Variedades

Símbolo de resistência cultural e artística em Belo Horizonte, Feira Hippie comemora 51 anos

Inicialmente realizada na Praça da Liberdade, em 1991, a feira foi transferida para a avenida Afonso Pena
Símbolo de resistência cultural e artística em Belo Horizonte, Feira Hippie comemora 51 anos
A Feira Hippie começou em 1969, na Praça da Liberdade, ao reunir um grupo de artistas e artesãos influenciados pelo movimento hippie. Foto: divulgação PBH

A Feira de Artes, Artesanato e Produtores de Variedades de Belo Horizonte, conhecida como Feira Hippie de Belo Horizonte, completa 51 anos neste sábado, 26 de outubro, e é considerada um dos maiores símbolos culturais da capital mineira.

O evento atrai milhares de visitantes todos os domingos para a avenida Afonso Pena, sejam eles de Belo Horizonte, do interior de Minas Gerais ou de outros estados, que chegam à Capital para conhecer um pouco do artesanato e da cultura da cidade.

A Feira Hippie começou em 1969, na Praça da Liberdade, ao reunir um grupo de artistas e artesãos influenciados pelo movimento hippie, que buscavam um espaço para expor e vender suas criações.

Em 1973, a feira foi oficializada pela Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), iniciando o que era chamado de Feira da Praça da Liberdade ou Feira da Liberdade, conforme explica o gerente da feira, Gustavo Resgala.

De acordo com ele, Belo Horizonte tem hoje uma feira que se consolidou como referência. “Eu posso dizer isso a nível nacional, uma vez que a gente tem, por muitas vezes, nesses três anos de gestão, outras prefeituras que nos procuram para entender, não só a parte da história da feira, como também a forma como ela é gerida e organizada. Temos feirantes que fizeram história e fazem parte da tradição da produção do artesanato em Belo Horizonte, que atuam ali desde o início, inclusive tem outros que carregam ali uma história de mais de 30 anos na feira, pelo menos”, destaca.

Feira Hippie nos seus primórdios, ainda na praça da Liberdade. Foto: Ascom Arquivo Público de Belo Horizonte

Segundo o Resgala, a partir de 1973, a Feira Hippie teve um crescimento constante, o que fez que, em 1991, fosse transferida para a avenida Afonso Pena, junto com outras feiras que ocorriam pela cidade.

“A partir daí iniciou-se um modelo muito compacto. Acredito que todos os belo-horizontinos se lembram daquela feira parecida com um mercado persa, muitos corredores, com as barracas muito juntas umas às outras. Foi um período de ouro, com muitas vendas, muito turismo de negócios e caravanas de ônibus chegando a todo momento, que tornou, de fato, a feira mais conhecida do Brasil, com reconhecimento, inclusive, como a maior da América Latina neste modelo”, conta.

Novos formatos e mudança de gestão na Feira Hippie

Com a pandemia de Covid-19 a Feira Hippie precisou ser desativada durante alguns meses, e o retorno foi feito com um formato para atender os protocolos sanitários exigentes naquele período.

“Naquele momento, de uma forma emergencial, instaurou-se o que chamamos de layout de emergência, que foi uma área estendida. Com isso, as barracas passaram, ao invés do formato compactado, a formar grandes fileiras na Afonso Pena, com cerca de um quilômetro de extensão. Já no pós-pandemia, em 2022, houve uma mudança no conceito de gestão, com alterações dentro da prefeitura e foi quando a nossa equipe começou a trabalhar na gerência”, explica o gerente.

Ainda segundo ele, essa nova gestão, junto com uma comissão paritária de representantes dos feirantes, começaram a compreender quais eram os benefícios e os problemas do novo layout, em forma estendida.

“A própria feira optou por manter essa formatação, o que gerou um layout consolidado em 2023. Então, temos uma nova feira a partir desse ano, definitiva, que hoje ocupa 1 km de extensão na avenida Afonso Pena, e conta com 45 mil metros quadrados”, comenta.

O coordenador de Mídia da Associação Fala Feira, Paulo Favaretto, ressalta que o período de pandemia foi um momento de dificuldade para todos que participam do tradicional ponto de encontro dos domingos em Belo Horizonte.

“No período pós pandemia a Feira Hippie voltou com algo em torno de 30% de fluxo de pessoas, que durou de seis meses a um ano. Porém, hoje o movimento está normalizado, com a Afonso Pena recebendo aos domingos entre 30 a 40 mil pessoas e outros que chegam a 60, 70 mil pessoas, próximo a datas comemorativas”, afirma.

