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Nos 290 anos de Cláudio Manuel da Costa

Nos 290 anos de Cláudio Manuel da Costa
Créditos: Sarah Torres

ROGÉRIO FARIA TAVARES*

Nascido em 5 de junho de 1729 no distrito da Vargem do Itacolomi, pertencente à freguesia da Matriz de Nossa Senhora da Conceição da Vila do Carmo, hoje Mariana, Cláudio Manuel da Costa era filho do português João Gonçalves da Costa e da paulista Teresa Ribeiro de Alvarenga. Passou a infância em Minas e cerca de quatro anos de sua juventude no Rio de Janeiro, vindo a matricular-se, em 1749, na Universidade de Coimbra. Aluno do curso de Cânones, formou-se em 19 de abril de 1753, quando regressou a Minas. Era, então, um jovem bacharel de 24 anos. Por cerca de três décadas, viveu com Francisca Arcângela de Sousa, que nasceu escrava e, ao que tudo indica, obteve alforria quando deu à luz o primogênito de Cláudio, tendo sido a companheira de sua vida toda e mãe de seus cinco filhos.

Cláudio Manuel da Costa foi um homem rico. Dos advogados de Mariana e Vila Rica, era o proprietário do segundo maior plantel de escravos. Também esteve entre os que possuíam mais propriedades fundiárias. Se suas conquistas financeiras lhe garantiram o conforto material de que gozou enquanto viveu, foi, sem dúvida, a sua produção poética que garantiu sua passagem à posteridade. Se sua participação na Inconfidência Mineira a ele reservou um lugar de destaque na história do Brasil, foi sua atividade literária que a ele conferiu posição definitiva no panorama da literatura escrita em língua portuguesa.

Em seu importante livro, “Metamorfoses – a poesia de Cláudio Manuel da Costa”, Edward Lopes situa Cláudio como um poeta de transição, um dos mediadores entre as duas primeiras grandes etapas da literatura nacional, a saber: a literatura portuguesa feita no Brasil e a literatura brasileira propriamente dita. Ao seu lado, Basílio da Gama, Alvarenga Peixoto, Santa Rita Durão, Tomás Antonio Gonzaga e Domingos Vidal Barbosa – grupo também conhecido como a “Escola mineira”. Opina o autor que foram os mencionados escritores os artífices da ultrapassagem histórica da fase do Brasil português para a fase do Brasil brasileiro.

Para o referido autor, Cláudio Manuel da Costa foi quem introduziu a reforma neoclássica em Portugal, o neoclassicismo no Brasil e quem iniciou a fase brasileira da literatura produzida no país. Edward Lopes o chama de ‘inaugurador de estilos’, tanto na poesia lírica quanto na poesia épica, com a ‘Fábula de Ribeirão do Carmo’ e o célebre ‘Vila Rica’. Baseado em Wilson Martins, o pesquisador ainda qualifica Cláudio como o autor do primeiro manifesto literário brasileiro, por conta do ‘Prólogo ao leitor’ que fez imprimir à frente de suas Obras Poéticas, texto em que faz considerações teóricas sobre o tema da arte. Finalmente, Edward Lopes posiciona Cláudio Manuel da Costa como segundo maior sonetista – depois de Camões – da língua portuguesa até o final do século 18 e, junto com Gregório de Matos e Tomás Antonio Gonzaga, um dos três únicos poetas de gênio que teve o Brasil colônia.

Como é sabido, Cláudio Manuel da Costa morreu aos sessenta anos, em 1789, na Casa dos Contos, em Vila Rica, de causa até hoje discutida por diferentes correntes historiográficas. Mais que o modo como faleceu, o que importa, realmente, é a potência da poesia que legou à posteridade.

  • Jornalista. Da Academia Mineira de Letras
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