“Nastácia” está de volta ao palco do CCBB BH

O premiado espetáculo “Nastácia” retorna hoje ao palco do CCBB BH, para temporada gratuita. A atualidade do romance “O Idiota”, publicado em 1869 por Fiódor Dostoiévski, deu origem à montagem mineira que conquistou os Prêmios Shell (RJ) de Melhor Direção, APTR de Melhor Direção e APTR de Melhor Cenário, além de 34 indicações aos principais prêmios do país em 2019. Em cena, os atores Flávia Pyramo, Chico Pelúcio e Lenine Martins resgatam a história de Nastácia Filíppovna, a mais genuinamente trágica e encantadora de todas as heroínas de Dostoiévski: uma mulher forte e de beleza estonteante, criada por um oligarca que a transformara em concubina aos 12 anos de idade.
A representação da forma mais profunda de uma sociedade patriarcal que acredita que o poder e o dinheiro são absolvição para a prática de abusos, humilhações, violência física e moral contra as mulheres. Nastácia termina morta em uma cama, com uma facada debaixo do seio esquerdo.
O espetáculo fica até 11 de dezembro, sempre de quinta-feira a domingo, às 19h, no Teatro II do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB BH). As sessões dos dias 3 e 10, sábados, contam com intérprete de libras. Após as apresentações dos dias 2, 3, 4, 9, 10 e 11 (sexta a domingo), haverá um bate-papo com os artistas.
A instalação artística de Ronaldo Fraga, que serve de cenário para a peça, ficará aberta para visitação nos dias 3, 4, 5, 7, 8, 9 e 10 de dezembro, das 13h às 17h, no Teatro II, com a exibição de quatro obras de videoarte de Cao Guimarães. Os ingressos para o espetáculo e para a exposição podem ser retirados gratuitamente na bilheteria física do CCBB ou pelo site bb.com.br/cultura.
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“Nastácia” teve a apresentação interrompida após a temporada no Rio de Janeiro, em virtude da pandemia. Após quase três anos, a peça retorna aos palcos, com recursos da Lei Estadual de Incentivo à Cultura de Minas Gerais, para temporada em quatro cidades mineiras: São João del-Rei, Uberlândia, Ipatinga e Belo Horizonte.
A turnê pelo interior do estado repetiu o sucesso de público de 2019: teatros lotados e ingressos esgotados, motivo de entusiasmo e comemoração para o elenco, conforme sublinha Flávia Pyramo: “Voltar para o teatro depois de tudo o que vivemos coletivamente com a pandemia, sofrendo ainda a desvalorização da cultura e a descredibilização dos artistas no Brasil, é uma oportunidade de corroborar a relevância da função artística, além de avolumar o grito contra toda forma de opressão que a peça traz e que o momento exige.” Para o ator Chico Pelúcio, “retornar com Nastácia é a sensação de preservar, de resiliência, de termos passado pelo isolamento, sobrevivido à pandemia. É estarmos dizendo para o público que estamos vivos, com esperança e poesia.”
Com direção de Miwa Yanagizawa, direção de arte de Ronaldo Fraga e dramaturgia de Pedro Brício, Nastácia une teatro e videoarte de Cao Guimarães para contar a história da mais genuinamente trágica e encantadora de todas as heroínas de Dostoiévski. Para Flávia Pyramo, “Interpretar Nastácia é conviver com um coração disparado e olhos alagados. Toda vez que sou atravessada pelo pensamento de reencontrá-la, um estado de êxtase se instala, e junto vem a dor de um útero apertado, pois tenho contado essa história olhando nos olhos de muitas protagonistas dessa tragédia real que é a violência contra a mulher”, afirma.
O atual elenco é formado por Chico Pelúcio (Totski), Flávia Pyramo (Nastácia) e Lenine Martins, substituindo o ator Odilon Esteves na interpretação de Gánia. Flávia Pyramo ressalta que a chegada de Lenine traz muito talento e uma forte presença cênica para o espetáculo.
Concebido entre 1867 e 1869, “O Idiota” está longe de ser anacrônico. Segundo o Datafolha, uma em cada quatro mulheres acima de 16 anos afirma ter sofrido algum tipo de violência no Brasil durante a pandemia de Covid. Isso significa que cerca de 17 milhões de mulheres (24,4%) sofreram violência física, psicológica ou sexual no último ano.
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