Feira ocupa 1 km de extensão na avenida Afonso Pena, e conta com 45 mil metros quadrados. Foto: Divulgação PBH

Resgala destaca que as mudanças trouxeram melhorias em relação à segurança e ao próprio ambiente da feira. “A Feira Hippie hoje atrai um público diferente do que o que frequentava antes, que eram pessoas que entravam na feira, de fato, para comprar. Hoje, além daquele consumidor que vai com a intenção da compra, temos ali um grande passeio de público. Pessoas caminhando com os filhos, com o cachorro, os turistas que passam buscando conhecer aquele movimento, esse grande evento que ocorre nos domingos em Belo Horizonte”, salienta.

Paulo Favaretto reforça que a Feira Hippie é o maior evento constante da Capital. “A Feira Hippie ajuda na vida de várias famílias, com os negócios que são realizados no local. Com esse novo visual que a feira tem, com esse novo layout, melhorou muito mais a visibilidade, o conforto e a segurança. Hoje a feira vai da rua dos Guajajaras até a Praça Sete, antes era só até a Rua da Bahia. Ela dobrou de tamanho. E sem dobrar o número de barracas. Com isso, todos têm muito mais conforto e visibilidade dos clientes”, considera Favaretto.

No local também são realizadas apresentações artísticas que não ficam mais à margem como antigamente. “Temos um espaço específico para manifestações artísticas e culturais. Além disso, com os protocolos sanitários, foram incluídas mesas e cadeiras, que até então não tinha na Feira Hippie. Os setores de alimentação passaram a funcionar de fato como praças de alimentação. Hoje são 15 setores, sendo 12 de arte, artesanato e produtos variados e mais três setores de apoio, onde ficam as barracas de alimentação e bebidas”, enumera Gustavo Resgala.

Atualmente, são 1558 vagas para os permissionários atuarem na feira e existem 1.505 barracas em funcionamento. Segundo o gerente, existem aquelas vagas que, de fato estão ocupadas, por feirantes credenciados na PBH, ou que são inscritos em algum dos programas que a prefeitura oferece.

“Existe também o programa de economia popular e solidária, que ocupa 40 vagas, além de outras disponíveis. Saiu um edital, que já terminou o período de inscrição, para aquelas pessoas que têm interesse em expor na Feira Hippie. Há cerca de 30 anos não tínhamos uma licitação ocorrendo. Acredito que no próximo ano teremos novos expositores na feira e, à medida que forem vagando novas barracas, novos vão entrando”, projeta o gerente.

Artistas renomados fazem parte da história da feira em Belo Horizonte

Yara Tupynambá, uma das idealizadoras e pioneiras da Feira Hippie Foto: André Senna

Entre os artistas que ajudaram a consolidar esse espaço está a artista plástica Yara Tupynambá, uma das idealizadoras e pioneiras da Feira Hippie. Durante seis anos, ela expôs suas obras aos domingos, sendo uma das vozes na legitimação da feira como um espaço dedicado à arte e ao artesanato. A artista explica que, na época, a comercialização das obras não era o mais importante, mas a promoção da arte de maneira geral.

“Não havia preocupação somente com a venda em si, mas sim a de proporcionar a oportunidade de democratizar o acesso à arte, tanto para os expositores quanto para o público. Além de tudo, era um espaço para encontrar os amigos e ter um momento de lazer”, relembra Yara Tupynambá.

Assim como Yara Tumpynambá, artistas como Petrônio Bax, Maria Helena Andrés, Wilde Lacerda e Ildeu Moreira também tiveram sua parcela de colaboração no desenvolvimento da feira.

O crescimento da feira e a mudança para a avenida Afonso Pena contribuíram para que ela se transformasse em um ponto turístico e cultural relevante para a Capital.

Atualmente, a Feira Hippie se consolidou não apenas como uma oportunidade de negócios para pequenos produtores, mas também como um símbolo de resistência cultural e artística, que segue se transformando e mantendo viva a essência inicial do movimento que a originou.

Atualmente, são 1558 vagas para os permissionários atuarem na Feira Hippie e existem 1.505 barracas em funcionamento. Foto: Divulgação PBH

Outro ponto levantado por Paulo Favaretto é que a economia da Feira Hippie não é diferente do resto do comércio de Belo Horizonte. “O comércio sofreu com pandemia, com política e tudo que nele interfere. Agora que os feirantes estão começando a recuperar o fôlego e a perspectiva de escalada é boa até o final do ano. Estamos bem confiantes em ter um final de 2024 bem positivo no que diz respeito às vendas”, projeta.

O coordenador também destaca que a Associação está se formalizando agora, e no próximo mês o processo já estará concluído. “A Feira Hippie precisa mostrar que possui muita coisa que não tem em outro lugar do mundo. E agora estamos criando um aplicativo com inteligência artificial, para orientar onde o expositor está, onde pode ser encontrada determinada mercadoria, te levar até o expositor, mostrar as regras da feira, dentre outros itens relativos à Feira Hippie de Belo Horizonte”, adianta Favaretto.

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