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Inspirada em vivências de perita criminal, exposição ‘Ruídos’ estreia no CCBB de BH

A artista paraense Berna Reale apresenta recortes de sua produção em projeto inédito em Belo Horizonte
Inspirada em vivências de perita criminal, exposição ‘Ruídos’ estreia no CCBB de BH
Autora, natural de Belém, é perita criminal e expressa em suas obras as vivências em persídios | Crédito: Filipe Nyland

Estreia nesta quarta-feira (10), em Belo Horizonte, uma exposição sobre um Brasil que parece estar muito distante da ordem e do progresso. O País que a artista de Belém (PA), Berna Reale, apresenta, pode ser conferido gratuitamente no projeto inédito “Ruídos”, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB).

A vivência como perita criminal e experiência nos presídios brasileiros deu à artista uma vontade de expressar sua intimidade com os cadáveres. A trajetória de Berna Reale caminha por expressões de um trabalho que mistura verniz, veludo, barroco, cores e sensualidade, mas também desabafo, dor, grito e silêncio. São obras em fotografias, objetos, performances, pinturas e vídeo.

Em entrevista ao DIÁRIO DO COMÉRCIO, o curador da exposição, Silas Martí, conta que as obras possuem “uma placidade muito potente, muito forte, cores vivas e envolventes, mas as camadas internas delas não são nada sedutoras”.

“O trabalho de Berna Reale se constrói a partir de contrastes muito fortes. A ideia da exposição é mostrar dois lados: o público e o privado. No fundo ela (Berna Reale) está falando de violência e desigualdades, duas questões políticas que atravessam o Brasil”, revela Martí.

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Ainda segundo Martí, que também é jornalista e crítico de arte, a mostra tem um importante ponto de reflexão sobre as violências.

“Há a violência privada que acontece contra a mulher, por exemplo, que ocorre em ambiente doméstico, que as pessoas não veem e muitas vezes não é denunciado. Mas, há também a violência do âmbito público, que são obras sobre a violência política, de opressão, muito marcada pela ditatura militar, e que ainda ocorre por forças armadas, policiais autoritários, fiscais opressores. Um estado exacerbado”, relaciona.

Narrativas singulares sobre a violência

A exposição conta com mais de 30 obras em vários ambientes. Um dos destaques é a obra “Blitz”, fotografia digital impressa com pigmento mineral sobre papel algodão, do ano de 2022. “A obra mostra o penteado, a sensualidade da mulher, mas evidencia, ao mesmo tempo, a violência”, explica Martí.

“Blitz”, fotografia digital impressa com pigmento mineral sobre papel algodão, do ano de 2022 | Crédito: Berna Reale/Ruídos

A artista Berna Reale conta que a vinda de “Ruídos” para Belo Horizonte era um desejo. A exposição é um trabalho pensando por alguns anos, de 2009 a 2023, e que o nome dado à mostra surge de um incômodo.

“Incômodo daquilo que se apresenta muitas vezes de forma fragmentada e por se assemelhar à sonoridade da palavra ‘roído’ que, por sua vez, se refere a um pedaço que falta, que causa desconforto, estranhamento e violência, por menor que seja, que nos desestabiliza”, detalha a artista.

Ela também declara que “é um privilégio estar em Minas Gerais”, e elogia a curadoria de sua obra.

“A exposição é um trabalho que teve um cuidado primoroso do Silas (curador) na intenção de mostrar o que é duro, cruel e difícil, com uma performance agradável, com uma estética que as pessoas costumam pensar, e espero que o público goste do que vai conferir aqui no CCBB”, comenta.

Exposição Ruídos estreia dia 10 de abril e vai até o dia 10 de junho | Crédito: Diário do Comércio/Dione As.

O que mais pode ser conferido na exposição?

  • As obras “Palomo” (2012) e Rosa Púrpura (2014) juntam-se às pinturas pouco vistas pelo público;
  • “Cordeiro” (2021), tinta a óleo sobre tela;
  • “Ordinário” (2013);
  • “Olha pra mim” (2022);
  • “Cabeças Raspadas” (2022).

Impossibilitada de fazer performance em espaços abertos durante o período da pandemia da Covid-19, Berna Reale retornou à pintura. “Escolho a técnica a partir da ideia que tenho para um trabalho, busco a forma de executá-lo melhor. Antes, só havia pintado na universidade. Então, não passei para a pintura, voltei a pintar”, conclui.

A exposição fica em cartaz até o dia 10 de junho, de quarta a segunda, das 10h às 22h. A entrada é gratuita, mediante retirada de ingresso no site ccbb.com.br/bh ou na bilheteria física do CCBB-BH.

Obras; “Olhe pra mim” (2022) e “Cordeiro” (2021) | Crédito: Diário do Comércio/Dione As.
Entrada para a exposição é gratuita no CCBB Belo Horizonte | Crédito: Dione As.

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