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FCS exibe cinematografia de Vallois

FCS exibe cinematografia de Vallois
Crédito: Reprodução

Com cinco décadas de carreira e 30 filmes realizados, o cineasta francês Philippe Vallois ganha pela primeira vez no Brasil uma mostra dedicada à sua extensa e pungente trajetória. “Philippe Vallois: cartografias do desejo”, realização da Fundação Clóvis Salgado (FCS) e da Embaixada da França no País, apresenta até a próxima-quinta-feira, no Cine Humberto Mauro, um panorama das obras do prestigiado diretor e leva ao público cinco longas e dois curtas metragens.

Além de um passeio pela filmografia do realizador, considerado o pioneiro do cinema LGBT+, o evento vai contar com uma masterclass ministrada por Vallois, que pisa pela primeira vez em território brasileiro, e também com uma noite de celebração para comemorar os 74 anos de vida do artista. A programação é gratuita e também estará disponível com exclusividade, de 26 de agosto a 26 de setembro, na plataforma cinehumbertomauromais.com.

Os longas “Johan” (1976), “Nós Somos um Só Homem” (1979), “Halterofilia: a serpente arco-íris” (1983),  Um perfume chamado Said” (2006), “O círculo dos pervertidos” (2016), e os curtas-metragens “Paris à Noite: Republiqué Bastille” (1976) e “Segredos de Filmagem” (2006) integram a programação, que vai contar com a presença do diretor durante o período da mostra. Com tradução simultânea para o português, Vallois irá ministrar hoje, às 19h30, no Cine Humberto Mauro, uma masterclass sobre sua trajetória no cinema. E na próxima quinta-feira, a partir das 22h, nos jardins internos do Palácio das Artes, o diretor celebra seu aniversário de 74 anos junto ao público do evento.

Pela primeira vez no País, e tendo a primeira mostra dedicada ao seu trabalho em território brasileiro, Philippe Vallois acredita que sua linguagem cinematográfica está mais alinhada à estética do cinema latino que à linguagem de seus conterrâneos. “Esta é a primeira vez que estarei no Brasil e espero, claro, que meus filmes interessem às pessoas. Sinto minha obra mais próxima do cinema espanhol e latino-americano do que dos trabalhos realizados por diretores franceses. Faço filmes sentimentais e sensuais. Os filmes franceses são mais intelectuais ou literários”, conta Philippe Vallois.

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Para Bruno Hilário, curador da mostra e gerente do Cine Humberto Mauro, o trabalho de Vallois preenche uma lacuna importante na cinematografia francesa, principalmente no que se refere à população LGBT+. “O cinema de Philippe Vallois nasce com um desejo muito forte de encontrar aquelas imagens que foram negligenciadas, excluídas, faltantes no cinema francês, que é marcadamente heteronormativo. As imagens de seu cinema se ancoram na realidade dos povos em sua dimensão diversa, partem de um real pouco visto e se desloca para o sonho, para a imaginação de um mundo diferente para si e para todos. É uma obra universal, tocante para cinéfilos de qualquer cidade”, pontua Bruno.

Dentre os destaques da programação está o pioneiro “Johan”. O longa, filmado em 16mm, estreou no Festival de Cannes de 1976. A obra experimenta diversas formas fílmicas (som e imagem), costurando diferentes métodos do fazer cinematográfico. “Ao mesmo tempo em que parte de um senso realista absoluto, característico das práxis documentais, “Johan” culmina em sequências de pura fantasia. Este foi considerado o primeiro longa-metragem realizado por um diretor assumidamente homossexual na história do cinema francês”, explica Bruno Hilário.

“Johan” sofreu inúmeras censuras e teve várias cenas suprimidas à época do lançamento, dificultando a circulação e apreciação do trabalho. “Fui o primeiro diretor a ousar a abordar a homossexualidade. Existiam diretores que não falavam abertamente que eram gays e que faziam somente personagens heterossexuais. Todos os meus amigos me falaram que eu era louco por abordar uma personagem como Johan, e que ninguém me deixaria trabalhar novamente”, afirma Vallois.

Em meados dos anos 2000, quando uma cópia sem cortes de “Johan” é encontrada, o filme obtém repercussão e tem sua relevância reconhecida. “Os dias atuais mudaram bastante, personagens LGBT+ estão em todos os lugares: no cinema, na televisão, documentários, séries, festivais. Isso prova que os gays são mais aceitos hoje do que nos anos 70”, reflete o diretor.

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