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Obrigado, Lana

Obrigado, Lana
Crédito: Arquivo Pessoal

Na noite de terça-feira fui surpreendido com mais uma notícia triste nesse tempo de pandemia, que já matou mais de 460 mil pessoas. É quando perdemos familiares, parentes e amigos que nos damos conta dessa tragédia, que no Brasil ganha contornos ainda dramáticos, com a condução da crise sanitária pelo Palácio do Planalto.

Se ele estivesse lendo essas linhas, estaria agora me questionando, me chamando de esquerdista, lulista e que o “capitão” está fazendo de tudo para a garantia da vacina e que os culpados “são os governadores e prefeitos, que roubaram milhões”.

Eu não ligava para o seu negacionismo na altura de sua idade, pois preferia sempre guardar as boas lembranças de momentos que vivenciamos juntos. A última delas, há uns dez anos, foi na volta do Rio de Janeiro e, preso na BR-040 por conta de deslizamentos de terras e inundações na pista, fui socorrido por ele em sua casa, em Conselheiro Lafaiete, terra que adorava. Comemos leitão assado, tomamos cachaça, falamos de política, dos casos dos tempos do jornal Diário do Comércio, onde nossa amizade começou.

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Devo a ele muito do que aprendi como jornalista. A convite do Durval Guimarães, entrei no DC em 2000, como rádio-escuta. Como os demais de minha geração, fui promovido a foca, depois repórter, editor, até adquirir musculatura e casca e ser cooptado pelos outros jornais da época.

O DC sempre foi uma escola do jornalismo mineiro e eu tive esse privilégio de contar com o apoio e a ajuda de vários profissionais que por lá estavam: Hudson Brandão, Sidney Martins, Eurico, Mantega, Clério, Amaury Xisto, entre outros.

Fernando Lana foi um desses. Foi ele meu primeiro grande incentivador. No início dos anos 2000, o Diário do Comércio era mais uma vez reformulado, com edição em cores e uma editoria de esportes para popularizar o mais tradicional veículo especializado em economia da cidade.

Foi nesse contexto que passei a assinar minhas primeiras matérias. Ele, como cruzeirense apaixonado por futebol, me fazia companhia na redação até o fim dos jogos para fechar o material, saindo de madrugada do prédio da avenida Américo Vespúcio, rumo ao buteco da esquina.

Depois, já como repórter, era instigado a apurar suas pautas, muitas delas vindas das conversas de botequim com os amigos de Lafaiete, pra onde ia todos os fins de semana. Como não lembrar da chegada à redação com a pochete preta de couro a tiracolo, os toques frenéticos com os indicadores no teclado do computador, ou a coçada no bigode sempre em que ia comentar um causo ou lembrar das épocas de repórter nas sucursais do O Globo e Folha de São Paulo?

Lana graduou-se em Jornalismo pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Passou pelo Jornal de Minas, sucursais do O Globo e da Folha de São Paulo, TV Globo, Estado de Minas e TV Alterosa até chegar ao DC onde encerrou sua carreira na grande mídia como editor geral. Ocupou ainda cargos no governo Aécio Neves, nas secretarias de Estado de Ciência e Tecnologia e de Desenvolvimento Econômico.

Foi também editor substituto da página de Opinião do jornal O Tempo, quando cobria férias de outro professor, o jornalista Vitor Almeida. Com a aposentadoria, se refugiou na cidade natal e passou a escrever em seu próprio blog.

Independentemente de nossas divergências político-partidárias, sempre o admirei, respeitei e sou grato por tudo que fez por mim e por colegas como Leonardo Augusto, Gustavo Nolasco, Paulo Henrique Lobato, Ciara Albernaz, Theo Felipe, e tantos outros que a emoção não me deixa recordar. À Getúlia e à Lígia, meus sinceros sentimentos. Descanse em paz, professor.

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