“Ninguém sabe o meu nome” aborda racismo

O dilema de uma mãe preta em falar sobre o racismo na sociedade com o filho é o ponto de partida da peça “Ninguém Sabe o Meu Nome”, que retorna aos palcos no Galpão Cine Horto, em Belo Horizonte, no próximo final de semana. A produção, aclamada por público e crítica, tem idealização e interpretação de Ana Carbatti (foto), texto de Mônica Santana e Ana Carbatti, além da direção de Inez Viana e Isabel Cavalcanti.
O monólogo reflete sobre os códigos racistas tácitos da sociedade, seus impasses, impactos e possíveis propostas de reparo. Em meio a isso, o desafio de uma mãe preta de meia idade, Iara, para educar e orientar seu filho pequeno, Menino, diante de uma sociedade que não o reconhece como igual, mesmo em um País, o Brasil, que tem a maior população preta do mundo fora do continente africano.
Em cena, Ana Carbatti se multiplica em muitas vozes e corpos, cujas expressões são as premissas do projeto, que é apresentado e patrocinado pelo Banco BV.
Da reflexão ao entretenimento, provocando engajamento e empatia, distinguimos o problema do preto e o problema do branco. Iara só quer ter a certeza de que seu filho vai chegar à idade adulta e se tornar um cidadão comum e respeitado. A sua angústia sintetiza a de milhões de mães no Brasil e no mundo – conta a premiada atriz, indicada ao Prêmio Shell e ao APTR pelo papel.
Tudo começa quando ela acorda de um pesadelo onde ocorre o desaparecimento de Menino. A partir daí, começa por questionar sua própria existência e sua função na sociedade, como mulher e mãe: educar seu filho para que se desenvolva como um indivíduo que cresça, floresça e contribua para a sociedade ou despi-lo, ainda em tenra idade, de sua inocência de modo a prepará-lo para o enfrentamento de uma sociedade que não o reconhece como igual.
Em uma conversa íntima com o público, ela discorre sobre suas principais angústias, medos e esperanças, falando através de todos os seus sentidos, se expondo e expondo seu corpo tão marcado quanto belo, tão liberto quanto invisível.
“É urgente refletir e falar sobre o racismo no Brasil e sobre a violência que sofre a população preta, grande maioria no país. É fundamental repensar a história brasileira: um país fundado a partir do massacre violento de muitos, por parte de uma elite privilegiada. Nesse momento, em que vivemos um período de retrocesso político atroz, de guerra psicológica, emocional e moral, é fundamental esse debate no teatro, que é o lugar em que a nossa humanidade ainda sobrevive. E onde ainda é possível um diálogo amoroso”, ressaltou Isabel Cavalcanti.
Sem deixar de lado o humor e a empatia, o espetáculo traz uma reflexão sobre como a sociedade ainda precisa compreender sua responsabilidade e agir para reparar sua dívida histórica com a população preta.
Serviço – As apresentações acontecem neste sábado (20), às 20h, e no domingo (21), às 19h, no Galpão Cine Horto (rua Pitangui, 3.613, Horto, Belo Horizonte). Os ingressos custam R$ 30 e R$ 15 (meia-entrada). A classificação etária indicativa é 12 anos galpaocinehorto.com.br.
Ouça a rádio de Minas