Crédito: Raquel Guerra

A Errol Flynn Galeria de Arte (rua Curitiba, 1.862, Lourdes) abre hoje suas portas ao público para a inauguração da exposição “Nossa Modernidade”. Sob curadoria do jornalista e crítico de arte Olívio Tavares de Araújo, a mostra reúne mais de 100 obras inéditas, em Belo Horizonte, entre pinturas, esculturas, guaches e desenhos, de 59 artistas mineiros e nacionais como Di Cavalcanti, Portinari, Poteiro, Ismael Nery, Tomie Ohtake, Cícero Dias, Guignard, Inimá de Paula, Yara Tupynambá e tantos outros. A exposição fica em cartaz para visitação até 20 de novembro, de segunda a sexta-feira, das 10h às 18h, e aos sábados, das 10h às 13h. A entrada é gratuita.

“O termo modernidade não é uma variante de modernismo, que, no Brasil, designa um movimento específico, que tem até data de nascimento: fevereiro de 1922, com a Semana de Arte Moderna em São Paulo. Claro que marcos desse tipo são simbólicos e pretendem facilitar a leitura da própria História. Mas nesta mostra, por modernidade desejo designar um dado espírito atemporal, mas também e, sobretudo, a produção artística que, partindo daquele modernismo, perpassa o século XX e se prolonga até os dias atuais”, contextualiza o curador.

A mostra reúne trabalhos de artistas de diferentes períodos da expressão modernista de Minas e do Brasil: desde o pai da Semana de Arte Moderna Di Cavalcanti até trabalhos do desenhista Ismael Nery, que não participou em 1922 por ser muito jovem e desconhecido. “A Semana de 22 foi um movimento da elite paulistana patrocinado pelos barões do café; o pai da própria Tarsila possuía 32 fazendas no interior do Estado. Artistas proletários, imigrantes ou filhos de imigrantes, bem menos vanguardistas e que viviam de ofícios correlatos, ficaram marginalizados”, pontua.

Olívio Araújo relata que os modernistas “não oficiais” reagiram à exclusão, em 1935, com a criação do Grupo Santa Helena, ao qual pertenceu Clóvis Graciano, um dos artistas presentes na mostra. “A História registra ainda um terceiro momento modernista, que traz a política à pintura. Portinari figura como o grande pintor engajado dos anos 30 e 40, autor de obras de denúncia. Lívio Abramo, outro grande expoente, por fazer gravura, aparece muito menos”, ressalta.

Se a Semana de 22 dá luz ao modernismo, pode-se dizer que a primeira Bienal de São Paulo, inaugurada em 1951, representa a data de batismo das tendências abstratas. A primeira a se impor foi a geométrica, estilo representado na mostra “Nossa Modernidade” por Ivan Serpa, um dos precursores no Brasil.

“Existe uma teoria segundo a qual os países latino-americanos, em resposta à entropia tropical e à desorganização (inclusive política) em que vivem mergulhados, possuem uma ‘vocação construtivista’, uma arte ‘limpa’, feita antes com a razão do que com a emoção (objetiva e progressista), mas que estaria mais em sinergia com o momento desenvolvimentista da nação brasileira: a implantação da indústria automobilística, a construção de Brasília, etc”, analisa o curador.

“Fase negra”

Porém, Ivan Serpa também experimentou, segundo Olívio, o figurativo e, no início dos anos 1960, o que foi nomeado como sua “fase negra”: pintura sem cor, ostentando enormes rostos femininos no mais vigoroso gestual expressionista, terrivelmente deformados, quase assustadores. “Como contribuição à história da arte em Minas, conto-lhes que Chanina ficou vivamente impressionado com uma pioneira exposição em Belo Horizonte da fase negra (tão oposta à sua pintura), veio comentá-la comigo e depois pintou um pequeno quadrinho expressionista, que me deu de presente. Deve ser único em sua produção”, recorda.

Chamam a atenção durante a visitação, segundo o curador, trabalhos dos mineiros Amílcar de Castro, Marcos Benjamim e Roberto Vieira. Citando o jornalista, poeta e crítico carioca Roberto Pontual: autores de obra “incondicionalmente mineira”. Para concluir, o curador Olívio Tavares de Araújo comenta a homenagem à artista Yara Tupynambá (foto): “Dama das artes de Minas Gerais, eterna artista, Yara Tupynambá trouxe robusta contribuição cultural em toda sua trajetória, seja com a elaboração de grandes murais tombados pelo Patrimônio Histórico, seja pela formação e orientação técnica de artistas e pessoas em cursos de história da arte e também pelo reconhecido trabalho de identificação e valorização dos valores e riquezas de Minas Gerais”.

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