Variedades

Myriam Dutra

Myriam Dutra
Crédito: Mayara Goulart Lima

CARLOS PERKTOLD*

O leitor atento aos movimentos artísticos das últimas décadas sabe que há mistérios profundos e incompreensíveis na arte contemporânea, partindo de certas instalações à pintura, que ou nos trarão elogios ou entraremos no bestiário do século XXII, tão grandes são suas diversificações.

A impressão que o grande público e parte do especializado têm é que a técnica do desenho com talento, mais a composição equilibrada, número de ouro, mistura de cores e ritmo desapareceram das artes plásticas para dar lugar às obras de algumas pessoas sem talento, mas plenas de vontade de serem artistas.

Por isso, quando encontramos alguém com engenho e arte e sabedora do que faz uma pintura uma obra de arte, é um alívio e uma esperança de que um dia os jovens artistas compreenderão que o abstracionismo passa, por certo, pelo figurativo. Se não fosse assim, abstrair o quê? Myriam Dutra é artista figurativista e segue seu caminho naquilo que faz bem feito. Se ela vai chegar ao abstracionismo é algo desconhecido, mas a artista sabe que ninguém alcança aquele sem passar pelo figurativo.

No 5º Salão Internacional de Pintura em Los Angeles e no meio de pintores e gravadores de vários países, 35 foram selecionados e abriram exposição virtual desde o dia 9 de agosto na prestigiada galeria Menduina Schneider, de Los Angeles. O melhor para o Brasil é que, daquele total, onze foram de brasileiros selecionados pela Gravura Galeria de Arte, de Porto Alegre.

Outro detalhe importante: Myriam Dutra recebeu uma das quatro menções honrosas e, junta com os outros três premiados, farão uma exposição virtual na mesma galeria no próximo ano. É um belo feito a ser registrado, considerando que participaram do evento centenas de artistas da Argentina, Cuba, Costa Rica, Espanha, Estados Unidos, México, Peru, Uruguai, alguns desses países com mais tradição nas artes plásticas e com mais pintores consagrados do que o nosso. Acrescente-se ainda importância ao prêmio pelo fato de que, se a Califórnia fosse um país, sua economia seria a nona no mundo. Seu trabalho premiado ilustra essa matéria.

Nela o leitor se surpreende com a ausência do abstracionismo tão comum em exposições atuais e prova também que a artista conhece a técnica do desenho e o adiciona ao seu talento. É o resultado de mais de quarenta anos em atividade a resultar em outros prêmios internacionais.

Neste quadro premiado seu humanismo é representado pelas figuras, todas distribuídas com ritmo na composição e dois personagens no centro do quadro. A cena representa a simplicidade do cotidiano de um feriado ou de um fim de semana no qual as pessoas colocam entre parêntesis suas angústias diárias, tão costumeiras e tão altas há décadas no nosso país, e vivem o momento como se não houvesse um ritual de novas segundas-feiras toda semana.

Myriam Dutra é um nome a ser lembrado cada vez que se falar de artista talentosa ainda vivendo no Brasil.

*Psicanalista. Integra a ABCA e a Aica

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