Festival “Seres Rios” vai discutir caso do Arrudas

Como explorar de forma sustentável o rio Arrudas, transformando-o em importante ponto turístico da Capital, espaço em que belo-horizontinos e visitantes possam nadar e navegar em suas águas limpas? Esta é uma das reflexões que farão parte do Festival “Seres Rios”, promovido pelo Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG) entre os próximos dias 2 e 10 de agosto.
Para o professor de urbanismo e arquitetura da UFMG Roberto Andrés, que discutirá, no dia 3 de agosto o tema “O futuro dos rios nas cidades”, investir na limpeza e transformação de rios cobertos como o Arrudas, ou o córrego do Leitão, escondido por avenidas dos bairros Santo Antônio e Lourdes poderia sanar alguns problemas que afetam a cidade e as bacias dos rios das Velhas e do São Francisco.
“Quando em 2004 começaram as obras do Boulevard Arrudas, aqui em Belo Horizonte, em Seul, capital da Coreia do Sul, fizeram o contrário. Destruíram um elevado de 9 km construído sobre um rio coberto, investiram na limpeza dessas águas e transformaram o rio e seu entorno em um espaço turístico, onde as pessoas nadam e onde são promovidos festivais culturais”, afirmou.
Escondidos
Conforme Andrés, as ações de cobertura dos rios urbanos não resolvem dois problemas muito graves. Apenas os escondem. “Com os rios cobertos, as pessoas não veem o esgoto poluindo as águas, mas este tipo de poluição continua correndo pelo leito do rio Arrudas, continua chegando ao córrego do Onça, desembocando no rio das Velhas e prejudicando não só a população de Belo Horizonte, mas os moradores das cidades vizinhas”, explicou.
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Outro problema que fica “escondido”, de acordo com Andrés, é a sensação de que, ao serem cobertos, a população ficará livre das enchentes. “Elas continuarão acontecendo como percebemos em regiões como o Vilarinho e a avenida Prudente de Morais”, afirmou.
Segundo o urbanista, não adianta cobrir o córrego do Leitão, que passa sob os bairros Santo Antônio e Lourdes, como foi feito pelo governo militar. “Um rio tem seu próprio regime de sobrevivência. Durante o verão, com as chuvas, ele enche e é normal transbordar, ocupar áreas fora de seu leito. No inverno, período mais seco, ele tende a reduzir seu volume. Por isso, as enchentes persistem”, ressaltou.
Segundo Andrés, em Seul foram feitas obras de drenagem que evitaram a reorganização urbanística da cidade e a expulsão dos moradores e comerciantes que moravam próximos ao rio.
“Aqui em Belo Horizonte seria necessário fazer um estudo profundo sobre como resolver a situação. O ideal é que as áreas próximas fossem ocupadas por parques e ciclovias que não seriam utilizados pelas pessoas durante as chuvas e tempestades, reduzindo assim, os prejuízos e o número de mortes causadas pelas enchentes”, afirmou.
Crise hídrica – É consenso entre os ambientalistas mineiros que algumas práticas econômicas adotadas atualmente favorecem o desabastecimento hídrico, afetando a economia por meio da elevação de preços de energia elétrica e de água. Para Roberto Andrés, iniciativas como as queimadas e a devastação da Floresta Amazônica por indústrias madeireiras provocam a mudança no regime de chuvas, tornando o clima mais seco em várias regiões do País.
“A umidade e o clima desta floresta provocam a evaporação de grande volume de água, chamados de rios voadores, que causam chuvas frequentes, evitando a desertificação da região amazônica. Caso o desmatamento continue nos moldes em que está agora, no futuro, poderemos ter desertos como os encontrados em continentes como a África”, alertou.
Já o ambientalista Apolo Heringer, idealizador do Projeto Manuelzão, que deve participar de palestra no dia 9 de agosto, disse que irá defender o atrelamento de financiamentos feitos pelo BDMG, promotor do festival, ao compromisso de que os investidores não possam promover projetos que causem a degradação dos rios e lençóis freáticos.
“A principal causa da crise hídrica brasileira é o fato de mantermos uma economia neocolonial exportando commodities como o minério de ferro, grãos e carne, atividades estas baseadas, muitas vezes, na devastação das florestas e na poluição de rios e do lençol freático”, afirmou.
Segundo Heringer, é preciso que além de atrelar os financiamentos de projetos desses segmentos à necessidade de proteção das reservas hídricas de Minas. O BDMG deveria também investir em uma fiscalização independente e atuante. “Precisamos que nossos rios voltem a ter peixe, que as populações ribeirinhas possam voltar a pescar. Manter a economia brasileira atrelada à exportação desse tipo de commodities não dá certo. A crise hídrica é um alerta para que possamos rever a forma como tratamos a natureza”, advertiu.
Para participar do evento, que será totalmente virtual, é necessário acessar a partir do dia 2 de agosto a programação pelo link seresrios.org, ou pelo perfil @seresriosfestival no Instagram do evento. A programação deverá ser divulgada dias antes do festival.
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