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Festival de Inverno discute culturas marcadas por ataques

Debates, shows, performances e mostras de diferentes expressões culturais moldam a edição deste ano, que volta ao formato presencial
Festival de Inverno discute culturas marcadas por ataques
Atrações musicais vão ocupar o palco de shows do festival. Na imagem, o espetáculo Carmina Burana no 49º Festival de Inverno | Crédito: Lucas Braga

Começa nesta quarta-feira e se estende até o dia 27 de julho a 55ª edição do tradicional Festival de Inverno da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Em um retorno ao formato presencial, o evento se torna o epicentro das manifestações culturais brasileiras, oferecendo uma programação gratuita e aberta ao público. O festival contará com debates, shows, performances e mostras de diferentes expressões culturais do País, já adianta o pró-reitor de Cultura, Fernando Mencarelli.

A abertura do festival, nesta quarta-feira, contará com a apresentação do pianista pernambucano Amaro Freitas, no Conservatório UFMG, às 19h30. Renomado no cenário do jazz, Amaro proporcionará um show solo, explorando sonoridades experimentais em um piano de cauda que se transforma em uma combinação de piano, percussão e outros instrumentos. Sua performance traduzirá o frevo, o baião, o maracatu, a ciranda e o maxixe para a linguagem do jazz moderno. “É um show em que ele (o pianista) vai fazer a junção do jazz contemporâneo com a musicalidade brasileira”, diz Mencarelli.

Antes da apresentação, Amaro Freitas iniciará as atividades formativas do festival com o workshop “O piano moderno na rítmica afro-brasileira”, no Conservatório UFMG. Nesse minicurso, o pianista abordará temáticas relacionadas à produção musical, processo criativo e improvisação.

Federal sedia encontro internacional

Em parceria com o 22º Congresso Internacional de Estética, promovido pelos programas de Pós-Graduação em Filosofia e de Artes da UFMG, o festival oferecerá uma experiência cultural enriquecedora. Durante os nove dias do evento, o público terá acesso a mesas redondas, lançamento de livros, oficinas, uma residência artística, três exposições e doze apresentações artísticas, incluindo shows e performances.

As atividades, que contam com parceria da Associação Brasileira de Estética e a Associação Internacional de Estética, ocorrerão nos espaços culturais da Pró-reitoria de Cultura da UFMG (Procult). Outros espaços como o Centro Cultural UFMG, o Conservatório UFMG, o Espaço do Conhecimento UFMG e o Espaço Acervo Artístico UFMG também vão integrar o itinerário do Congresso.

Cultura de Resistência

Fernando Mencarelli explica que toda a grade de programação do evento conta com uma extensa diversidades de assuntos, mas que em sua totalidade transmitem uma mensagem principal: “A mensagem deste ano vai entre a estética e a reflexão sobre a cultura e a arte nos momentos de debates políticos”, diz. “Temos visto, principalmente nos últimos anos, como a pauta das políticas para a área cultural e artística foi sofrendo. Vimos, aliás, artes sendo atacadas em manifestações recentes e também por pensamentos conservadores, digamos, assim, colocando a cultura no centro do debate político, mas carregado de ataques”, pontua.

De acordo com o pró-reitor de Cultura, como forma de estruturar uma programação à altura da importância da arte e cultura nacional, várias atrações ocupam os espaços físicos para ocupar as mentes. “Estamos com uma exposição, por exemplo, que ficará no saguão da reitoria, com o nome de Cultura de Resistência. Essa exposição terá quatro fases, sendo a primeira, uma reflexão sobre a arte e a cultura do Vale do Jequitinhonha. Em segundo momento, uma exposição sobre os Sertões Mineiros. Em terceiro, as Matrizes Africanas e, por último, a Cultura Indígena Brasileira”, elenca.

Obra de Edgar Kanaykõ Xakriabá, da Terra Indígena Xakriabá | Crédito: Divulgação / Edgar Kanaykõ Xakriabá

Investimentos para o resgate do fazer cultura

Com um aporte total de R$ 120 mil destinado à realização do evento, o valor é parte de uma série de investimentos que a UFMG tem desempenhado para o resgate de culturas e para fomentar projetos, artistas e debates não somente no âmbito acadêmico, mas externo, com a comunidade.

