Memorial Elke Maravilha pretende fomentar turismo em Itabira

Símbolo de autenticidade e irreverência, Elke Maravilha atraía todos os olhares hipnotizados por sua beleza, os figurinos ousados, a gargalhada inconfundível e uma delicadeza ímpar nos gestos e nas palavras, sem abrir mão de opiniões contundentes e da coragem de lutar pelo o que acreditava. A atriz, modelo, figurinista, apresentadora, entre muitos outros talentos, no Brasil tinha um lugar pra chamar de só seu: a fazenda que passou os primeiros anos em Ipoema, distrito de Itabira, na região Central de Minas Gerais. De origem russa e nascida da Alemanha, ela veio para o Brasil com a família entre 1949 e 1951, no pós-guerra, numa história em que há lances ainda a serem esclarecidos. Foi em Itabira que Elke forjou a sua alma livre e artística e é lá que vai ganhar seu primeiro memorial.
O projeto, sonhado pelo prefeito de Itabira, Marco Antônio Lage (PSB), muito antes de se tornar político, é ousado: desmontar a casa que era a sede da antiga Fazenda Cubango e remontá-la no perímetro urbano de Ipoema. Depois de remontado, o imóvel irá abrigar o Memorial Elke Maravilha. Além de objetos que estavam na fazenda, a expectativa é que parte do acervo da artista seja comprado ou doado ao espaço cultural.
“Elke é um patrimônio de Itabira e principalmente de Ipoema. Ela sempre se referia à fazenda como lugar onde ela se formou, inclusive, como artista. As suas cabeleiras eram inspiradas nas ‘pretas’ que trabalhavam na fazenda quando era criança”, relembra Lage.
A ideia do Memorial surgiu em 2010, durante a primeira edição da Mostra de Cinema de Ipoema (CineIpoema), quando Elke foi homenageada na praça do distrito. O hoje prefeito, e então diretor da montadora Fiat, ficou encarregado de entregar uma placa comemorativa. Naquele dia ele teve a ideia de um memorial, logo rechaçada pela artista que dizia que a homenagem só deveria ser feita depois que ela morresse. O plano ficou adormecido até a morte da atriz, em 2016. Várias tentativas de acordo com a família de Elke não foram bem sucedidas até que, no ano passado, a notícia de que a casa da fazenda seria demolida deu novo fôlego ao projeto.

A área da fazenda, assim como outros terrenos vizinhos, estavam sendo comprados pela mineradora Vale que iria descaracterizar os imóveis. “Essa é uma área contígua à mineração da Vale em Itabira. Para a mineradora só interessava o terreno limpo e entendemos que era preciso correr para preservar o local. Fizemos um pré-tombamento da Fazenda Cubango e fomos negociar. De um lado, com a Vale, que não se interessou de imediato pelo projeto e, de outro lado, a família de Elke, para saber como e onde estava o acervo”, destaca.
Aos poucos, a mineradora foi convencida e vai bancar o projeto de desmontagem e montagem da casa, cujo orçamento não foi divulgado. O prazo de execução previsto é o fim do ano que vem. O investimento não faz parte das verbas de reparação relativas aos rompimentos das barragens de Fundão, em Mariana; e Córrego do Feijão, em Brumadinho, respectivamente em 2015 e 2019.
Além de espaço cultural com uma exposição permanente com objetos recuperados da fazenda, objetos que ajudem a contar a história de Itabira e itens do acervo de Elke Maravilha, o espaço também deve abrigar um centro de formação em moda e projetos culturais.

“Queremos, a partir da homenagem à Elke e com a força do nome dela, movimentar a economia de Ipoema e de Itabira por meio do turismo e também da qualificação da população. Entendemos que o turismo já é a maior mola propulsora da diversificação econômica da cidade. A mineração tem prazo para acabar e precisamos desenvolver outras matrizes e, com certeza, a economia criativa é a nossa principal vocação”, afirma o prefeito.
Elke integra masterplan de turismo de Itabira
Historicamente, o município de Itabira sempre teve uma economia fortemente dependente da extração de minério de ferro. A exaustão das minas e o fim da atividade impõem o desenvolvimento de outras vocações e fomento a atividades diversas. Neste cenário, a indústria do turismo é vista como uma das mais potentes e o Memorial Elke Maravilha é parte importante dentro do planejamento estratégico de Itabira.
Conhecida internacionalmente também como a terra natal de Carlos Drummond de Andrade, a cidade estabeleceu três eixos para o desenvolvimento da cadeia produtiva do turismo:
- Turismo literário e cultural
- Turismo rural
- Geoturismo
A estratégia também visa destacar a importância e originalidade dos distritos. “O turismo rural já está acontecendo com a abertura das fazendas para visitação e a revitalização do Museu do Tropeiro e o Museu da Farmácia em Ipoema. O turismo literário é um grande orgulho. Na sede do município, temos os Caminhos Drummodianos, que recebem turistas do mundo todo e no turismo de mineração teremos o maior geomuseu do mundo, explorando as minas e cavas exauridas. No distrito de Senhora do Carmo vamos criar o Museus de Artes Sacras e estamos asfaltando a ligação com Ipoema que dará acesso também às trilhas e cachoeiras”, pontua o prefeito de Itabira.
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