Após imbróglio com Filarmônica, Fiemg desfaz parceria para gestão da Sala Minas Gerais

O presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Flávio Roscoe, anunciou, nesta terça-feira (16), que está desfeita a parceria para a gestão da Sala Minas Gerais, situada no Centro Cultural Presidente Itamar Franco, no Barro Preto, região Centro-Sul de Belo Horizonte. O anúncio vem após uma série de embates com a Orquestra Filarmônica de Minas Gerais, que usa a sala para seus ensaios e apresentações.
“Fizemos o distrato com a Codemge com relação à Sala Minas Gerais. Desejo muito sucesso à Filarmônica, à Secretaria de Cultura e à Codemge. E que a solução encontrada seja a melhor para os mineiros. Que a Sala Minas Gerais seja de todos os mineiros, e não de alguns que acham ser dela donos”, disse Roscoe durante a abertura do Salão de Negócio da 31ª edição do Minas Trend, no Minascentro.
De acordo com o presidente da Fiemg, a entidade foi procurada pelo Estado para firmar uma parceria, uma vez que o espaço possui um custo relativamente alto para o Instituto Cultural Filarmônica (ICF), cerca de R$ 4 milhões, e a entidade estava com dificuldade de arcar.
“Entramos no projeto com a possibilidade de tornar o espaço mais vivo, de ajudar. Há uma deficiência muito grande, na nossa perspectiva, de utilização do espaço que poderia ser melhor utilizado. De acordo com relatórios da própria Filarmônica, há 130 dias vagos na Sala Minas Gerais”, comentou Roscoe.
Ele defendeu que um “espaço maravilhoso como a Sala Minas Gerais” poderia dialogar com outros movimentos culturais. Ele alega que o equipamento público possui 70 espaços de espetáculo que poderiam ser melhor aproveitados. Ainda ponderou que o Estado de Minas Gerais possui quatro grandes orquestras e mais de 700 em menor porte e não justifica que o espaço fosse usado apenas por uma. “Muitas delas são de jovens que poderiam ter a oportunidade de performar lá”, defendeu.
Na visão do presidente da Fiemg houve muita desinformação e muitas informações equivocadas. “A proposta da Federação era entrar com expertise do Sesi em gestão de espaços, dinamizar os espaços de cultura para que fossem ocupados e ocupar a Mireiraria, que é um espaço de gastronomia, com atividades relacionadas, além de exposições culturais. A própria sala Minas Gerais poderia ser mais usada. A sala é dos mineiros e não seria do Sesi, seria gerida pelo Sesi para o povo de Minas Gerais de forma a torná-la mais inclusiva possível, inclusive, com a presença da Filarmônica, sem prejuízo das suas atividades. Pelo contrário, reduzindo os custos de manutenção com o espaço. Custo que ela tem dificuldade de lidar”, ressaltou Roscoe.
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A subsecretária de Estado de Cultura e Turismo, Nathalia Larsen, que também estava presente no Minas Trend, afirmou que a Secretaria Estadual de Cultura possui um contrato com o Instituto Cultural Filarmônica vigente até julho de 2024. De acordo com ela, o contrato é renovado anualmente e não há intenção de romper desde que sejam cumpridas todas as cláusulas.
“Da nossa parte, todos os repasses financeiros elencados no contrato foram cumpridos. Inclusive, no ano passado houve uma implementação de R$ 2,5 milhões de repasses, integrando R$ 19,5 milhões anuais, correspondendo a 62% do valor que demos para a cultura dentro da Secretaria de Estado”, disse.
Entenda o imbróglio
Tudo começou quando o Sesi Minas, do Sistema Fiemg, e a Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (Codemig) formalizam, no início deste mês, o Acordo de Cooperação Técnica para integrar a gestão compartilhada de espaços cruciais para a cultura no Estado: a Sala Minas Gerais e o Espaço Mineiraria.
O Acordo foi assinado entre o governo do Estado via Companhia de Desenvolvimento de Minas Gerais (Codemge) e o Sesi Minas, para exploração comercial da Sala Minas Gerais, no intuito de manter o funcionamento do espaço. O Instituto Cultural Filarmônica (ICF), atual parceiro e gestor do local, havia optado pela não renovação do contrato para 2024, segundo informação do presidente da Codemge, Thiago Toscano.
A Orquestra Filarmônica de Minas Gerais alegou que não tinha sido consultada previamente sobre a parceria, mas Roscoe afirmou à época que o presidente do Conselho Administrativo do Instituto Cultural Filarmônica (ICF), Roberto Mário Soares Filho, já tinha conhecimento sobre as negociações para exploração comercial da Sala Minas Gerais desde março deste ano, assim como o diretor-presidente da instituição, Diomar Silveira.
“Mantive conversas com eles no privado, mas no público ninguém aparece para falar, o que eu lamento muito. É um tratamento no privado e outro no público e eu não estou acostumado com este tipo de iniciativa. Se o projeto, sem saber do que se tratava, não é bem-vindo, ao que parece a gente só serve para pagar a conta. Enquanto a gente está ajudando a pagar a conta somos bem-vindos, quando quisemos contribuir além disso, não fomos bem-vindos. Então, como presidente da Fiemg e Diretor Regional do Sesi eu entendi que a melhor coisa era nos retirar”, concluiu.
No último fim de semana, a Fiemg chegou a divulgar uma carta aberta sobre o caso, em que disse que a Filarmônica seria beneficiada com acordo para Sala Minas Gerais. Veja a carta aberta, na íntegra, aqui.
Uma audiência pública para discutir a questão acontece desde as 15h30 desta terça-feira (16), e está sendo acompanhada pelo DIÁRIO DO COMÉRCIO.
Procurada pela reportagem, a assessoria do Instituto Cultural Filarmônica informou que está acompanhando a audiência sobre o tema na Assembleia de Minas Gerais e posteriormente passaria uma posição.
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