“Antes da pandemia, em 2019, chegamos a realizar 1,6 mil ações culturais e com um alcance de 170 mil pessoas. Com o retorno do festival de forma presencial, estamos reativando várias ações, tendo em vista que temos uma organização e estrutura em desempenho constante. Temos um conjunto de equipamentos culturais, um conjunto de docentes envolvidos, bolsistas, estagiários e a própria comunidade participante. É um trabalho que é feito de forma contínua ao longo do ano”, afirma Fernando Mencarelli.

Confira, a seguir, a programação completa do festival:

19 de Julho

Solenidade Oficial de Abertura do 55º Festival de Inverno UFMG

A Solenidade Oficial de Abertura do 55º Festival de Inverno UFMG tem início às 19h30 com a presença da reitora Sandra Regina Goulart Almeida. Em seguida, tem lugar o show do artista pernambucano Amaro Freitas. (Horário: 19h30 | Local: Conservatório UFMG).

Show ‘Amaro Freitas – Solo’

O pianista e compositor pernambucano Amaro Freitas é um dos grandes nomes do jazz brasileiro. Muito “para lá” do sempre predominante samba jazz, Amaro volta-se para a cultura nordestina e traduz o frevo, o baião, o maracatu, a ciranda ou o maxixe para a linguagem do jazz moderno. Em seu show solo, o artista consolida a sua proposta de cruzar elementos da cultura popular afro-brasileira com o jazz em uma única espiral sonora. No roteiro do concerto constam, por exemplo, a inédita “Dança dos Martelos”, o seu baião autoral “Dona Eni”, além de releituras, como a de “Lamento Sertanejo” (Dominguinhos / Gilberto Gil). O show é um fluxo musical sem fronteiras que conecta com naturalidade o regionalismo brasileiro à vanguarda de pianistas internacionais, a exemplo de Vijay Iyer, Craig Taborn e John Cage. (Horário: 20h | Local: Conservatório UFMG).

20 de Julho

Mesa redonda ‘Emergências e insurgências’

Conversa com os artistas e os curadores das exposições realizadas no Centro Cultural UFMG para a programação do 55º Festival de Inverno UFMG: Shirley Paes Leme, Lucia Castello Branco, Edgar Kanaykõ e Paula Borghi. A mediação será realizada por Fabrício Fernandino. Serão discutidas emergências e insurgências na perspectiva da estética, da política e da cultura. (Horário: 20h | Local: Centro Cultural UFMG).

21 de Julho

Roda de conversa Makunaima e Macunaímas: vozes ancestrais contemporâneas

Nesta conversa, o escritor Cristino Wapichana falará sobre como a humanidade reverbera infinitos ecos das muitas ancestralidades. “Nestas misturas ancestrais, o povo brasileiro se formou e acrescentou, na cultura, o jeitinho brasileiro macunaímico Andradiano de Mário. Para refletir sobre ser a nação brasileira, é necessário fazer um tour no passado, com escalas e tempo de espera para compreender um Brasil colorido, plural, que só se sustenta como nação quando todo brasileiro reconhecer os povos indígenas como parte fundamental desta grande nação”. (Horário: 15h | Local: Espaço do Conhecimento UFMG).

Palestra ‘Etnografia do Samba em BH: memória, identidade e patrimônio cultural’

A palestra ministrada por Michele Arroyo (historiadora) e Breno Trindade (antropólogo) vai compartilhar as experiências de cartografia social, as metodologias etnográficas para escuta dos coletivos culturais e o conhecimento das práticas sociais nos espaços urbanos para reconhecimento e salvaguarda dos mesmos como patrimônio cultural. Trará como referência o processo de inventário do samba em BH em elaboração pelo Coletivo de Sambistas Mestre Conga e o Projeto República/UFMG. (Horário: 16h | Local: Conservatório UFMG).

Para acompanhar a programação completa, acesse o site do evento, clicando aqui.

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