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Novo balé do Grupo Corpo tem trilha de Gilberto Gil

Novo balé do Grupo Corpo tem trilha de Gilberto Gil
Crédito: JOSÉ LUIZ PEDERNEIRAS

Como em todas as criações do coreógrafo Rodrigo Pederneiras, os movimentos do novo balé do Grupo Corpo, “Gil”, nasceram da música. Mas a trilha engendrada por Gilberto Gil para o espetáculo, a convite do diretor artístico Paulo Pederneiras, carrega um paradoxal desafio ao coreógrafo: ali estavam, juntos e indissociáveis, Gilberto Gil e um compositor inteiramente novo.

“Era um Gil que eu não conhecia e, ao mesmo tempo, o Gil de quem sou tiete desde que ouvi sua música pela primeira vez”, diz Rodrigo. A solução do paradoxo – fenomenal síntese – sobe à cena em 7 de agosto, estreia nacional do novo espetáculo no Teatro Alfa, em São Paulo, seguindo para Belo Horizonte, Rio de Janeiro e Porto Alegre.

A fagulha inicial para erguer a coreografia veio, então, de fora da música – um gesto inicial, buscado no candomblé. “Gil é filho de Xangô e usei como ponto de partida o movimento associado à presença do orixá: uma das mãos do bailarino bate no peito e a outra, nas costas”, conta o coreógrafo. “E assim o balé começou a se construir”, ressalta.

A “riquíssima trilha”, nas palavras de Rodrigo, se traduziu nos duos, trios e conjuntos que se alinham e desarmam, nos uníssonos e contrapontos gestuais, peças sempre renovadas do vocabulário marcante do coreógrafo. Mas “Gil” não tem o clássico momento do pas-de-deux, “A trilha não traz o tradicional adágio, a parte mais lenta da música, onde frequentemente está o pas-de-deux”. Curiosamente, a única criação de Rodrigo que também não tem o clássico dueto é “Sete ou Oito peças para um Ballet” (1994), o programa complementar com trilha de Philip Glass/Uakti.

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As muitas singularidades de “Gil” já haviam começado na proposta de Paulo Pederneiras ao compositor. “Gil sempre esteve no nosso radar”, diz o diretor artístico. “Na primeira conversa, já me veio a ideia de sugerir que a coreografia se chamasse “Gil”. Normalmente o músico tem liberdade total – e agora não foi diferente – mas a sugestão que se debruçasse sobre a própria obra se consolidou naquele momento. E “Gil” se inscreve, então, entre os compositores que dão nome a coreografias do Grupo Corpo – já tínhamos feito essa homenagem a Bach, Nazarethe Lecuona”.

“Recebi o convite do Grupo Corpo com alegria mas também com certa preocupação na medida em que a ideia era a de denominar a peça Gil, concentrar a criação no trabalho, que tem muitas influências baianas, do samba, da música pop em geral” conta o compositor, que enxerga no arco da trilha de 40 minutos quatro temáticas, ou ambientes musicais – a de um choro instrumental; uma abordagem camerística, com inspiração “em Brahms ou Satie”,; um terceiro momento de liberdade improvisadora e, finalmente, uma construção abstrata baseada em figuras geométricas. “Círculo, triângulo, retângulo, pentágono, a volta ao círculo e finalmente a dissolução numa linha reta”, explica Gilberto Gil.

Pontuam os 40 minutos da trilha frases de canções de Gilberto Gil – retrabalhadas, mas perfeitamente reconhecíveis nas suas variações. Ali estão fragmentos de “Aquele Abraço”, “Realce”, “Tempo Rei”, “Andar com Fé”, “Toda Menina Baiana”, “Sítio do Picapau Amarelo”, “Raça Humana”. Nos arranjos, se alternam os tambores ancestrais e as distorções do aparato eletrônico; o afoxé e o naipe de sopros de pegada jazzística; a modinha e o berimbau. As citações bailam entre si, entrecruzando-se e dialogando enquanto o arco da trilha avança. “Com a divisão em quatro segmentos, atendemos à alternância entre movimentos mais densos, mais rítmicos, e momentos mais suaves, mais baladísticos. Ouvindo o resultado final, percebo que há muitos elementos da minha dimensão rítmica mesmo, elementos da Bahia, da música afro-baiana”, conclui o compositor. (Da Redação)

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