Inspirada em vivências de perita criminal, exposição ‘Ruídos’ estreia no CCBB de BH

Estreia nesta quarta-feira (10), em Belo Horizonte, uma exposição sobre um Brasil que parece estar muito distante da ordem e do progresso. O País que a artista de Belém (PA), Berna Reale, apresenta, pode ser conferido gratuitamente no projeto inédito “Ruídos”, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB).
A vivência como perita criminal e experiência nos presídios brasileiros deu à artista uma vontade de expressar sua intimidade com os cadáveres. A trajetória de Berna Reale caminha por expressões de um trabalho que mistura verniz, veludo, barroco, cores e sensualidade, mas também desabafo, dor, grito e silêncio. São obras em fotografias, objetos, performances, pinturas e vídeo.
Em entrevista ao DIÁRIO DO COMÉRCIO, o curador da exposição, Silas Martí, conta que as obras possuem “uma placidade muito potente, muito forte, cores vivas e envolventes, mas as camadas internas delas não são nada sedutoras”.
“O trabalho de Berna Reale se constrói a partir de contrastes muito fortes. A ideia da exposição é mostrar dois lados: o público e o privado. No fundo ela (Berna Reale) está falando de violência e desigualdades, duas questões políticas que atravessam o Brasil”, revela Martí.
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Ainda segundo Martí, que também é jornalista e crítico de arte, a mostra tem um importante ponto de reflexão sobre as violências.
“Há a violência privada que acontece contra a mulher, por exemplo, que ocorre em ambiente doméstico, que as pessoas não veem e muitas vezes não é denunciado. Mas, há também a violência do âmbito público, que são obras sobre a violência política, de opressão, muito marcada pela ditatura militar, e que ainda ocorre por forças armadas, policiais autoritários, fiscais opressores. Um estado exacerbado”, relaciona.
Narrativas singulares sobre a violência
A exposição conta com mais de 30 obras em vários ambientes. Um dos destaques é a obra “Blitz”, fotografia digital impressa com pigmento mineral sobre papel algodão, do ano de 2022. “A obra mostra o penteado, a sensualidade da mulher, mas evidencia, ao mesmo tempo, a violência”, explica Martí.

A artista Berna Reale conta que a vinda de “Ruídos” para Belo Horizonte era um desejo. A exposição é um trabalho pensando por alguns anos, de 2009 a 2023, e que o nome dado à mostra surge de um incômodo.
“Incômodo daquilo que se apresenta muitas vezes de forma fragmentada e por se assemelhar à sonoridade da palavra ‘roído’ que, por sua vez, se refere a um pedaço que falta, que causa desconforto, estranhamento e violência, por menor que seja, que nos desestabiliza”, detalha a artista.
Ela também declara que “é um privilégio estar em Minas Gerais”, e elogia a curadoria de sua obra.
“A exposição é um trabalho que teve um cuidado primoroso do Silas (curador) na intenção de mostrar o que é duro, cruel e difícil, com uma performance agradável, com uma estética que as pessoas costumam pensar, e espero que o público goste do que vai conferir aqui no CCBB”, comenta.

O que mais pode ser conferido na exposição?
- As obras “Palomo” (2012) e Rosa Púrpura (2014) juntam-se às pinturas pouco vistas pelo público;
- “Cordeiro” (2021), tinta a óleo sobre tela;
- “Ordinário” (2013);
- “Olha pra mim” (2022);
- “Cabeças Raspadas” (2022).
Impossibilitada de fazer performance em espaços abertos durante o período da pandemia da Covid-19, Berna Reale retornou à pintura. “Escolho a técnica a partir da ideia que tenho para um trabalho, busco a forma de executá-lo melhor. Antes, só havia pintado na universidade. Então, não passei para a pintura, voltei a pintar”, conclui.
A exposição fica em cartaz até o dia 10 de junho, de quarta a segunda, das 10h às 22h. A entrada é gratuita, mediante retirada de ingresso no site ccbb.com.br/bh ou na bilheteria física do CCBB-BH.


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