Mostra de cinema foca Carmen Miranda

O Cine Humberto Mauro inaugura a programação 2023 com a mostra inédita “Carmen Miranda e a Boa Vizinhança”, dedicada a filmes estrelados pela cantora, dançarina e atriz luso-brasileira. A partir da próxima terça-feira (7) e até 7 de março, diversos longas protagonizados pela “Pequena Notável” e grandes produções cinematográficas das décadas de 1930 e 1940, realizadas durante a Política da Boa Vizinhança dos Estados Unidos, serão exibidos gratuitamente.
Os ingressos para os filmes da mostra serão distribuídos na bilheteria do Cine Humberto Mauro hora antes de cada sessão. A entrada é gratuita. A programação inclui, ainda, uma celebração especial no Jardim Interno do Palácio das Artes, que acontecerá na próxima quinta-feira (9), de 17h às 22h, mesma data do aniversário de Carmen Miranda. A festa de Carnaval “Mamãe Eu Quero” contará com performances artísticas em homenagem à artista, cortejo com a Cia. de Dança Palácio das Artes, DJs e barracas com comida mineira.
A mostra conta com longas estrelados por Carmen como “Alô Alô Carnaval” (Adhemar Gonzaga, 1936), “Aconteceu em Havana” (Walter Lang, 1941), “Copacabana” (Alfred E. Green, 1947), “Entre a Loura e a Morena” (Busby Berkeley, 1943) e “O Príncipe Encantado” (Richard Thorpe, 1948). Alguns clássicos que tratam da Política da Boa Vizinhança como “Voando para o Rio” (Thornton Freeland, 1933) e “Interlúdio” (Alfred Hitchcock, 1946) também fazem parte da programação, assim como os documentários “Carmen Miranda” (Jorge Ileli, 1969) e “Carmen Miranda: Bananas Is My Business” (Helena Solberg, 1994), que traçam um panorama sobre a trajetória da cantora.
A mostra também traz a sessão especial Cine Samba, dedicada a personagens marcantes da história do Samba, e a sessão especial dublada do longa “Minha Secretária Brasileira” (Irving Cummings, 1942).
Apresentada pelo governo Roosevelt como uma abordagem política das relações estadunidenses com a América Latina, a Good Neighbor Policy (Política da Boa Vizinhança) foi um marco entre os tratados de relações internacionais. Com o intuito de estabelecer uma relação de trocas e influências políticas, o acordo consistia em um esforço para aproximação cultural entre os EUA e os latino-americanos, cujas relações foram abaladas devido ao forte intervencionismo norte-americano. O plano de inserção do “American Way Of Life” passou a se tornar, de forma estratégica, muito mais sutil.
Como planejado, a Política da Boa Vizinhança teve grande impacto na percepção internacional dos costumes culturais latino-americanos, propulsionados pelo investimento e divulgação do EUA, influenciando a forma com que os próprios países da América Latina passaram a se enxergar perante o mundo. Dentro dessa estratégia, Carmen Miranda foi peça fundamental, sendo a figura que mais representa esse período, e se tornando uma das personalidades mais influentes do Brasil e do mundo.
Segundo Vitor Miranda, Gerente do Cine Humberto Mauro, é muito importante relembrarmos o período da Política da Boa Vizinhança para provocarmos uma discussão sobre a forma como percebemos a manifestação cultural do Carnaval e de onde ela surgiu. “Também vamos explorar a relação entre a figura da Carmen Miranda, que se apropriou de signos e costumes culturais, principalmente afro-brasileiros e baianos, e o cinema da época, que também se apropriou dessa narrativa. A mostra trata do impacto desses filmes, que no decorrer das décadas fomentou uma visão estrangeira do Brasil que reverberou dentro do próprio país na forma como a população se percebia. Carmen Miranda foi por, muitas vezes, acusada de perpetuar estereótipos, e de voltar para o Brasil de forma “americanizada”, explica.
Dentro das divisões propostas pela mostra, destacam-se alguns filmes com atuação de Carmem Miranda: Copacabana (Alfred E. Green, 1947) e Entre a Loura e a Morena (Busby Berkeley, 1943), que captam de forma singular a essência do que foi a personagem imortalizada pela cantora. Apesar de sua singularidade e extravagância, e de certa forma até mesmo por essas características, Carmen se encaixou em um papel que serviu a um momento específico.
“A figura de Carmen Miranda foi descartável para a indústria dos EUA, assim como a própria Política da Boa Vizinhança. A partir do momento em que a Segunda Guerra Mundial torna-se um grande trauma, figuras como Carmen não têm mais espaço em Hollywood”, ressalta Vitor. Nesse sentido, O Príncipe Encantado (Richard Thorpe, 1948) foi uma tentativa de encaixá-la em diferentes papeis, com uma atuação um pouco mais contida, reflexo de uma Política da Boa Vizinhança já decadente. Embora sua carreira cinematográfica estivesse em declínio, a carreira musical de Carmen permaneceu sólida até o seu falecimento em 1955, aos 46 anos.
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