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Mostra de cinema foca modernismo em Minas

Mostra de cinema foca modernismo em Minas
Crédito: Divulgação

O território mineiro tem uma extensa e importante história no cinema nacional. Nomes como o de Humberto Mauro, pioneiro da sétima arte, José Sette de Barros e Sylvio Lanna dão conta da profícua e exímia produção do Estado. Para dar sequência ao programa “O Modernismo em Minas Gerais” e apresentar o panorama inventivo da rica cinematografia mineira, o Cine Humberto Mauro promove, a partir de hoje e até o próximo dia 9, a mostra “Veredas Antropofágicas: Cinema e Modernismo em Minas Gerais”. Com 18 curtas e 11 médias e longas-metragens, a programação, que é gratuita, traz um panorama do passado, presente e aponta os caminhos percorridos pelo cinema mineiro influenciado pelo movimento modernista. A seleção de filmes também estará disponível na plataforma cinehumbertomauromais.com.

O ano de 1927 foi um ano pungente para Minas Gerais em termos de produção e visibilidade artística. Para citar apenas dois exemplos, o período contou com a chegada da revista” Verde”, de Cataguases, um dos periódicos mais importantes para a divulgação das ações modernistas em território mineiro e do Brasil, e com o filme “Tesouro Perdido”, de Humberto Mauro, premiado pela Cinearte como melhor filme brasileiro daquela temporada. Em virtude dessa proximidade, Humberto Mauro também passa a figurar nas páginas da publicação, conseguindo consagrar uma interface entre a literatura e o cinema.

“Ainda que não seja possível classificar a obra de Humberto Mauro aos ideais modernistas, a curadoria traz duas obras de grande destaque na cinematografia do diretor: “Sangue Mineiro”, de 1930, e “O Descobrimento do Brasil”, de 1937, que conta com trilha de Heitor Villa-Lobos”, explica Bruno Hilário, curador da mostra e gerente do Cine Humberto Mauro. A mostra ainda traz inúmeros curtas do diretor, como “A velha a fiar”, considerado o primeiro videoclipe brasileiro.

Outro destaque da programação é o filme “Sagrada Família”, de 1970, do cineasta mineiro Sylvio Lanna. A película apresenta uma família abastada que deixa os confortos da cidade e se desloca para o interior. Fora dos limites que traziam aconchego e bem-estar, os integrantes da família perdem a noção de classe e experimentam algo próximo da barbárie na nova localidade. O cineasta belo-horizontino Geraldo Veloso, que participou da confecção da trilha de “Sagrada Família”, escreveu, em texto encontrado nos arquivos da Cinemateca do MAM/RJ, que o filme “pode se prestar a exames arqueológicos de investigadores que se interessem pela pré-história da contracultura brasileira”.

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Na seleção de longas ainda estão “Bang-Bang” (foto), de 1971, dirigido por Andrea Tonacci, filmado em Belo Horizonte, e “Um Filme 100% Brazileiro”, do aclamado diretor mineiro José Sette de Barros. “O filme de Barros faz parte do cinema mineiro de invenção e utiliza a experimentação e conceitos que estão muito ligados aos ideários modernistas. Em determinado momento da produção, quando a história se desenvolve em Tiradentes, um prisioneiro afirma que comeu o coração de outra pessoa. É um trabalho essencialmente antropofágico”, pontua Bruno Hilário.

Destaque da produção contemporânea, a obra “Quando o Gavião Vem Dançar Conosco: um Ritual Maxacali”, de Isael Maxakali, Suely Maxakali e Renata Otto figura na programação. “É muito importante para a dimensão cinematográfica que as minorias possam ocupar cada vez mais espaço à frente das produções. Termos, dentre os filmes da mostra, um trabalho realizado pelos e sobre os povos originários se liga fortemente ao que os modernistas da Semana de 1922 pensavam sobre a produção artística estar focada nas diversas culturas e linguagens que compõem o nosso País”, diz Hilário.

Eixos – “Veredas Antropofágicas: Cinema e Modernismo em Minas Gerais” foi pensada a partir de três eixos que pudessem entrelaçar o cinema mineiro com as perspectivas e os princípios modernistas de Oswald e Mário de Andrade, Tarsila do Amaral e tantos outros. Ainda insípido no país e como uma produção mais voltada para o registro que para as artes, o cinema não teve destaque na programação da Semana de Arte Moderna de 1922. “O cinema como experimentação só vai acontecer quando os cineastas resgatam o pensamento antropofágico para constituição do que viria a ser o cinema genuinamente brasileiro. Isso se dá com o Cinema Novo e também com o Cinema de Invenção”, explica Bruno Hilário.

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