Hollywood é tema de mostra de cinema

Por trás de todo o fascínio exercido pelo letreiro luminoso de Hollywood, esconde-se uma realidade repleta de disputas por poder e sacrifícios em nome da fama. A mesma indústria que arruinou vidas também elevou artistas à imortalidade, em obras até hoje reverenciadas. São estas as contradições que fundamentam “O Preço de Hollywood”, primeira mostra do ano no Cine Humberto Mauro, no Palácio das Artes, com programação que começa hoje e segue até 8 de fevereiro. Entre filmes clássicos da Era de Ouro, como “Crepúsculo dos Deuses”e “Nasce uma Estrela”, e obras contemporâneas aclamadas, caso de “Cidade dos Sonhos” e do recente “Era Uma Vez em… Hollywood”, são mais de 30 longas-metragens que buscam pensar a atmosfera de encanto e os personagens que passam pela capital do cinema mundial, em produções que refletem criticamente sobre Hollywood a partir do interior de sua estrutura. A entrada é gratuita, com retirada de ingressos a partir de uma hora antes de cada sessão, na bilheteria do cinema.
A curadoria da mostra “O Preço de Hollywood” busca trazer uma radiografia dos filmes nos quais a indústria cinematográfica norte-americana fala sobre si mesma, em um recorte que celebra e reconhece os grandes filmes e as produções gigantescas, mas questiona as motivações e interesses envolvidos nos redutos de poder, as desigualdades estruturais e os meandros da indústria, problematizando a visão puramente idealizada que a própria Hollywood construiu a seu respeito. Diretores como Billy Wilder, Nicholas Ray, Robert Altman, David Lynch, John Waters, Spike Jonze, Peter Bogdanovich e Quentin Tarantino, dentre outros, vocalizaram as autocríticas da indústria em alguns dos principais filmes que estarão presentes na programação. Filmes de gêneros como a comédia e a fantasia também ganham destaque a partir dos trabalhos de Jerry Lewis, Woody Allen e outros realizadores que exploraram a utopia e a megalomania hollywoodianas.
A seleção vai dos primórdios da produção de filmes em massa, nos anos 1920, até a já consolidada cinematografia hollywoodiana recente. “Crepúsculo dos Deuses” (1950), “Nasce uma Estrela” (versões de 1937 e 1954), “O que terá acontecido a Baby Jane?”(foto), de 1962,e “Cidade dos Sonhos” (2002) estão em um primeiro grupo de filmes da programação, que tematizam o desencanto, assim como também a ascensão e posterior queda de estrelas, além do ostracismo artístico imposto aos artistas descartados pelos estúdios – destino recorrente nas carreiras das atrizes. “São filmes que nos apresentam personagens sonhadores, mas trágicos, que vivem entre a fantasia e o tormento, lidando sempre com as possibilidades e impossibilidades dadas pelo jogo de (sobre)vivência em um mundo onde a opulência cultural pode mover o melhor e o pior da humanidade”, define Rodrigo Azevedo, produtor e programador do Cine Humberto Mauro.
Já outros longas-metragens, como “Mocinho Encrenqueiro” (1961), “Confusões em Hollywood” (1987), “O Jogador” (1992), “Cecil Bem Demente” (2000) e “Deu a Louca nos Astros” (2000) partem de premissas absurdas e tramas de comédia para explicitar os excessos e as incongruências da indústria, dando foco também aos bastidores de filmagem e à mecânica que move a estrutura da capital do cinema.
Ilusão
A metalinguagem explícita, com personagens saindo das telas para o “mundo real” e identidades fluidas entre os universos de dentro e de fora da ficção, está presente nos longas “A Rosa Púrpura do Cairo” (1985), que trata do quão ilusória Hollywood pode ser, e “Adaptação” (2002), cuja trama segue o árduo processo criativo de um roteirista, por trás de todo o véu de sonho que envolve o trabalho em Hollywood.
Outra combinação interessante é a do filme “Era Uma Vez em… Hollywood” (2019), reimaginação tarantinesca da tragédia envolvendo a atriz Sharon Tate em 1969, com talvez o mais conhecido filme estrelado por ela, “O Vale das Bonecas” (1967), que trata justamente da busca pelo estrelato e das consequências sombrias deste objetivo. “Apresentar os filmes que desvelam a realidade de Hollywood é, de certo modo, como abrir as páginas de um livro que explora a intricada teia da indústria do entretenimento. Ao compartilhar essas obras cinematográficas, convidamos o espectador a uma jornada não apenas pelos bastidores da fama, mas também pelas complexidades mais amplas da condição humana. Estes filmes agem como uma lente singular, oferecendo uma análise íntima e perspicaz da cultura, da sociedade, do encanto e do desencanto associados à Hollywood”, observa Rodrigo Azevedo.
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