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Ivana Rebello apresenta “A Literatura dos Gerais”

Ivana Rebello apresenta “A Literatura dos Gerais”
Crédito: Divulgação

Guimarães Rosa marcou a literatura brasileira com seus registros sobre o sertão mineiro. Mas há, ainda, muitos outros autores e obras representativos da literatura do Norte de Minas Gerais que merecem a atenção do público e do meio acadêmico. A Academia Mineira de Letras (AML) convida a presidente da Academia Montes-Clarense, Ivana Ferrante Rebello, para falar sobre o assunto na palestra “A Literatura dos Gerais: um panorama historiográfico”. A palestra será apresentada nesta segunda-feira (30), às 19h, e tem entrada gratuita. A AML fica na rua da Bahia, 1.466, Centro.

“Ave Palavra”, há um ensaio, “Minas Gerais”, no qual Guimarães Rosa apresenta a multiplicidade do Estado: “Minas Gerais são muitas ou pelo menos várias” (2001, p. 339). Na “Minas do Norte”, Rosa reconhece haver uma identidade mestiça e fragmentada, “um tanto baiano” ou nordestino. Minas Gerais traz no nome uma dualidade explícita: a Zona da Mata, o Triângulo, o Sul e Oeste mineiro são um desdobramento da Minas Geratriz, originada a partir da descoberta do ouro pelos bandeirantes paulistas, em fins do século XVII.

O Norte do Estado, na região conhecida como os “Gerais”, teve sua formação histórica vinculada ao bandeirismo que aprisionou índios e destruiu quilombos e à formação dos grandes fazendões de gado, em meados do século XVII. Originariamente pertencente à Bahia e a Pernambuco, o Norte de Minas foi incorporado à nascente Capitania de Minas Gerais, em 1720. 

Desde o momento de formação, duas regiões, portanto, foram articuladas para dar fundação ao estado mineiro: uma vinculada ao ouro e outra vinculada ao gado. As diferenças apontadas pelos estudiosos estendem-se naturalmente ao comportamento, à linguagem e às formas de representação.

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A literatura dos Gerais é praticamente desconhecida no vasto e produtivo campo da chamada literatura mineira. A cultura dos Gerais só seria representada, canonicamente, nas obras de Guimarães Rosa, que buscou nas tradições orais e na fala do sertanejo a matéria-prima para seus livros. Na fusão de uma erudição sabiamente preservada em rituais e estórias com a linguagem popular, Rosa cria um imaginário peculiar do sertão, que traria à cena cultural do País um lugar até então esquecido.

Projetando-se de forma diferenciada de uma tradição de representar o sertão, o sertão norte-mineiro apareceria, pela primeira vez, caracterizado por um mineiro, estudioso de costumes e notável pesquisador das estórias e linguagem do povo. O estudo da literatura rosiana e o contato com as suas fontes primárias – por meio das quais Guimarães Rosa compilou dados para a confecção de suas estórias – reafirmaram a necessidade da recolha, catalogação e estudo de outros escritores do sertão, no sentido de se estabelecer uma linha de pesquisa que contemple as representações, as imagens e a linguagem da literatura do Norte de Minas Gerais.

Se a dualidade na formação e na constituição do povo mineiro registra-se nas esferas política e econômica, a literatura de Guimarães Rosa veio comprovar a crença de que tal dualidade também existe nos registros literários. A carência de estudos que privilegiem a literatura e a cultura do norte de Minas Gerais também contribui para a percepção fugidia e precária da identidade cultural norte-mineira. A palestra da professora Ivana Ferrante discorrerá sobre autores e obras representativos da literatura do Norte de Minas Gerais, merecedores de mais atenção e maior análise por parte da academia.

Ivana Ferrante Rebello possui graduação em letras – português e francês – pela Universidade Estadual de Montes Claros (1989), mestrado em Estudos Literários pela Universidade Federal de Minas Gerais (2004) e doutorado em Letras pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (2011). Professora da Universidade Estadual de Montes Claros, é membro do Programa de Pós-graduação em Letras Estudos literários da Unimontes Tem experincia na área de letras, com ênfase em literatura brasileira, atuando principalmente nos seguintes temas: literatura de Minas Gerais, escrita de gênero, o modernismo brasileiro, influências, tendências e suas vertentes.

Ela é autora dos livros de crítica literária: “Papagaio conta a História”, “Leituras de Iracema” e “Macunaíma”, “O anel que tu me deste”, “Grande sertão: veredas e a história de amor que virou livro”, “Uma tristeza mineira numa capa de garoa” e “Agenor Barbosa: um mineiro na Semana de Arte Moderna” (esse último em coautoria com Fabiano Lopes de Paula). É também autora das biografias “História de Jayme Rebello”, “Toninho Rebello” e “O homem e o político” e do livro de conto “A mulher esquecida”. Seu mais recente livro é “Pequeno Dicionário das Palavras (des)ditosas,” publicado em 2022. Ela foi eleita presidente da Academia Montes-Clarense de Letras, no biênio 2022-2023.

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