Grupo Galpão faz metáfora de ciganos
Desvendar e vivenciar lugares, tempos, possibilidades. Eis a rotina de vidas ciganas, que, dia a dia, entregam-se ao movimento, assim como, dentro de si, fixam narrativas, culturas, identidades. Alguns dos princípios da vida nômade servem de metáfora – e de palco – ao novo desafio artístico do Grupo Galpão. Neste sábado (5), estreia, no aplicativo Telegram, a experiência teatral virtual “Como os ciganos fazem as malas”, texto de Newton Moreno, com pesquisa e atuação de Paulo André e criação de Yara de Novaes, Paulo André, Tiago Macedo e Barulhista. A iniciativa integra o projeto “Dramaturgias – Cinco passagens para agora”, que conta com o patrocínio master do Instituto Cultural Vale e patrocínios da AngloGold Ashanti e do banco BV por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura. O projeto realizará, de junho a dezembro de 2021, cinco espetáculos em diferentes formatos nas redes sociais.
“Como os ciganos fazem as malas” é o que se pode chamar de um “monólogo em fluxo”. Serão oito sessões, ao vivo, veiculadas pelo Telegram, até o próximo dia 13, aos sábados e domingos, em duas apresentações diárias: experiência estendida (11h às 19h) e experiência compacta (20h às 21h30). O público poderá escolher um dos dois formatos. O acesso é gratuito e os ingressos devem ser retirados na Sympla (www.sympla.com.br/grupogalpao). “A escolha desse ‘lugar’ tem a ver com a própria temática. Trata-se de uma peça em movimento. Afinal, uma rede social, como o Telegram, é um lugar, e podemos levá-lo para onde quisermos. Ele está o tempo inteiro em movimento, construindo narrativas. Dentro do próprio aplicativo, vivenciamos certo nomadismo. Desse modo, criam-se cartografias”, destaca Yara de Novaes, uma das criadoras da experiência virtual.
O projeto é uma criação coletiva, que envolve Paulo André e outros atores do Grupo Galpão, Yara de Novaes (direção), Barulhista (trilha e efeitos sonoros) e Tiago Macedo (direção de arte). Durante o processo de trabalho, as próprias “fronteiras” de cada ofício foram dissolvidas – o que se revelou muito importante, uma vez que a peça discute migrações, travessias, trânsitos etc. “Foi muito importante essa relação mais horizontal, e menos vertical, durante a criação. Tudo foi movente”, diz Yara de Novaes, ao lembrar, também, que o Grupo Galpão, ao longo de sua trajetória, jamais ocupou lugares – estéticos, artísticos, políticos etc. – fixos: “O Galpão não é só um grupo de rua. Ele muda o tempo inteiro de lugar, e não deixa de ser o que é, nem de ter lugar próprio. Ele pode trabalhar com vários diretores, mas permanece sendo o Galpão, grupo, aliás, que mais se apresenta nos lugares mais remotos do Brasil”.
Protagonista da peça, o ator Paulo André lembra que, em função da pandemia, o Galpão precisou se reinventar, por meio da virtualidade e do audiovisual. “É bonito perceber que o teatro abraça outras formas de ver. O momento é muito triste, mas nos faz repensar o próprio ofício, e nossa condição de artista. O teatro está, de novo, sobrevivendo, como o faz desde a Grécia Antiga. Permanecemos em nosso papel de sobreviventes, resistentes, resilientes, críticos e capazes de assumir este lugar político, ao existirmos e mantermos a chama acesa”, destaca.
No que se refere a “Como os ciganos fazem as malas”, Paulo André atenta para a beleza do texto de Newton Moreno, que, na visão do ator, diz muito do momento por que todos passam.
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