No centenário de Paulo Mendes Campos

Um dos nove filhos de Maria José (leitora voraz e quem lhe apresentaria os grandes autores, sobretudo da literatura portuguesa) e do médico Mário Mendes Campos, da Academia Mineira de Letras, Paulo Mendes Campos nasceu em 28 de fevereiro de 1922, em Belo Horizonte, vindo a morar em Saúde, hoje o município de Dom Silvério, na Zona da Mata mineira, dos dois aos seis anos, por conta da profissão do pai.
De volta à capital do Estado, estudou no “Barão do Rio Branco” e no “Colégio Arnaldo”. Em Cachoeira do Campo, distrito de Ouro Preto, esteve três anos como aluno do Colégio Dom Bosco, do qual guardou as piores recordações, embora houvesse se dado aí o surgimento de seu interesse pela literatura. Passando o ano de 1937 em São João del-Rei, onde conheceu Otto Lara Resende, estudou no Colégio Santo Antônio. De volta à Capital, fez amizade com Fernando Sabino e Hélio Pellegrino, formando o grupo que ficaria famoso como ‘os quatro cavaleiros de um íntimo apocalipse’, expressão criada por Otto, que também fazia parte dele.
Atraído por áreas distintas, chegou a cursar odontologia, direito e veterinária, sem concluir nenhum deles. Inquieto, iniciou, sem terminar, o curso da Escola de Preparação de Cadetes da Aeronáutica, em Porto Alegre. Incentivado pelo mesmo João Etienne Filho que ajudara Otto no começo da vida, Paulo Mendes Campos passou a escrever em “O Diário”, onde estreou com um texto chamado “Raul de Leoni, poeta enganador”. Em pouco tempo, tornou-se diretor do suplemento literário da “Folha de Minas”.
Por essa ocasião, já amante, sobretudo, de poesia, decidiu ir ao Rio de Janeiro conhecer o chileno Pablo Neruda, de passagem pela cidade, de onde Paulo nunca mais voltou. Hospedado inicialmente na casa de Fernando Sabino, e, depois, na de Vinícius de Moraes, só pôde morar sozinho bem depois: primeiro num modesto hotel na Lapa, depois numa pensão no Leme. Indicado por Carlos Drummond de Andrade, trabalhou no Instituto Nacional do Livro. Com a ajuda de Cyro dos Anjos, atuou como fiscal de obras no Instituto de Previdência e Assistência dos Servidores do Estado. Ao longo da vida, ainda dirigiria a Divisão de Obras Raras da Biblioteca Nacional, além de integrar os quadros da Empresa Brasileira de Notícias, hoje Agência Brasil, onde se aposentou como técnico de comunicação social.
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Na imprensa carioca, escreveu para mais de trinta periódicos, entre os quais o “Correio da Manhã”, o “Diário Carioca”, “O Jornal”, “Jornal do Brasil”, “O Pasquim” e a revista “Manchete”, consagrando-se como um dos melhores cronistas de sua geração. Flávio Pinheiro, organizador das obras completas do autor, é quem lança um olhar acurado sobre as suas crônicas, muitas vezes classificadas como ‘prosa poética’: “A degenerescência pegajosa e o apego a súmulas aforísticas comprometeram ao longo do tempo a reputação da prosa poética, mas na literatura brasileira ela alcançou culminâncias com Paulo Mendes Campos. Com horror a vulgaridade e invejáveis recursos vocabulares, sua pontaria lírica era de alta precisão. (…) No cenário brasileiro também frequentado por Manoel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade em suas encarnações de cronistas, Paulo conseguiu um lugar singular, infenso a surtos de diabetes que acometeram o gênero.”
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