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Com apenas 0,9% Minas fica abaixo da média nacional em vias sinalizadas para bicicletas

Pesquisa do IBGE mostra que Minas Gerais está entre os piores estados no número de vias com sinalizações para ciclistas
Com apenas 0,9% Minas fica abaixo da média nacional em vias sinalizadas para bicicletas
Ciclofaixa no bairro Santa Tereza, em BH

Menos de 2% da população do Brasil moram em vias com sinalização para bicicletas, segundo dado da Pesquisa Urbanística do Entorno dos Domicílios realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2022, como parte do Censo Demográfico. O levantamento, feito pela primeira vez, mostra que apenas 1,9% das ruas investigadas dispunham deste tipo de sinalização. Em Minas Gerais, o número é ainda menor, somente 0,9% de vias sinalizadas. 

Segundo a pesquisa, apenas 3,3 milhões de pessoas vivem em vias sinalizadas para bicicletas no Brasil. O resultado de Minas Gerais é um dos mais baixos entre todos os estados, atrás apenas de Amazonas e Maranhão (0,5%), Tocantins (0,6%), e junto com Goiás, Rio Grande do Norte e Alagoas (0,9%). 

“De forma geral, os percentuais de moradores residindo em vias com sinalização para bicicletas foram significativamente baixos, revelando que a infraestrutura das vias no País ainda é muito direcionada para veículos automotores”, explica o analista do IBGE, Jaison Cervi.

No comparativo entre municípios de Minas, os principais destaques com as maiores proporções de vias sinalizadas para bicicletas são:

  • Piedade dos Gerais (16,8%)
  • Lassance (8,5%)
  • Coronel Pacheco (7,9%)
  • Conceição da Barra de Minas (7,6%)
  • Patis (5,6%)

Cidades de Minas não consideram bicicleta na mobilidade urbana

Segundo o arquiteto e urbanista Guilherme Graciano as motivações para Minas Gerais ter uma das menores taxas de vias com ciclovias, ciclofaixas e ciclorrotas são variadas, porém, não fogem da tendência nacional. 

“O Brasil tem uma cultura rodoviarista muito forte, onde há grande valorização do transporte motorizado individual. Essa tendência pode levar ao colapso na mobilidade das maiores cidades de Minas e do País”, analisa Graciano.

No recorte das cidades que compõem a Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), os municípios de Vespasiano (3,1%), Matozinhos (2,6%), Mário Campos (2,0%), Belo Horizonte e Betim (1,7%) lideram a classificação de vias sinalizadas para bicicletas. A capital mineira, com 1,7%, aparece também abaixo da média nacional. 

“Em Belo Horizonte, por exemplo, a mobilidade é prejudicada com esta política rodoviarista que não leva em consideração outros modais de transporte como a bicicleta ou até veículos sobre trilhos”, explica o arquiteto. 

Mais da metade das cidades sem vias sinalizadas para bicicleta 

Outro dado importante da pesquisa do IBGE é que em mais da metade das cidades brasileiras não foram encontradas sinalizações para ciclovias, ciclorrotas e ciclofaixas. Em 3.012 municípios, 54% do total no País, não foram identificados nenhum tipo de sinalização para os ciclistas. 

“Na maior parte dos casos as ciclovias instaladas não se comunicam para criar uma rede que facilitaria a mobilidade. A instalação de ciclovias pontuais no tecido urbano enxergam as bicicletas para uso recreativo. Falta a execução de planos e legislações que façam valer o uso de meios de transporte ativos, como as bicicletas. Existem metas e legislações para ampliar este uso que precisam ser executadas”, analisa Graciano.

Os estados com melhor resultado no levantamento foram Santa Catarina (5,2%), seguido do Distrito Federal (4,1%), Ceará (3,2%), Amapá (3,1%) e Rio de Janeiro (2,5%). Entre os municípios com mais de 100 mil habitantes, a região Sul lidera com as cidades de Joinville (11,2%), Jaraguá do Sul (9,8%), Itajaí-Balneário Camboriú (7,2%), Florianópolis (7,1%) e Blumenau (6,8%), todas em Santa Catarina.

Rampas de acessibilidade em Minas Gerais

A pesquisa aponta que 90,3% dos moradores de Minas Gerais estavam em domicílios localizados em quadras com presença de calçadas ou passeios — índice superior à média nacional e atrás apenas de Distrito Federal (92,9%), Goiás (92,6%) e São Paulo (91,6%).

No entanto, quando o critério passa a ser acessibilidade e qualidade, o desempenho do Estado cai. Minas ficou abaixo da média nacional no percentual de calçadas livres de obstáculos, com apenas 15,3% — frente a 18,8% no País. 

“Sobre a presença de rampas para acessibilidade, a gente pode atribuir também à forma como as calçadas são feitas, que remete a essa visão rodoviarista do nosso planejamento urbano, não só em Minas Gerais, mas no Brasil como um todo”, avalia.

No indicador de rampas para cadeirantes, Minas registra 14,3% dos domicílios com esse tipo de estrutura nas quadras, valor semelhante à média nacional (15,2%). Na RMBH, Belo Horizonte lidera, com 28,2% dos moradores atendidos, seguida de longe por Contagem (15,4%) e Florestal (12,9%). 

Todos os municípios da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) têm menos de 5% das quadras com rampas de acesso para cadeirantes, como é o caso de Sabará, Ribeirão das Neves e Santa Luzia (3,1%). Já Ipiaçu (91,9%), Senador José Bento (84,7%) e Felisburgo (81,1%) lideram positivamente o ranking de acessibilidade para cadeirantes no Estado.

Guilherme Graciano explica que, na maioria das cidades, a construção das calçadas é de responsabilidade dos próprios proprietários dos lotes, o que dificulta a padronização e o controle de qualidade.

“Por mais que haja legislação para a instalação de rampas em algumas cidades, como por exemplo em Uberlândia, falta fiscalização para entender qual é o atual estado de conservação dessas rampas após instaladas, e aí algumas, após algum tempo, acabam se deteriorando ou até deixando de existir”, observa.

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