Mostra tensiona limites dos mundos real e virtual

O Espaço do Conhecimento UFMG recebe a exposição “Quando Offline”, a partir de hoje, das 19h às 23h na Fachada Digital do prédio, na Praça da Liberdade. A mostra de arte tensiona os limites entre ambiente real e virtual, com obras feitas pelo Quando Coletivo, que atua com mulheres com trajetória de vida nas ruas. O coletivo é formado por artistas, não artistas e mulheres cis e trans que transitam pelo abrigo Maria Maria, casa de acolhimento à população de rua em sistema de moradia temporária subsidiada pela Prefeitura de Belo Horizonte (PBH).
A exposição também poderá ser apreciada de forma virtual, no site: www.quandocoletivo.com/offline, apresentando com exclusividade processos criativos e recursos interativos com as obras de arte. Além disso, a mostra conta com medidas de acessibilidade com as obras audiovisuais legendas em português e atributo ALT para descrição de imagens em toda a plataforma virtual.
Os trabalhos da exposição são frutos de laboratórios de arte realizados pelo coletivo em diferentes espaços públicos da cidade e apresentam linguagens como intervenção urbana, colagem, diários de bordo, desenho, arte têxtil, vídeo, derivas, dentre outras ações multidisciplinares. “Quando Offline” traz à tona manifestos que reivindicam mudanças sociais, desejos de mundos mais igualitários e justos.
Um exemplo é a obra “Dona Doa”, cujo trabalho iniciou-se com uma ocupação artística na Praça da Liberdade, propondo uma reflexão coletiva sobre os desejos de doação. As caixas de papelão carregadas de palavras foram o suporte para a construção da personagem da Doa, que circulou pelo território local incluindo uma visita ao Palácio da Liberdade, prédio histórico de 1897. Posteriormente, esse trabalho foi levado ao ambiente virtual, onde ganhou vida em espaços simbólicos, como a sede da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, a Praça São Pedro, no Vaticano e o Palácio do Planalto, em Brasília.
“O nome da exposição, Quando Offline, tem a ver também com o fato de a gente assumir as tensões intrínsecas do coletivo – quem passa ou já passou por situação de vida nas ruas sabe que computador ou celular não faz parte do cotidiano”, explica Chris Tigra, integrante do coletivo. “Diante disso, buscamos experimentar os dispositivos públicos de inclusão digital da cidade, como o Telecentro do Cresan, no Mercado da Lagoinha, que nos deu suporte para atuarmos coletivamente, encarando as limitações entre o físico e virtual dentro do nosso contexto de atuação”, ressalta.
“Ocupar a Fachada Digital do Espaço do Conhecimento UFMG, um espaço público que fica virado para a Praça da Liberdade, vem também da ideia de usar a rua como espaço expositivo, nesse jogo entre o virtual e o real, é um modo de ampliar o acesso também para pessoas em situação de rua”, explica Matheus Couto, integrante do coletivo.
O Quando Coletivo foi criado em 2018 dentro do Maria Maria, abrigo que acolhe mulheres cis e trans em situação de rua em Belo Horizonte. São artistas, não artistas e pessoas com trajetória de vida nas ruas reunidos para refletir, através de diferentes práticas, sobre questões relacionadas à sociedade. Atuam de forma independente, coexistindo através de experimentações artísticas que não exigem aptidões prévias, que evidenciam o diálogo, a troca e o imprevisível. São em média 40 mulheres, o grupo se formou a partir de situações, que a cada vez pode ter nova configuração, respeitando o fluxo da vida de quem transita pela rua e por instituições de acolhimento à população de rua.
Elas desenvolvem de forma independente atividades que já resultaram em obras exibidas em festivais de cinema e bienais de arte, fruto das atividades que colocam os processos criativos em evidência, a arte como suporte para o compartilhamento de narrativas reais e imaginadas. Costura, colagem, fotografia, vídeo, desenho, pintura, cartografias afetivas, os suportes utilizados são plurais, a ideia do Quando é de atuar sem contornos definidos.
As atividades realizadas pelo Quando são acompanhadas pela equipe técnica do abrigo Maria Maria. A exposição é realizada com recursos da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte e tem apoio do Espaço do Conhecimento UFMG. O projeto contou com a produção executiva de Carla Onodera, a coordenação de Matheus Couto, a curadoria e expografia de Chris Tigra e Matheus Couto e design gráfico de Yannick Falisse.
O abrigo Maria Maria integra as políticas públicas para população em situação de rua da Secretaria Municipal de Assistência Social, Segurança Alimentar e Cidadania (SMASAC). O trabalho é executado pela Cáritas Brasileira Regional Minas Gerais por meio de parceria com a secretaria.
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